A hora do combustível verde, cerco às multinacionais e o que importa no mercado

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A hora do combustível verde, cerco às multinacionais e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (7).

**A HORA DO COMBUSTÍVEL VERDE**

O clima é de comemoração em Brasília e no setor de biocombustíveis. Países do G20 decidiram apoiar a proposta brasileira para a criação de um sistema internacional padronizado para o cálculo das emissões.

Entre eles, destaca-se o etanol da cana-de-açúcar, considerado uma das forças brasileiras.

ENTENDA

Ministros dos países do G20 aprovaram, na sexta-feira (4), por unanimidade, uma declaração final das discussões realizadas ao longo da semana em Foz do Iguaçu (PR).

Eles prometeram apoiar o desenvolvimento de sistemas para medir as emissões. O ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) comemorou: “É um presente para o Brasil”.

O Brasil é sede do G20 este ano e tem recebido encontros temáticos. A cúpula dos líderes ocorrerá em novembro, no Rio.

POR QUE IMPORTA

A padronização do cálculo das emissões pode ajudar a enfraquecer a tese de que os biocombustíveis não são tão benéficos para a descarbonização.

Críticos argumentam que alguns biocombustíveis geram grandes emissões devido à mudança no uso da terra.

Um exemplo são as alegações de que a expansão da cana-de-açúcar compete com a produção de alimentos e pressiona o desmatamento.

A IMPORTÂNCIA

A AIE (Agência Internacional de Energia) defende a criação de um sistema padrão que permita classificar a sustentabilidade dos combustíveis, facilitando a comercialização global.

POTÊNCIA

O Brasil é o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

A padronização é crucial para alavancar o setor brasileiro.

Em 2023, o país bateu recorde de produção de etanol, alcançando pela primeira vez 35,4 bilhões de litros.

As limitações da energia elétrica para a transição energética têm incentivado investimentos no Brasil em outras opções de combustíveis limpos, além do etanol.

Entre esses combustíveis estão o óleo de macaúba e o combustível sustentável de aviação. Compare as emissões.

Alguns exemplos:

– A Acelen, administradora da Refinaria de Mataripe, na Bahia, pretende investir US$ 3 bilhões (R$ 16,4 bilhões) no cultivo de macaúba e no refino do óleo.

A Raízen, controlada pela Shell e pela Cosan, tem investido para maximizar a produção de etanol, utilizando restos da palha de cana no chamado etanol de segunda geração.

A própria Raízen e a Petrobras também estudam opções verdes para substituir o querosene de aviação.

Enquanto isso… O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, anunciou na última sexta-feira (4) que o presidente Lula deve sancionar o projeto conhecido como Combustível do Futuro, já aprovado no Congresso, na próxima semana.

O projeto estabelece políticas de incentivo ao setor de biocombustíveis, como o aumento do percentual mínimo de etanol na gasolina.

↳ A mistura poderá variar entre 22% e 35%, enquanto hoje o índice oscila entre 18% e 27,5%.

↳ Outro ponto relevante é o marco legal para a estocagem de carbono no subsolo, uma tecnologia que permite capturar gases já gerados.a

**CERCO ÀS MULTINACIONAIS**

O governo Lula avançou com os planos de implementar no Brasil o chamado imposto mínimo global.

A nova tributação faz parte de um acordo entre mais de 140 países para fechar o cerco a empresas multinacionais que escapam da cobrança de tributos.

A Medida Provisória foi enviada ao Congresso pelo presidente Lula na última semana.

Ela prevê que a taxação de impostos sobre as empresas seja de, no mínimo, 15% sobre os lucros.

NO MUNDO

O imposto entrou em vigor em janeiro deste ano na União Europeia, no Reino Unido e em outras grandes economias.

A ideia central do acordo é evitar que empresas movimentem suas operações para locais com baixa tributação, fugindo de impostos.

Até então, muitas empresas se beneficiavam da baixa tributação em paraísos fiscais para escapar da cobrança de impostos.

A OCDE, grupo de países desenvolvidos que conduziu as reformas, estima que a nova medida aumentará a receita tributária anual em até 9%, ou US$ 220 bilhões (R$ 1,2 trilhão) em todo o mundo.

Para a sua implementação, os fiscos dos países construíram um sistema que permite, entre outras ações, o compartilhamento de informações sobre os valores arrecadados em cada jurisdição.

EM NÚMEROS

A tributação será aplicada a grupos com receita anual de 750 milhões de euros (cerca de R$ 4,5 bilhões) ou mais.

O governo não espera arrecadação em 2025 com essa tributação, embora a possibilidade não esteja totalmente descartada.

Dados da Receita Federal indicam que 957 grandes empresas no Brasil se enquadram na regra e pagam menos de 15% de tributos sobre o lucro.

A maioria dessas empresas são multinacionais estrangeiras. Cerca de 20 possuem capital majoritariamente nacional.

Em 2026, a projeção é de uma arrecadação de R$ 3,4 bilhões, valor que deve subir para R$ 7,3 bilhões em 2027.

COMO FUNCIONARÁ

A Medida Provisória cria um adicional à CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) para garantir a cobrança mínima de 15%.

O percentual do adicional será calculado como a diferença entre esse patamar e a alíquota efetiva cobrada no país.

Se a alíquota efetiva for menor, a diferença será aplicada no Brasil aos lucros excedentes das empresas. .

POR QUE IMPORTA

De acordo com Isac Falcão, presidente do Sindifisco Nacional, embora a soma das alíquotas dos tributos sobre a renda das empresas no Brasil seja de 34%, a alíquota efetiva frequentemente fica abaixo dos 15% sobre o lucro.

A nova tributação faz parte da estratégia do ministro Fernando Haddad de proteger a arrecadação contra a chamada erosão da base tributária.

O governo tem como meta fechar as contas públicas sem déficit em 2024 e 2025. Para 2026, a meta é alcançar um superávit de 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto).

**MADE IN BRAZIL**

Dez anos depois de construir seu primeiro carro no Brasil, a BMW anuncia um novo ciclo de investimentos no país.

A fábrica de Araquari (SC) receberá um aporte de R$ 1,1 bilhão, previsto para ocorrer entre 2025 e 2028, com foco em modelos de maior eficiência energética.

Os investimentos na linha de produção permitirão a montagem de veículos 100% elétricos no Brasil.

AS NOVIDADES

A fábrica já é uma das mais versáteis da fabricante alemã no mundo, sendo capaz de produzir, simultaneamente, automóveis a gasolina, flex ou híbridos. Com o novo investimento, será possível produzir modelos elétricos.

Atualmente, os principais carros nacionais da marca são o sedã Série 3, com motor 2.0 turbo flex, e o SUV X1, em duas versões a gasolina.

O próximo modelo a entrar em produção será o SUV X5, um híbrido plug-in, que utiliza combustível e eletricidade, com recarga via tomada.

VICE-LÍDER

A estratégia da BMW para carros elétricos e híbridos gerou dúvidas quanto ao sucesso, visto que a empresa utiliza praticamente o mesmo design e linhas de produção dos modelos tradicionais. No entanto, o apelo da marca de luxo se mostrou eficaz.

Em 2023, no segmento premium, a marca ficou atrás apenas da Tesla, vendendo 376 mil veículos elétricos globalmente.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Os diferentes tipos de híbridos têm sido o foco das fabricantes, em vez de 100% elétricos.

Os motivos incluem maior flexibilidade, custo e a falta de infraestrutura de recarga de baterias. No Brasil, o uso do etanol favorece os híbridos flex.

PRATICAMENTE BRASILEIRA

Na inauguração, em 2014, a BMW anunciou uma capacidade de produção de 32 mil carros por ano, mas as crises subsequentes afetaram o mercado de luxo no Brasil.

↳ Atualmente, a produção é estimada em 11 mil unidades anuais, ajustada conforme a demanda.

SIM, MAS…

A operação da BMW é a mais bem-sucedida entre as marcas premium no Brasil, com maior volume de produção local e mais processos, comparada à Audi, com fábrica no Paraná, e à Jaguar Land Rover, no Rio.

E a Mercedes? Outra gigante alemã, a Mercedes, ocupa o terceiro lugar no segmento elétrico de luxo e defende fortemente os modelos à bateria em detrimento dos híbridos. No Brasil, a empresa deixou de produzir carros de passeio em 2020.

Em entrevista recente à Folha de S.Paulo, o presidente da Mercedes no Brasil defendeu o reposicionamento e reforçou a visão de que o futuro do luxo é elétrico.

**DE OLHO NA BOLSA**

Natura, cujas ações subiram 6% na última semana

As ações da Natura estão entre as que mais se valorizaram na última semana. Em cinco dias, a alta foi de 6%. Nos últimos 30 dias, a valorização foi de 5,62%.

O movimento foi desencadeado pela decisão do banco JP Morgan de revisar para cima o preço-alvo das ações para o fim de 2025, de R$ 20 para R$ 23.

Outro fator positivo foi a decisão da gestora Baillie Gifford de elevar sua participação acionária na companhia para 5,04%, indicando perspectivas otimistas.

POR QUE IMPORTA

Os papéis seguem no foco dos investidores esta semana, já que a alta recente apenas recupera uma parte da desvalorização sofrida este ano.

O pedido de recuperação judicial da divisão Avon Internacional nos Estados Unidos e as incertezas sobre a retomada das altas de juros no Brasil resultaram em fortes quedas em agosto.

Em crise, mas não muito. No relatório em que elevou o alvo das ações, o JP Morgan prevê que a recuperação judicial da Avon Internacional nos EUA impactará a Natura em cerca de US$ 85 milhões (aproximadamente R$ 468,35 milhões), com encerramento esperado para o início de 2025.

Ao mesmo tempo, a operação na América Latina apresenta sinais positivos.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

GOVERNO LULA

Fabricante do Ozempic anuncia R$ 864 mi para produção de insulina no Brasil. Lula recebeu rainha da Dinamarca; investimento irá para fábrica de Montes Claros, em Minas.

BETS NO BRASIL

Se não der resultado com regulamentação, acabaremos com isso, diz Lula sobre bets. Presidente falou sobre o tema após votar nas eleições municipais em São Bernardo do Campo.

TECNOLOGIA

Apps de relacionamento ofertam amizades a brasileiro, que prefere rede social para achar amor. Usuários relatam frustração com relações mornas e priorizam aplicativos sem recursos pagos.

VICTOR SENA / Folhapress

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