SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O município de Cavalcante, em Goiás, reelegeu neste domingo (6) o único candidato quilombola que havia sido eleito prefeito nas últimas eleições municipais, em 2020. O líder comunitário Vilmar Kalunga (PSB), 44, venceu a disputa contra Paradão (PRD) com 53,79% dos votos.
Kalunga atua há três décadas em movimentos sociais e foi presidente da Associação Quilombo Kalunga (AQK), em Cavalcante, cidade com cerca de 9 mil habitantes a 513 km de Goiânia. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 3.602 pessoas vivem na comunidade quilombola, que se estende a municípios vizinhos.
Em 2020, Kalunga foi eleito com 35% dos votos. Até então, apesar da dimensão do grupo entre os habitantes, quilombolas nunca tinham sido eleitos no município goiano. Em 2016, Kalunga havia tentado se eleger como vice, mas saiu derrotado.
Neste ano, o chefe do executivo formou uma coligação com PDT, MDB, PSC, PCdoB, PT, PV e União. Além do prefeito reeleito, o vereador mais votado na cidade foi Eriene Kalunga (PSB), também quilombola, com 332 votos.
Um estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) afirma que quilombolas Kalunga vivem na região localizada no nordeste de Goiás há mais de 300 anos, após fugirem da escravização na área da mineração. Ali, existe o Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, com artefatos arqueológicos e agricultura tradicional em área de Cerrado.
Até hoje, a comunidade onde vive o prefeito reeleito enfrenta conflitos agrários. A partir dos anos 2000, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), autarquia responsável por conceder a titularidade às comunidades tradicionais, autorizou a titularidade de 25 mil hectares aos Kalunga.
Em 2021 e 2023, o MPF (Ministério Público Federal) determinou a saída de invasores e devoluções da terra à comunidade. As invasões teriam sido feitas por fazendeiros da região, segundo o órgão. À época, os promotores culparam a morosidade do Incra para fiscalizar os repetidos casos de invasão ao território tradicional.
Em fevereiro de 2021, o território Kalunga foi o primeiro do Brasil a ganhar reconhecimento da ONU (Organização das Nações Unidas) como Territórios e Áreas Conservadas por Comunidades Indígenas e Locais (TICCA).
Neste ano, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contabilizou 3.590 candidatos quilombolas nas eleições municipais em todo o país, entre prefeitos, vices e vereadores. O número representa 1,3% do total de candidaturas no país.
MARCOS CANDIDO / Folhapress