PEMBROKE PINES, FLÓRIDA (FOLHAPRESS) – Em vez de fugir, o brasileiro Marco Paz decidiu preparar sua casa para enfrentar o furacão Milton, com previsão de tocar o solo da Flórida entre o fim da noite desta quarta-feira (9) e o início da madrugada desta quinta (10). Ele vive em Land O’ Lakes, a cerca de 40 km da baía de Tampa, região com mais de 3,3 milhões de moradores que está bem na rota esperada dos ventos.
A decisão do engenheiro veio da experiência traumática durante o furacão Irma, em 2017, quando dirigiu 14 horas de Tampa até Atlanta, na vizinha Geórgia, um trajeto que normalmente levaria metade desse tempo.
“Eu contratei uma pessoa para instalar proteções nas janelas da parte da cima da casa, e meu sogro e eu instalamos na parte de baixo. Meu bairro é novo, e as casas foram projetadas para suportar furacão de categoria 4.” Segundo Paz, até segunda-feira (7), apenas 10% das casas do condomínio tinham proteção nas janelas. “Hoje eu diria que 90% já instalaram.”
O furacão Milton foi rebaixado para a categoria 3. O enfraquecimento era esperado e não muda o prognóstico de especialistas, para os quais ainda será “um furacão extremamente perigoso e grande”, segundo o jornal americano The New York Times. Embora o local e horário exato da aterrissagem sejam incertos, chuvas intensas, erosão e enchentes são esperadas.
A previsão é que o furacão leve à região de 127 a 250 milímetros de chuva -número maior do que a média para todo o mês no local. Segundo o NHC, o centro americano de furacões, o nível da água em alguns locais da costa oeste da Flórida pode passar de quatro metros.
De acordo com o mesmo centro, o Milton está cerca de 275 km a sudoeste de Orlando, com ventos de cerca de 195 km/h.
A professora americana Ligeia Smith também guarda memórias ruins ao deixar sua casa durante o Irma e, desta vez, resolveu ficar. “Sair é mais difícil do que parece. Não tem combustível. Se tenho o tanque cheio, quão longe posso ir? Uma amiga foi de Tampa para Ocala, uma viagem que geralmente dura duas horas, mas levou oito.” Além disso, ela diz que o estresse de não saber o que aconteceu com a sua casa depois que o furacão passou também pesou na decisão.
Moradora da litorânea Clearwater, a 35 km de Tampa, Ligeia diz acreditar que não há risco de alagamentos em sua região, mas o vento é preocupante. A cidade é sede do condado de Pinellas, onde 12 pessoas morreram durante a passagem do furacão Helene, que devastou partes do sul dos Estados Unidos há duas semanas, deixando mais de 230 mortos e centenas de desaparecidos.
Ainda assim, ela diz estar tranquila: “Minha casa é de cimento e com janelas antifuracão. Temos um gerador, duas geladeiras abastecidas com comida, e enchemos as banheiras com água para usar na descarga”. Ligeia começou a se preparar no último domingo (6), quando voltou de uma viagem ao Canadá.
Ela e a noiva moveram os itens do quintal para dentro da casa e afundaram os móveis de plástico na piscina para que não voem durante a passagem do Milton. Como proteção extra, estacionou o carro em frente à maior janela de vidro da casa. Hoje pela manhã, deixou comida preparada para os próximos dias e contou que deixou mapeados os abrigos da região em caso de emergência.
Já o engenheiro indiano Digvijay Patil, que mora no centro de Tampa, área em que abandonar as casas era obrigatório, resolveu não arriscar e viajou para a Filadélfia na manhã de terça (8). “Considerando a possibilidade de faltar energia, ficar sem internet e a falta de mantimentos nos mercados, achei melhor sair”. As passagens de avião estavam caras, mas ele diz ter conseguido uma com preço razoável saindo de Orlando, já que o aeroporto de Tampa encerrou as operações às 9h de terça. “Posso simplesmente evitar as consequências do furacão e retornar quando tudo voltar ao normal.”
NATASHA BIN / Folhapress