Eleição pelo país tem poucas filas, sujeira com santinhos e confusão de zonas eleitorais

Mesmo com certo grau de confusão causada pela mudança de zonas e seções eleitorais —experimentada até mesmo por políticos—, instabilidade no aplicativo e-Título e sujeira com santinhos, as eleições deste domingo (6) se desenrolaram sem maiores problemas e com poucas filas.

Apesar da sensação de tranquilidade presente durante toda a votação, houve mais de 500 prisões pelo país, milhares de registros de crime de boca de urna e duas mortes.

Em São Paulo, as filas mais longas ocorreram na região central, provocadas por mudança das zonas e seções eleitorais. Alguns eleitores enfrentaram dificuldades para descobrir o local correto de votação.

Em frente às Faculdades Oswaldo Cruz, na Barra Funda, dezenas de pessoas formavam filas para receber a orientação de voluntários da Justiça Eleitoral, e vários reclamavam de bagunça gerada pela mudança.

A maioria só descobriu que o endereço do local de votação mudou ao chegar ali. O local é um dos maiores colégios eleitorais da capital.

Foi o caso do assistente administrativo Rafael Machado, 68, que teve sua zona eleitoral alterada pela primeira vez em mais de 30 anos. Apesar disso, ele foi direcionado a uma escola estadual a três quarteirões de distância.

“Minha vida toda votei aqui, desde sempre. Mas a orientação [dos voluntários] está funcionando”, disse Machado. “Paciência, acontece.”

À medida que aumentava o fluxo de eleitores, por volta das 11h, outras pessoas perdiam a paciência. Um cartaz com uma tabela informando o número das novas zonas eleitorais foi posicionado em frente à faculdade, mas algumas pessoas reclamavam que o painel causava ainda mais confusão.

O cartaz informava que os eleitores de 49 zonas eleitorais agora fazem parte da 3ª Zona Eleitoral, no bairro de Santa Ifigênia. O local de votação, porém, permanece na Barra Funda, o que não foi esclarecido no informe.

Políticos também se mostraram surpresos com as mudanças. O candidato a vice-prefeito pela chapa encabeçada por José Luiz Datena (PSDB), José Aníbal, relatou dificuldades para votar. “Passei por dois colégios e tive de ir a quatro sessões, foi quase uma hora e ninguém conseguia resolver.”

Quando chegou ao colégio eleitoral em que vota há 20 anos, José Aníbal afirmou ter recebido a informação de que precisava ir a outro local, a cerca de quatro ou cinco quarteirões. Segundo ele, não houve qualquer notificação anterior da Justiça Eleitoral. “A mesária falou que era pertinho, mas para quem tem alguma dificuldade de mobilidade não é simples assim.”

Só quem buscava orientação com os servidores descobria que o local de votação permanecia ali, e não no bairro de Santa Ifigênia. Apenas os funcionários poderiam informar também o bloco do prédio e andar da seção eleitoral.

“Estou indo de um lado para o outro aqui, ainda não achei minha seção”, disse a aposentada Izabel da Silva. Alguns eleitores mais velhos reclamavam de terem sido transferidos para salas nos andares mais altos dos prédios, que só estão acessíveis por meio de escada.

Como se pode imaginar, os eleitores que tiveram suas zonas alteradas e que deixaram para votar mais tarde, próximo ao fechamento das urnas, às 17h, tiveram que correr para chegar ao local correto de votação.

A Justiça Eleitoral informou, em nota publicada em seu site oficial, que “o objetivo da redistribuição do eleitorado é combinar economia de custos com eficiência na prestação de serviços às cidadãs e aos cidadãos”.

Em alguns locais de votação, quem precisava justificar voto era orientado a voltar para casa e fazer o procedimento por meio do aplicativo e-Título, o que provocou uma fila virtual. O TSE afirmou que houve um pico de 7.600 requisições por segundo ao aplicativo às 8h20.

A presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a ministra Cármen Lúcia disse, no começo da tarde, que a demora para acesso ao e-Título já havia sido superada. “Não houve problema algum, o que há é uma demora maior na resposta”, afirmou a ministra em entrevista à imprensa na sede do TSE.

O presidente do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo), desembargador Silmar Fernandes, afirmou que, de forma geral, a eleição correu na “mais perfeita ordem” em São Paulo, e que não havia registro de “ocorrência de relevo”.

PRISÕES E RESGATE DE BEBÊ

Em São Paulo, segundo a Secretaria da Segurança Pública, 157 pessoas foram presas por boca de urna. Até o fim da eleição, diz a pasta, foram 460 ocorrências cadastradas via telefone 190 e 150 apresentadas apresentadas em distritos policiais. Aproximadamente 140 casos acabaram registrados por crimes eleitorais em todo o estado.

Na região da Capão Redondo, zona sul da capital, policiais militares que faziam segurança em uma escola socorreram um bebê de 19 dias. Conforme informações oficiais, os policiais foram acionados por uma funcionária da escola estadual Professora Maria Jannuzzi Mascari, que relatou que uma criança estava engasgada no interior de uma seção eleitoral.

No local, os PMs realizaram manobra de desobstrução das vias respiratórias da vítima, a manobra de Heimlich. Na sequência, a mãe e a criança foram conduzidas até o Ama Capão Redondo, para observação médica.

Pelo país, dois eleitores morreram durante votação, um em Alagoas e outro no Rio de Janeiro. O agricultor José Carlos Rodrigues, 44, passou mal do lado de fora de onde votaria, a escola Nossa Senhora da Conceição, em Craíbas (AL), chegou a ser socorrido e encaminhado para uma unidade de saúde, mas não resistiu e morreu.

No Rio, uma eleitora morreu dentro da sala de votação, no Colégio Municipal Camilo Castelo Branco, no Jardim Botânico, na zona sul. A sessão foi interrompida por cerca de uma hora, para fazer a troca de sala com as urnas e aguardar a chegada da Defesa Civil para remover o corpo. A causa das mortes ainda não esclarecida.

Em Aracaju, um homem atacou sua ex-companheira com golpe de faca em um local de votação, segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública) de Sergipe. Em nota, a pasta afirmou que ela recebeu atendimento médico e não corre risco de morte.

Um policial militar que estava no local de votação à paisana interveio e baleou o suspeito. O homem foi encaminhado para o Hospital de Urgência em estado grave. O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado para o atendimento da ocorrência.

Em Minas Gerais, um candidato a vereador foi preso sob suspeita de comprar voto com maconha no município de Três Marias. De acordo com o boletim de ocorrência, a PM recebeu denúncias anônimas de que o vereador estaria trocando a droga por voto em seu salão de beleza.

A corporação disse ter encontrado no local 28 trouxas com maconha e deu voz de prisão ao homem. Os policiais também disseram que santinhos do candidato foram apreendidos.

Durante a ocorrência, o suspeito começou a fazer uma transmissão ao vivo nas redes sociais sobre a abordagem e disse que ela teria sido encomendada por um candidato a prefeito.

A Polícia Civil disse, em nota, que o suspeito foi conduzido à delegacia, ouvido pela autoridade policial e, em seguida, liberado. O caso está sob investigação.

Outro problema relatado em todo país foi a grande quantidade de santinhos e panfletos de candidatos jogados nas ruas. Embora a distribuição desse tipo de propaganda seja proibida no dia da eleição, continuou a ocorrer de forma intensa nos arredores de seções eleitorais pelo país.

Segundo boletim do Ministério da Justiça, em todo o país foram registrados 2.618 crimes eleitorais e comuns associados ao pleito. As forças de segurança fizeram 515 prisões, sendo 22 de candidatos. Também apreenderam 28 armas e 47 veículos. O crime mais comum é o de boca de urna, com 1.057 registros.

TULIO KRUSE, FÁBIO PESCARINI, ROGÉRIA PAGNAN E PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress

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