RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – A eleição deste domingo (6) em São Paulo é marcada pela tentativa do PSD de Gilberto Kassab de obter uma nova hegemonia nas prefeituras paulistas e pela desidratação de candidatos vivida pelo PSDB, outrora partido dominante no estado.
A legenda de Kassab lançou 408 candidatos a prefeito nos 645 municípios paulistas, muito à frente dos 291 do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos 207 do Republicanos, legenda do governador Tarcísio de Freitas. Em seguida aparecem o MDB, com 178, o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com 141, e o União Brasil, com 128.
Kassab, além de presidir o PSD, é secretário de Governo da gestão Tarcísio no estado.
Neste ano, o PSDB tem candidatos em somente 58 municípios e é apenas o décimo colocado no ranking composto por 29 siglas, atrás também de PSB, Podemos e PP. Em 2020, quando o partido tinha o então governador João Doria e vinha de 26 anos administrando o estado, foram 407 candidatos.
Na eleição de quatro anos atrás, o partido elegeu 172 prefeitos e viu o total subir para 238 até 2022, sob o comando de Doria e Rodrigo Garcia, que fracassou na tentativa de reeleição. Porém, desde o ano passado, a sigla desmoronou e tem hoje só 28 prefeituras.
A debandada se deu principalmente em direção ao PSD de Kassab, principal articulador político de Tarcísio, e em pequenos municípios, mais dependentes de recursos estaduais e federais. No ano passado, já eram 329 prefeitos, ou mais da metade dos municípios paulistas, filiados à sigla.
O crescimento do partido no governo Tarcísio gerou críticas de outras legendas, mas Kassab afirmou que em nenhum momento utilizou “do governo para beneficiar nenhum partido, nem o PSD nem nenhum outro da base”.
Mostra de que o cenário de aumento ocorreu nas pequenas localidades é que, nas dez cidades mais populosas de São Paulo, o partido só tem candidatos a prefeito em duas delas: Ribeirão Preto e São José dos Campos -oitava e nona maiores. Em Sorocaba, Osasco e São José do Rio Preto tem candidatos a vice.
Na Grande São Paulo, porém, o partido apoia Jorge Wilson (Republicanos), em Guarulhos, e Alex Manente (Cidadania), em São Bernardo do Campo, e também não tem nomes a prefeito ou vice em São Paulo (apoia a reeleição de Ricardo Nunes, MDB), Campinas e Santo André.
Uma das disputas em que o PSD tem forte chance de vitória ainda no primeiro turno é em Ribeirão Preto, cidade onde o deputado federal Ricardo Silva liderou todas as pesquisas eleitorais até o momento. Se a vitória for confirmada, será a maior cidade paulista governada pelo partido a sair das urnas.
Adversários nas últimas semanas afirmaram em suas campanhas que votar em Ricardo seria votar em Kassab, e que isso já teria dado errado na cidade -em alusão às gestões de Dárcy Vera (2009-2016), que era muito ligada ao líder do partido e foi cassada e presa faltando pouco menos de quatro meses para concluir seu mandato.
Em São José dos Campos, o partido também tem chances de sucesso, segundo as pesquisas mais recentes, com o prefeito Anderson Farias, que busca a reeleição. Apesar disso, o cenário na cidade é complexo.
Enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apoia o ex-prefeito Eduardo Cury (PL), Kassab faz campanha para Anderson. O atual governante assumiu o cargo depois de o então prefeito, Felício Ramuth (PSD), renunciar e se transformar em vice-governador de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O crescimento da legenda incomoda o entorno do ex-presidente Bolsonaro, e o partido se tornou alvo preferencial de ofensivas do PL –ambos querem se consolidar como o partido com maior número de prefeituras nas eleições 2024. Aliado de Bolsonaro, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) chegou a gravar um vídeo no qual chama o PSD de Kassab de inimigo escondido.
Bolsonaro foi a São José para apoiar Cury, que é um exemplo da desidratação tucana em São Paulo. Foi prefeito de São José de 2005 a 2012 e migrou para o PL após permanecer filiado mais de 30 anos ao PSDB, legenda pela qual foi deputado federal por dois mandatos (2015-2023).
Anderson, antes de ser eleito vice há quatro anos, foi chefe de gabinete do próprio Cury na Câmara dos Deputados e secretário municipal (Administração e Transportes) quando o ex-tucano governou a cidade.
Em outras importantes cidades do interior, o partido não é cabeça de chapa, mas tem chances de vitória, como em Campinas, onde apoia a tentativa de reeleição do prefeito Dário Saadi (Republicanos), e em Sorocaba, onde o também prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) aparece nas pesquisas com possibilidade de vencer já neste domingo -e tem um vice do PSD.
MARCELO TOLEDO / Folhapress