Lucila Sartori transforma em gravuras versos dos poemas de ‘Cântico dos Cânticos’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Lucila Sartori tem duas paixões na vida, o amor e o tempo lento, que explora em sua prática artística. Em relação ao primeiro tema, ela vem criando nas últimas décadas uma série de gravuras baseadas nos poemas do “Cântico dos Cânticos”, considerado um livro erótico presente tanto na bíblia católica quanto na judaica.

As imagens, que compõem uma exposição aberta há pouco no museu Lasar Segall, em São Paulo, foram produzidas devagar. “A gravura tem uma temporalidade avessa à temporalidade do contemporâneo –sua prática implica num cuidado com todas as etapas. É lento. Este tempo permite que quem faz possa refletir sobre si mesmo e o que está fazendo”, diz a artista paulistana.

Na exposição, “Gravuras, Desenhos e Sonhos”, Sartori transforma em telas femininas e bucólicas os versos sobre o casal de amantes dos poemas, com uma técnica que deixa as gravuras com aspecto enfumaçado. Ela também usa as palavras de maneira plástica, como elemento pictórico, a exemplo de uma gravura em que escreveu trechos de uma tradução em francês do “Cântico dos Cânticos”.

De acordo com certos estudiosos, o livro foi escrito por Salomão, rei de Israel, entre 990 a.C e 931 a.C., mas há autores que apontam a data de autoria como sendo entre os anos 450 a.C. e 330 a.C. De todo modo, o livro resistiu aos séculos e chegou à contemporaneidade –há uma celebrada tradução da obra feita pelo concretista Haroldo de Campos.

Independente da ancestralidade dos textos, a artista argumenta que seu conteúdo é atual, ao tratar do relacionamento entre um homem e uma mulher de forma paritária e ao possibilitar a interpretação de seus versos de maneira metafórica, isto é, estendendo a compreensão de amor para relações de amizade.

“O amor visto como essa força de coesão que consegue organizar o caos, superar o caos”, ela afirma.

Nada disso exclui as leituras espirituais ou religiosas dos versos, mas as obras de Sartori não se detêm neste aspecto.

A exposição tem também outras amostras da produção da artista. Por exemplo, ela ilustrou repetidamente um pássaro preto que visitava a sua casa –as imagens fizeram parte de uma publicação, e o espectador vê as páginas do livro abertas dentro de uma vitrine.

No menor dos dois espaços expositivos do museu, ela dispõe no chão centenas de cântaros de argila, que em sua versão são pequeníssimos e delicadíssimos, graças ao trabalho com a matéria-prima. A artista trabalha o barro até seu quase ponto de ruptura, de modo que ele se torna fino como uma casca de ovo.

“A cerâmica tem uma temporalidade parecida com a gravura”, conta a artista. “Ela exige atenção e demora na fatura.”

‘Gravuras, Desenhos e Sonhos’, de Lucila Sartori

Quando: Até 26 de janeiro de 2025. De quarta a segunda, das 11h às 19h

Onde: Museu Lasar Segall – r. Berta, 111, São Paulo

Preço: Grátis

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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