SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta forte alta nesta quarta-feira (9), com os investidores analisando os dados de inflação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e os estímulos fiscais decepcionantes vindos da China.
Às 13h58, subia 1,07%, a R$ 5,591, em linha com a força da divisa americana em relação a uma série de moedas de mercados emergentes. Já a Bolsa despencava 1,31%, a 129.788 pontos, com quase todas as empresas no negativo.
A inflação oficial do Brasil acelerou a 0,44% em setembro, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), depois de apresentar leve queda (deflação) de 0,02% em agosto.
O resultado veio abaixo das expectativas de analistas consultados pela Bloomberg, que previam alta de 0,46%. Mas, na base anual, a inflação alcançou 4,42% próximo ao teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central), cujo centro é de 3%. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais.
A divulgação acontece em um momento de grande atenção aos próximos passos do Copom (Comitê de Política Monetária), que deixou a trajetória da taxa básica de juros do país em aberto. A Selic é o principal instrumento do BC para controle de preços.
O colegiado reiniciou o ciclo de altas na taxa Selic na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e a levou ao patamar de 10,75% ao ano. Na ocasião, informou que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação.
Ainda que dentro da banda, o dado indica que a inflação está desancorada do centro da meta. Em declarações recentes, dirigentes do Copom afirmaram que o foco das decisões continuará sendo a perseguição do alvo de 3%, e não das margens de tolerância.
Neste cenário, a expectativa dos investidores é que a Selic suba em 0,50 ponto na próxima reunião de política monetária, marcada para novembro.
“A inflação ainda está desconfortável, transitando em um patamar ao redor de 4,5%, e isso deve continuar mantendo a expectativa de que o BC possa acelerar o ritmo de aperto no próximo encontro”, diz Camila Abdelmalack, economista chefe da Veedha Investimentos.
A perspectiva de uma Selic mais alta fazia os juros futuros dispararem. O contrato para janeiro de 2026 subia 1,88%, prevendo a taxa em 12,53%. O de janeiro de 2027 avançava 2,29%, a 12,61%, e o de 2028 tinha ganhos de 2,28%, a 12,60%.
No Ibovespa, isso se traduzia em pressão às empresas mais sensíveis à economia doméstica, como Lojas Renner (-2,83%), Magazine Luiza (-2,51%) e MRV (-0,76%).
O movimento da política monetária doméstica é contrário ao dos Estados Unidos, onde o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) iniciou o ciclo de afrouxamento no encontro de setembro. O corte o primeiro em quatro anos foi de 0,50 ponto percentual, levando a taxa à banda de 4,75% e 5%.
Novos dados de inflação serão publicados na quinta-feira e poderão ajudar a calibrar as expectativas dos investidores quanto ao ritmo das próximas reduções. Mais tarde nesta sessão, será divulgada a ata da última reunião do Fed.
A autarquia dos EUA trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os indicadores de inflação e de emprego para decidir sobre juros. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, quando os índices de preços convergem para a meta de 2% sem maiores deteriorações à empregabilidade do país.
Na semana passada, números benignos do mercado de trabalho selaram apostas de que o próximo corte nos juros será mais moderado, de 0,25 ponto percentual de magnitude.
“Para a economia, isso significa que está ocorrendo um ‘pouso suave’. Continuamos criando emprego em um ritmo acelerado e a taxa de desemprego está caindo”, disse Ross Mayfield, estrategista de investimentos da Baird.
“Isso significa que é improvável que o Fed corte em 0,50 ponto percentual em novembro ou dezembro, certamente, e talvez até faça uma pausa em novembro.”
A ferramenta CME Fed Watch aponta probabilidade de 84,1% para a redução de 0,25 ponto, e 15,9% de chance para a manutenção da taxa no atual patamar.
No radar dos investidores, ainda está o pacote de estímulos da China. De volta de um feriado de uma semana, as autoridades chinesas detalharam algumas medidas de incentivos fiscais na terça-feira para colocar a segunda maior economia do mundo de volta aos trilhos.
Em entrevista coletiva, o presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, Zheng Shanjie, afirmou que o governo chinês planeja usar 200 bilhões de iuanes (US$ 28,3 bilhões) em gastos orçamentários antecipados e projetos de investimento a partir do próximo ano.
O anúncio foi um banho de água fria para os investidores. “Ficou bem abaixo do esperado. O mercado se decepcionou, e, então, o mal humor se espalhou no exterior, em especial nas commodities”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
O otimismo com o pacote se dissipou na terça e derrubou moedas de países emergentes, em especial os que têm a China como mercado consumidor das commodities que exportam.
A cautela permanecia nesta quarta, com o anúncio de que o Ministério das Finanças chinês irá realizar uma entrevista coletiva no sábado para fornecer mais detalhes sobre as medidas de estímulo.
“O pacote da China pode mexer bastante no mercado se for razoável ou até estimulador. Se houver um incentivo bem relevante, a tendência é que as commodities venham a subir, favorecendo exportadores de commodities como o Brasil”, afirma Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
Nesse cenário de incerteza quanto ao pacote, o dólar, além de avançar sobre o real, também tinha ganhos sobre o peso chileno, o rand sul-africano e o peso mexicano. Na cena corporativa, Vale perdia 1,12%, na esteira da queda de 3% do minério de ferro, e Petrobras caía 1,35%, seguindo o petróleo no exterior.
Apesar de responder às notícias da China, o petróleo também recuava pelo possível cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah.
A indefinição no Oriente Médio ainda beneficiava o dólar: o índice DXY que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas subia 0,30%, a 102,86.
Redação / Folhapress