Relembre os maiores fiascos das eleições à Prefeitura de São Paulo antes de Datena

BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cercada de expectativas, a candidatura de José Luiz Datena (PSDB) à Prefeitura de São Paulo neste ano entrou para a história das eleições na cidade como um de seus maiores fracassos. Tido inicialmente como um candidato competitivo, ele murchou nas pesquisas e fez apenas 1,8% dos votos válidos neste domingo (6).

Antes do insucesso tucano, em cada uma das disputas desde a redemocratização houve um fiasco que marcou a eleição. O mais memorável, talvez, logo na primeira após o fim da ditadura militar, em 1985.

A eleição direta para a escolha do sucessor de Mario Covas (PMDB), que ocupava a função ainda de forma “biônica” —havia sido indicado pelo governador Franco Montoro (PMDB)—, reuniu 11 postulantes, mas apenas três eram competitivos.

O então senador Fernando Henrique Cardoso, do mesmo partido do prefeito, do governador e do presidente da República, José Sarney, despontava como favorito, aos 54 anos de idade.

Ele tinha como rivais o ex-presidente da República Jânio Quadros (PTB), 68, que já tinha sido eleito prefeito de São Paulo e governador nos anos 1950 e que protagonizou uma conturbada e malfadada gestão de sete meses no comando do país em 1961 —encerrada com sua renúncia ao cargo.

Além deles, estava no páreo o deputado federal Eduardo Suplicy, do imberbe Partido dos Trabalhadores, o mais jovem de todos, com 44 anos.

O favoritismo de FHC era mostrado em pesquisas e a confiança era tanta que ele topou ser fotografado sentado na cadeira de Covas na véspera do pleito, em 14 de novembro. A imagem saiu estampada na primeira página da Folha de S.Paulo no dia seguinte.

Segundo o tucano afirmou posteriormente, ele sentou na cadeira antes da hora devido ao compromisso de produzir a foto para a revista Veja, cuja conclusão da edição ocorreria antes do resultado, mas que outro fotógrafo entrou na sala no momento e também conseguiu registrar a cena.

Apesar desse e de outro fato de repercussão à época —o titubeio em responder no último debate da campanha se acreditava em Deus— serem vez ou outra apontados como importantes para o resultado que saiu das urnas no dia 15 de novembro, a vitória de Jânio com diferença de pouco mais de 140 mil votos, o fator preponderante foi outro.

A divisão dos votos mais à esquerda entre FHC e Suplicy determinou a vitória do histriônico ex-presidente, já que à época não existia segundo turno.

Ao final, Jânio promoveu o seu marketing pessoal ao “desinfetar” em público a cadeira de prefeito sob o argumento de que “nádegas indevidas a usaram”

Em 1988 o maior fracasso da campanha coube ao MDB do governador Orestes Quercia, que foi tragado pelo impopularidade do governo José Sarney. O candidato do partido a prefeito, João Oswaldo Leiwa (PMDB), ficou em terceiro apesar do apoio do governador e do prefeito e de ter o maior tempo de propaganda eleitoral na disputa, 41% do total, marca até hoje jamais batida.

Quatro anos depois, em 1992, o PT amargou pela primeira vez o posto de maior fiasco da eleição. A prefeita Luiza Erundina não conseguiu emplacar o sucessor, Eduardo Suplicy, e o arquirrival Paulo Maluf (PPB) conseguiu pela primeira vez chegar ao posto pelo voto direto (ele já havia sido prefeito biônico durante a ditadura).

Em 1996, Maluf conseguiu eleger de lavada o poste Celso Pitta, seu então secretário de finanças. O PSDB chegou em terceiro, apesar de José Serra ter à época o apoio do presidente da República e do governador.

Em 2000 foi a vez de Paulo Maluf ficar com o troféu de fiasco da temporada.

Celso Pitta protagonizou uma desastrada gestão, envolta em escândalos de corrupção, e a maior parte da população da capital paulista resolveu atender a um pedido feito pelo próprio Maluf na campanha anterior. “Votem no Pitta e se ele não for um grande prefeito, nunca mais vote em mim.”

O ano de 2000 marcou o início da derrocada de Maluf, que desde então jamais conseguiu obter um mandato no executivo.

Em 2004 o PT voltou a amargar uma importante derrota com o fracasso de Marta Suplicy em conseguir a reeleição. Em 2008 foi a vez de um tucano se destacar outra vez do lado negativo. Ex-governador e ex-presidenciável, Geraldo Alckmin (PSDB) foi escanteado na disputa pelo governador José Serra —padrinho da candidatura de Gilberto Kassab (DEM)— e nem para o 2º turno foi.

Em 2012, ano da terceira vitória do PT na capital de São Paulo, foi a vez de José Serra e Celso Russomanno (PRB) dividirem a posto de fiascos da disputa. Apresentador de popular programa de TV, o último liderou a corrida boa parte do tempo, mas definhou na reta final.

Daí em diante o PT só figurou na parte de baixo da tabela, em se tratando de eleições na maior cidade do país.

Nas de 2016, o prefeito Fernando Haddad perdeu no primeiro turno para João Doria (PSDB), o único a liquidar a disputa sem necessidade de uma segunda rodada.

Em 2020, o PT chegou ao seu pior resultado da história, com o sexto lugar de Jilmar Tatto.

O deputado federal Kiko Celeguim, presidente estadual do PT, diz que, em sua avaliação, 2020 foi um reflexo de 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff.

“A agenda que o país tocou nesse período atingiu muito a nossa base social. A redução de direitos, redução de recursos nas áreas de educação, saúde, habitação. Houve uma desmobilização dos movimentos sociais, do movimento sindical, em função, obviamente, do fim do imposto sindical e da possibilidade que os movimentos tinham de se autofinanciar.”

RANIER BRAGON E CAROLINA DAFFARA / Folhapress

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