SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em sua primeira eleição para um cargo executivo, após duas votações expressivas como deputada federal, Tabata Amaral (PSB), 30 anos, se lançou dizendo ser uma alternativa sensata aos eleitores, desgostosos com a polarização raivosa.
Chega ao dia da votação em quarto lugar nas pesquisas, fortalecida para futuros embates ao acumular confrontos contra Pablo Marçal (PRTB) e Guilherme Boulos (PSOL) cada um em um polo do espectro político.
Promete não aceitar cargo na gestão do vencedor das eleições e refuta comparação com Simone Tebet (MDB), que topou ser ministra do Planejamento do governo de Lula (PT), após figurar como terceira via na eleição presidencial de 2022.
“Não vou abrir mão de princípio nenhum por causa de um cargo”, disse a candidata do PSB, durante uma sabatina promovida pelo site O Antagonista, em setembro. “Tenho muito respeito pela Simone Tebet, mas somos pessoas muito diferentes.”
Tabata cita que para gerir a cidade é preciso conversar com os governos federal e estadual. Diz ter diálogo aberto com Lula e Tarcísio de Freitas (Republicanos) e repetiu que “nem Lula, nem Bolsonaro serão prefeitos de São Paulo” ao minimizar o apoio que eles dão, respectivamente, a Boulos e Nunes.
Ao longo da campanha, não cresceu nas pesquisas como o adversário Marçal. Tentou dialogar com parcela de indecisos nas pesquisas espontâneas para tentar avançar nos momentos finais da campanha.
Também apostou no eleitorado feminino, parcela da população que detém maior parte de intenções de votos. Coloquem “juízo na cabeça dos maridos” nas eleições, pediu ao longo da campanha. Defendeu que as chefes de família sãos as que mais sentem na pele a ausência quando os serviços públicos falham.
Foi constantemente questionada sobre quem apoiaria no segundo turno. Respondia que ainda estava no páreo, mas na reta final passou a afirmar que vai optar pelo postulante “menos pior”. Ela não deve fazer campanha nem pedir votos pelo escolhido.
Aliados afirmam que ela votará em Boulos, caso ele vá ao segundo turno contra Marçal ou contra Ricardo Nunes (MDB).
Ao longo da campanha, Tabata foi a primeira a publicar ataques contra o autodenominado ex-coach e animou as redes sociais com vídeos em tom de “true crime”. Neles, ela aparece vestida com uma jaqueta de couro e desenhava uma suposta relação do candidato com o crime organizado.
Usou a popularidade Marçal como trampolim para garantir que as pessoas a conhecessem e para desfazer a imagem de menina jovem e inocente. Na campanha, sua juventude foi citada por rivais, que a chamaram de adolescente e “PT Kids”. Os apelidos não pegaram como Chatabata, que foi até incorporado pela candidata.
Tabata divulgou em agosto que sua campanha detectou irregularidades na forma com a qual Marçal conseguiu milhões de seguidores em poucos dias naquele mês. A deputada comparou o uso das estratégias do influenciador com o antídoto de cobra.
“Se para chamar atenção para o perigo que é o Marçal, eu vou ter que usar as táticas que ele vem usando, vamos usar também”, disse em entrevista a rádio Eldorado.
O marqueteiro da candidata, Pedro Simões, analisa que enquanto Nunes e Boulos tentavam ignorar Marçal, a campanha do PSB fez questão de marcar o confronto.
“É uma falácia achar que se você não falar do Marçal, ele não vai aparecer. Não havia a menor dúvida que ele ia crescer. Ele era um candidato muito mais adequado para o bolsonarismo do que o Nunes”, diz.
Na pré-campanha, Tabata articulou uma parceria com José Luiz Datena, convidado para ser seu vice. O jornalista, porém, foi lançado como candidato pelo PSDB.
Ela lamentou o episódio, mas disse manter amizade com o tucano. A postura é bem diferente em relação a Boulos. O movimento pelo voto útil levantado por apoiadores do candidato do PSOL irritou a deputada.
Na campanha, protagonizou embates com o candidato do PSOL, de quem fez cobranças por suas mudanças de discurso em relação à legalização das drogas, Guarda Civil armada e ditadura na Venezuela.
Durante os debates, a deputada federal manteve postura incisiva contra os adversários. Apenas Datena foi poupado das críticas, pois ela vislumbrava um possível apoio em caso de desistência dele.
Nos encontros entre os adversários marcados pelas agressões e xingamentos, ela chamou atenção pela postura mais centrada, que apresentava as propostas principalmente na área da educação, moradia e saúde.
A candidata passou parte da campanha em quinto lugar nas pesquisa de intenção de voto, ultrapassou Datena e consolidou o descolamento com o apresentador. No Datafolha deste sábado (5), ela apareceu com 11% dos votos válidos, atrás de Boulos, Nunes e Marçal e à frente de Datena.
Seu marqueteiro avalia que a eleição a deixou mais fortalecida. Ele defende que Tabata conseguiu expor sua história de vida para um público maior e acredita que ela conquistou parte da esquerda. Cita um eleitorado que torcia o nariz para ela, que era rotulada de “patricinha liberal”. “Essa ideia parece ter morrido”, diz Simões.
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5 MOMENTOS DA CAMPANHA DE TABATA
1 – Saída de Datena
Tabata articulava uma chapa com o jornalista José Luiz Datena como vice e sugeriu que ele se filiasse ao PSDB. Porém, o partido decidiu lançá-lo a candidato. A deputada federal, então, indicou a professora Lúcia França como vice.
2 – Dark Tabata
Nas redes sociais, Tabata atraiu seguidores e visualização com vídeos em que vestida uma jaqueta de couro e mostrava denúncias contra Pablo Marçal e a relação dos aliados do influenciador com o crime organizado.
3 – ‘Efeito Marçal’
O coach criticou a candidata em diversos momentos, atribuiu a ela a culpa pelo suicídio do pai, disse que ela não poderia governar São Paulo por não ser mãe e nem casada e deu apelidos como “PTKids” e “Chatabata”, este último adotado pela própria deputada.
4 – ‘Filha da puta’
Após debates marcados por agressões e xingamentos, Tabata demonstrou frustração e falou palavrões após o embate promovido pelo podcast Flow. “Eu tava como uma filha da puta falando de proposta e só vão falar de soco”, disse.
5 – Voto inútil
Após apoiadores de Guilherme Boulos lançaram um manifesto pelo voto útil, a deputada federal criticou o movimento. Disse ser “voto inútil”, uma vez que as pesquisas indicam que o deputado do PSOL perde para Ricardo Nunes (MDB) no segundo turno.
ISABELLA MENON / Folhapress