SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Unicamp (Universidade de Campinas) e a empresa de biomedicina Biomab estudam uma nova tecnologia que permite a detecção rápida e barata do HPV (papilomavírus humano), associado a alguns tipos de câncer, como o de colo uterino.
Hoje, o exame ginecológico responsável pela identificação de lesões ou do vírus HPV é o papanicolau, que consiste na coleta de células do colo do útero.
Os primeiros experimentos foram realizados em laboratório. A etapa atual começou há cerca de dois meses. Os testes pré-clínicos são feitos com 60 amostras de papanicolau, fornecidas pelo Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), em parceria com a professora Maria Del Pilar Estevez Diz. As mulheres concordaram em participar das pesquisas sem serem identificadas.
O grupo inclui 20 pacientes com algum tipo de câncer ginecológico que não sejam o de colo de útero -é um controle negativo, usado para comparação; 20 mulheres com lesões uterinas iniciais e 20 com câncer no útero em estado avançado. Os pesquisadores não saberão quais amostras estarão em cada divisão.
Na maioria das vezes a infecção cervical pelo HPV é transitória. Quando a infecção persiste, é causada por um subtipo viral oncogênico, que pode causar lesões e a progressão para o câncer de colo de útero invasivo.
A expectativa é que a nova tecnologia seja capaz de identificar grupos de alto risco.
“O foco do teste é o grupo das lesões iniciais, que é a mulher totalmente assintomática, que vai desenvolver o câncer de colo de útero daqui a alguns anos, mas que identificamos antes desse câncer se desenvolver”, explica o oncologista e o oncogeneticista Bruno Andraus Filardi, sócio-fundador da Biomab.
O teste detecta duas proteínas-chave do HPV, L1 e E6 -esta, quando prevalente, pode indicar maior probabilidade de lesão causada pelo vírus.
“Usamos uma biblioteca com centenas de pequenos peptídeos, que são pedacinhos de proteínas. Dentro dessas centenas, identificamos alguns que reconhecem L1 e E6 de HPV. Uma vez que detectamos isso, passamos a desenvolver a metodologia em si”, afirma André Damasio, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e responsável pelo invento.
A tecnologia não será capaz de identificar todos os mais de 150 tipos de HPV. Por isso, o foco dos pesquisadores são os grupos 16 e 18, causadores de 95% dos casos de câncer de colo de útero.
O exame ginecológico responsável pela identificação de lesões ou do vírus HPV é o papanicolau, que consiste na coleta de células do colo do útero.
“Se funcionar, a metodologia poderá diminuir o número de papanicolau, ou seja, só serão encaminhadas para o exame as pacientes que apresentarem algum sinal no teste. Vai diminuir o custo e a rotina delas”, afirma Damasio.
O teste é simples. “Uma enfermeira colhe o esfregaço do colo do útero. Em vez de fixar numa lâmina e mandar para análise laboratorial ou para saber se tem DNA viral naquela amostra, ela coloca numa solução, deixa ali um minutinho, pega essa solução, pinga no teste, como um teste de gravidez, e o resultado vai dar positivo ou negativo”, explica o oncologista.
“A nossa ideia é conseguir identificar as mulheres que estão em transformação para câncer, antes das alterações morfológicas, que são o que o papanicolau consegue ver, mas com muito mais certeza e precisão do que um teste de DNA feito hoje, e por um preço muito menor”, diz Filardi.
A previsão é que os primeiros resultados sejam divulgados no primeiro semestre de 2025. Se a tecnologia mostrar alta precisão, a Biomab irá avaliar as formas mais viáveis de produção e comercialização do teste.
“Podemos licenciar o invento para empresas que já produzem testes rápidos ou então fabricarmos os materiais em parceria com outros laboratórios”, planeja Filardi.
De início, o câncer de colo de útero é assintomático. Geralmente, os sintomas só aparecem quando a doença se tornou invasiva -sangramento vaginal, dores persistentes nas costas, perna ou pélvis, perda de peso e de apetite, fadiga, corrimento vaginal com mau cheiro e desconforto vaginal, inchaço das pernas.
Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), no Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo mais incidente entre as mulheres. Para cada ano do triênio 2023-2025 foram estimados 17.010 casos novos.
PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress