SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dizem as regras não escritas que bandas de metal precisam estar associadas à uma iconografia macabra, como caveiras, cadáveres e corvos, e abusar do preto no visual e nas capas dos discos. Mas o Bring Me the Horizon, conjunto britânico muito popular entre os adolescentes, responsável por expandir o conceito de música pesada no século 21, subverte essas regras.
No palco, colorido, a banda toca em frente a telões onde flutuam corações sobre fundo rosa. As capas dos discos podem trazer figuras com referências ao universo dos animes, a exemplo de seu novo álbum, lançado este ano, “Post Human: NeX GEn”, que ainda tem título escrito em letras maiúsculas e minúsculas, como um chat dos primórdios da internet.
E as músicas são únicas uma mistura de guitarras pesadas com elementos de pop e de eletrônica, base para os vocais às vezes cantados e às vezes berrados. Embora os metaleiros tradicionais ignorem a banda devido à sonoridade mais palatável e à postura de boy band, o Bring Me the Horizon soa fresco, novidadeiro, sem jamais ter feito duas vezes o mesmo disco em seus quase 20 anos de carreira.
Em novembro, a banda volta para a capital paulista, em única apresentação, no estádio Allianz Parque, dia 30, ao lado dos também renovadores da música pesada Spiritbox. Completam este mini-festival as menos interessantes Motionless in White e The Plot in You.
No auge da carreira depois de ser indicada para um grammy por seu álbum “Amo”, de 2019, e encabeçado o importante festival inglês Download, a banda desembarca no Brasil com o show de seu mais recente disco, que saiu em maio e foi anunciado de surpresa no Instragram do vocalista, Oliver Sykes, numa foto em que ele posava de copeira lavando louça na cozinha de uma casa brasileira ele mora no interior de São Paulo.
“Este é um dos discos mais coloridos que fizemos desde ‘Amo’, com uma grande variedade de sons diferentes e diferentes níveis de peso e coisas mais suaves. Tudo o que você ouve agora é o que sempre sonhei que a nossa banda seria, mas há dez, 15 anos atrás, nós não éramos musicalmente capazes de criar o que estamos fazendo agora”, diz Sykes, em entrevista por vídeo.
No novo álbum, um liquidificador de referências musicais, acompanhamos o vocalista lidando com uma recaída em sua compulsão pelas drogas na faixa “n/A”, que começa com os versos “oi, meu nome é Oli e eu sou um viciado”. Ele afirma que o disco tinha que inspecionar certos problemas seus, projetar aspectos que percebeu em si que não são bons e tratar de como ele os superou.
É um trabalho mais introspectivo em relação ao álbum anterior, “Post Human: Survival Horror”, lançado durante a pandemia e que lidava com a raiva gerada por aquela situação, pela crise climática e o estado geral do mundo, segundo o vocalista. Esse nervosismo se traduzia também na sonoridade, mais furiosa, com elementos do hardcore.
Por mais que o mundo estivesse parado durante a pandemia, a popularidade da banda deu um novo salto, impulsionada pelo fato de uma de suas músicas mais antigas, “Can You Feel My Heart”, explodir e viralizar no TikTok. Sykes diz acreditar que isto atraiu uma nova geração de ouvintes para o grupo.
Prova disso foi o show que eles fizeram para dezenas de milhares de fãs em São Paulo, em 2022, como uma das principais atrações do festival de metal Knotfest. O público da banda que ficou plantado na porta do hotel de luxo onde o grupo estava hospedado é em geral mais novo, composto sobretudo por adolescentes e jovens adultos, até os 30 anos.
Para o vocalista, a banda conquista a geração Z por mesclar constantemente novos tipos de música em sua sonoridade, de modo que pareça sempre nova. “É como nos mantemos frescos e animados em ser uma banda de rock.”
Mas a superficialidade do pop radiofônico também leva os jovens a procurarem a banda, ele diz. “Acho que a música pop hoje é de alta qualidade, mas muitas vezes falta a ela algum tipo de mensagem real ou emoção. Artistas como Dua Lipa e The Weekend fazem músicas incríveis, que podem falar sobre um ex-amor ou algo do tipo, mas elas nunca se aprofundam. Boa parte do pop é assim.”
“Os adolescentes sentem necessidade de inspecionar a si mesmos e encontrar as respostas do por que eles se sentem uma bosta. Porque todos estamos deprimidos, todo mundo no mundo está deprimido em algum nível. E bandas como o Bring Me the Horizon estão aí para perguntar por que ou só dizer isto em voz alta. É catártico reconhecer a dor e o medo”, acrescenta.
Sentimentos densos à parte, outro fator responsável pela grande popularidade da banda é a figura do vocalista. Magro, alto e com o corpo coberto de tatuagens incluindo o desenho de uma pena na lateral do rosto, o músico de 37 anos é um ídolo para os jovens que nasceram na era da internet e se tornaram uma geração ansiosa.
A julgar pelo repertório dos últimos shows da banda, o setlist da apresentação em São Paulo terá hits como “Mantra”, “Doomed” e “Throne” a música mais ouvida do grupo no Spotify, com quase 460 milhões de plays e faixas do novo disco. Mas nostalgia não parece fazer parte do vocabulário de Sykes.
“Eu não tenho ideia de como escrevi a maior parte das nossas melhores músicas. E se eu tentasse recriá-las, elas seriam uma versão piorada”, ele afirma, em relação a pedidos de fãs para que a banda retorne à sonoridade do disco “Sempiternal, de 2013, com o qual estourou.
“Percebi que você não pode escrever música para ninguém mais. Você tem que pensar: gosto disso? Isto me anima? E não se preocupar com o resto.”
BRING ME THE HORIZON, SPIRITBOX, MOTIONLESS IN WHITE E THE PLOT IN YOU
– Quando 30 de novembro, a partir das 13h
– Onde Allianz Parque – Av. Francisco Matarazzo, 1705, São Paulo
– Preço A partir de R$ 390
– Link: https://www.eventim.com.br/event/bring-me-the-horizon-allianz-parque-18567196/
JOÃO PERASSOLO / Folhapress