Relatório nacional projeta mais de 5 milhões de casos de demência no Brasil até 2050

No Brasil, 8,5% da população idosa vive com demência e, para a prevenção, é necessário ficar atento a fatores de risco como sedentarismo, diabete e a baixa escolaridade

Mulher idosa enfrentando a doença de Alzheimer | Foto: Freepik

A população brasileira está envelhecendo, e esse é um dos fatores que explicam o aumento nos casos de demência, conforme apontado pelo Relatório Nacional sobre a Demência: Epidemiologia, (Re)conhecimento e Projeções Futuras, divulgado no final de setembro pelo Ministério da Saúde. Especialistas de todas as regiões do Brasil – Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul – analisaram dados disponíveis sobre a demência, revelando que atualmente cerca de 8,5% da população com mais de 60 anos vive com a doença, somando aproximadamente 2 milhões de casos. Projeções indicam que, até 2050, esse número pode atingir 17,56%, ou mais de 5 milhões de pessoas.

Para o professor Júlio César Moriguti, da Divisão de Geriatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, o envelhecimento da população tem papel fundamental nesse processo. Segundo ele, “em 2024, cerca de 12% da população é idosa, e em 2050 esse número deverá subir para aproximadamente 25%. Como os idosos são o grupo mais afetado, o aumento da população idosa refletirá diretamente no crescimento dos casos de demência”.

O relatório do Ministério da Saúde também destacou que o número de diagnósticos é mais elevado entre as mulheres, com 9,1% dos casos, em comparação aos 7,7% entre os homens. Moriguti explica que fatores como o maior cuidado com a saúde e a maior expectativa de vida entre as mulheres ajudam a justificar esses números. “As mulheres, desde cedo, são orientadas sobre a prevenção de doenças, como câncer de mama e colo do útero, enquanto os homens geralmente recebem informações preventivas mais tarde. Além disso, como as mulheres vivem mais, ficam expostas por mais tempo ao risco de desenvolver demência”, afirma.

Outro dado relevante do relatório foi a variação dos índices de demência entre as regiões do Brasil. O Nordeste apresentou o maior porcentual de casos, com 10,4%, enquanto o Sul teve o menor, com 7,3%. Segundo Moriguti, a escolaridade desempenha um papel importante nessa diferença, pois idosos do Nordeste tendem a ter menos anos de educação formal do que os do Sul, e o nível de educação está associado ao desenvolvimento de habilidades cognitivas que podem reduzir o risco de Alzheimer. Além disso, os habitantes das regiões Sul e Sudeste têm maior acesso a informações sobre fatores de risco, o que contribui para uma menor prevalência da doença nessas áreas.

Prevenção

Segundo o professor Moriguti, até 40% dos casos de demência podem ser prevenidos, especialmente se medidas forem adotadas antes dos 40 anos. Ele destaca a importância de controlar 12 fatores de risco, sendo cinco deles relacionados à saúde cardiovascular: controle da hipertensão arterial, diabete, sedentarismo, obesidade e tabagismo. Além desses, outros fatores de risco incluem o consumo excessivo de álcool, a perda auditiva, episódios de depressão, traumatismo cranioencefálico, isolamento social, poluição do ar e baixa escolaridade. “A adoção de hábitos saudáveis e o controle desses fatores podem reduzir significativamente as chances de desenvolver demência”, ressalta Moriguti.

Para além das iniciativas individuais de prevenção, há também políticas públicas em vigor para o tratamento da demência no Brasil. Moriguti ressalta que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece quatro medicamentos aprovados para tratar a demência causada pelo Alzheimer, acessíveis à população mediante prescrição médica. Ele destaca o papel fundamental dos profissionais de saúde na orientação contínua sobre os fatores de risco, em especial os cardiovasculares. “Os profissionais estão sempre reforçando a importância da prática de atividades físicas e de outros hábitos saudáveis, que, além de prevenir problemas como a obesidade e o sedentarismo, também contribuem para a redução de novos casos de demência”, finaliza.

**Por Jornal da USP