CAMPO GRANDE, MS (FOLHAPRESS) – O ex-governador do Mato Grosso do Sul Reinaldo Azambuja avalia que seu partido, o PSDB, ficou “muito pequeno” depois da eleição de 2022 por um erro de avaliação dos tucanos ao promoverem a pré-candidatura a presidente de João Doria naquele ano.
O resultado das eleições municipais de domingo (6) reforçou esse cenário com a conquista de 273 prefeituras pelo partido ante 523 em 2020 –elegendo somente dois prefeitos de grandes cidades (mais de 200 mil eleitores). O PSDB, presidido no estado por Azambuja, ainda pode aumentar o número com cinco candidatos no segundo turno.
“Eu sempre defendi que a gente ficou muito pequeno por um erro estratégico na eleição de 2022”, disse Azambuja em entrevista à Folha na segunda-feira (7).
O problema, na visão dele, foi o partido ter lançado Doria à Presidência, uma candidatura “inviável”.
“Acabou diminuindo o tamanho do partido a nível nacional. Elegemos 13 deputados federais, sendo três do Mato Grosso do Sul. São Paulo, que tem 70 [deputados], elegeu três”, afirmou.
A análise do ex-governador sul-mato-grossense por dois mandatos (2015-2018) é de que o PSDB deve avaliar o cenário após o segundo turno das eleições deste ano e decidir o seu futuro.
“Eu acredito que nós vamos ter um rearranjo político. Eu vou conversar com as lideranças nacionais do PSDB, principalmente a quem eu devo uma fineza, que é o Marconi [Perillo, presidente do partido], o próprio Aécio [Neves, deputado]”, disse.
Azambuja avalia que o movimento natural seria pensar em uma fusão do partido. Em cenário mais conservador, pelo menos uma nova federação mais à direita. Ele prevê que, em 2026, tantos partidos vão se juntar que o Brasil só terá cerca de dez siglas.
Nessa “tendência de fusões e unificações partidárias” que o ex-governador projeta, o PL de Jair Bolsonaro é uma opção. “É um partido que nos interessa muito em Mato Grosso do Sul, porque nós temos uma boa tratativa com liderança do PL, tanto no estado como no nível nacional. Valdemar [Costa Neto], Rogério Marinho”, afirmou.
O atual governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), concorda com seu antecessor. Ele disse à Folha que a queda de desempenho do partido na eleição não deve ser a principal motivação da fusão.
“Eu vejo que dentro do processo de reforma política que passamos, o PSDB de alguma maneira tem que trazer esse debate para dentro dele sem nenhum temor, sem nenhum fantasma, com muito desprendimento”, disse Riedel.
Ele defende que o PSDB avalie até fazer fusões com partidos maiores e menos históricos, como o PL. “A história do PSDB foi de discussão de grandes reformas. Nos últimos dez anos, nós tivemos essa polarização política muito forte, e o partido ficou muitas vezes refém desses polos”, afirmou.
O PSDB tem seu último bastião em Mato Grosso do Sul. Governa o estado há dez anos e elegeu 44 dos 79 prefeitos da eleição de domingo –número que pode crescer para 45 com o pleito de São Gabriel do Oeste (MS) sub judice.
O resultado da eleição, porém, mostra uma queda no número de prefeitos tucanos no estado. O partido foi às urnas no comando de 51 municípios sul-mato-grossenses. Azambuja diz que o contexto, porém, é ainda mais favorável ao PSDB no estado que em 2020.
“Na eleição anterior, nós elegemos 37 [prefeitos]. Depois teve uma migração, mais gente se filiou ao PSDB […]. Com as alianças que fizemos com MDB, PL e principalmente o PP, nosso grupo político tem quase 70 prefeitos”, disse.
Um dos principais focos do PSDB nessas eleições era quebrar um tabu. O partido nunca elegeu o prefeito de Campo Grande, capital do estado. Escolheu o deputado federal Beto Pereira para tentar o feito inédito.
O tucano ficou em terceiro lugar, com quase 26% dos votos. Foram para o segundo turno Adriane Lopes (PP) e Rose Modesto (União Brasil).
“Eu entendo que a campanha usou muito pouco o ex-presidente Jair Bolsonaro. A direita acabou migrando mais para a prefeita [Adriane] do que para ele”, disse Azambuja.
CÉZAR FEITOZA / Folhapress