RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – A cena é cada vez mais comum na orla do Rio de Janeiro: você está desfrutando de um momento de lazer na praia até que um barulho de motor de avião automaticamente o faz olhar para o céu. Puxada pela aeronave, uma faixa contém uma mensagem enaltecendo um clube ou provocando um rival. O burburinho na areia é automático e, em instantes, as imagens viralizam nas redes sociais. Mas afinal de contas, de que forma é feito e quanto custa zombar de um adversário nas praias cariocas?
‘É BARATO PELO ALCANCE QUE TEM’
O UOL conversou com Sérgio Alexandre, diretor-comercial da “Rio Ar”, empresa com mais de 30 anos no ramo. Foi ela, por exemplo, que fez recentemente a faixa para torcedores do São Paulo, provocando o Botafogo, antes do duelo de ida das quartas da Libertadores, algo que repercutiu bastante.
Ao longo destas três décadas, torcidas de Fluminense, Flamengo, Vasco, Atlético-MG, Palmeiras, entre outras, também contrataram este trabalho de propaganda aérea, que tem seus maiores lucros com empresas privadas.
Em média, é cobrado R$ 6,5 mil por uma hora de voo. O avião sobrevoa duas vezes toda a orla da Zona Sul (RJ) e mais um bônus de duas voltas na praia da Barra da Tijuca (RJ) ou uma na da Barra e outra na do Recreio dos Bandeirantes (RJ).
A “Rio Ar” oferece o pacote completo: tanto o voo como a fabricação da faixa, que é produzida em Nova Iguaçu (RJ). O cliente pode optar por enviar o layout ou somente passar a ideia para a empresa executar o design. A faixa tem cerca de três metros de altura por 21 metros de comprimento. São 63 m². No total, a empresa conta com três aviões, que saem do aeroporto de Jacarepaguá, na Zona Oeste (RJ).
“Nós começamos a desenvolver esse trabalho há 30 anos. E há 50 anos existe essa propaganda, já faz parte da cidade. Quando não tem avião na praia, as pessoas perguntam. De um tempo para cá, as pessoas começaram a descobrir que gera uma mídia muito grande, um impacto gigante, um público enorme. Não custa caro. É barato pelo alcance que ela tem”, disse Sérgio Alexandre, diretor-comercial da “Rio Ar”.
SOMENTE PROVOCAÇÕES SADIAS
O diretor-comercial admite que a procura de torcedores de futebol pelo serviço aumentou nos últimos anos. Na maioria das vezes, um grupo realiza uma “vaquinha” para contratar o trabalho, mas há casos em que o pagamento é feito por apenas uma pessoa.
“O cara do Atlético-MG tem dinheiro. Ele paga sozinho”, diz Sérgio, sem revelar a identidade do atleticano.
Nos últimos anos, flamenguistas já provocaram vascaínos pelos rebaixamentos, palmeirenses zombaram dos rubro-negros pelo título da Libertadores de 2021 e pagaram por um fim de semana inteiro, cruzmaltinos cutucaram os rivais na disputa pelo Maracanã, tricolores se despediram de Fred e muito mais. A empresa, porém, faz questão de manter uma ética e se nega a aceitar um trabalho que ultrapasse os limites.
São somente provocações sadias. Eu não aceito fazer serviço se passar de uma rivalidade bem-humoradaSérgio Alexandre
SERVIÇO CONTRATADO PARA ANUNCIAR NOVO PATROCÍNIO DE GABIGOL
A efetividade da propaganda aérea também já tem sido notada por empresas que investem no futebol. Foi o caso, por exemplo, da fornecedora de material esportivo japonesa “Mizuno”, que contratou o serviço para anunciar seu novo patrocinado: o atacante Gabigol, do Flamengo.
A faixa “Gabigol agora é Mizuno” sobrevoou a orla carioca durante todo o fim de semana e fez parte de uma série de ações de marketing para o jogador, que antes era patrocinado pela “Nike”.
‘TIMES SQUARE’ CARIOCA
O crescimento de torcidas de futebol em busca deste tipo de serviço acompanha uma tendência mundial onde as pessoas têm misturado um ponto físico popular com a repercussão nas redes sociais. Uma das sensações do momento no exterior, por exemplo, são os telões de LED da Times Square, em Nova York (EUA), onde se pode exibir uma mensagem ou vídeo de 15 segundos no local por US$ 45 (cerca de R$ 246). Por lá, torcedores de clubes brasileiros também já fizeram uso desta publicidade.
No caso dos aviões cariocas com faixas, o serviço é mais caro. No entanto, além da tradição de décadas nas praias do Rio de Janeiro, a propaganda áerea transmite a mensagem por mais tempo.
“A praia é extremamente democrática, com público de todas as idades e classes sociais. Consigo atingir muita gente com uma mensagem”.
BRUNO BRAZ / Folhapress