SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na grande maioria das zonas eleitorais da cidade de São Paulo, os campeões de voto para vereador são integrantes da coalizão que apoia o atual prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB). O mapa da eleição à Câmara Municipal mostra prevalência de candidatos da situação em 47 dos 57 distritos paulistanos.
Isso significa dizer que candidatos governistas a vereador foram os mais votados mesmo em regiões onde, na disputa para prefeito, Guilherme Boulos (PSOL) conquistou a maior parte dos votos. Isso ocorre em 15 das 20 zonas onde o psolista ficou em primeiro lugar. Nunes não enfrenta situação semelhante em nenhum distrito: na grande maioria das áreas onde o prefeito venceu, candidatos de sua coalizão também lideraram as votações ao Legislativo municipal.
Isso só não ocorreu em duas zonas eleitorais, entre as 17 onde Nunes foi o mais votado. Em Indianópolis, na zona sul, e Jardim Paulista, na região central, prevaleceu a candidata Cris Monteiro, do Novo mesmo partido de Marina Helena, derrotada na disputa pelo Executivo, que formalizou apoio à reeleição do prefeito.
Tradicionalmente, alguns bairros da capital concentram os votos em vereadores que estão há vários mandatos seguidos. São os chamados currais eleitorais, áreas onde os parlamentares mantêm sua influência ao destinar verbas de emendas parlamentares para obras, com frequência atendendo a demandas de líderes comunitários locais.
Um caso exemplar é o do atual presidente da Câmara Municipal, vereador Milton Leite (União Brasil), que vai se aposentar após sete mandatos consecutivos. Leite foi o mais votado em seis zonas eleitorais há quatro anos, todas na zona sul, e neste ano foi bem-sucedido na transferência de votos.
Os dois candidatos a vereador apoiados por ele, Silvão e Silvinho, ficaram em primeiro lugar nas votações das mesmas seis regiões: Jardim São Luís, Capão Redondo, Valo Velho, Piraporinha, Grajaú e Parelheiros.
Já os partidos de esquerda perderam território em relação ao pleito de 2020. PT e PSOL, que integram a coalizão de Boulos, conquistaram o primeiro lugar em apenas 5 das 57 zonas eleitorais paulistanas no último domingo. Há quatro anos, eram 17.
Em 2020, Eduardo Suplicy (PT) foi o candidato a vereador mais votado na cidade como um todo e ficou em primeiro lugar em 14 zonas eleitorais. Agora, no entanto, candidatos a vereador do campo oponente foram campeões de voto em 12 das 14 áreas.
O contrário também aconteceu, mas ficou restrito a exceções. Na Vila Mariana, na região sul, Amanda Paschoal (PSOL) tomou o lugar de Dalton Silvano (então no DEM, que conquistou o posto de suplente), por exemplo. Em São Mateus, na zona leste, o posto de mais votado passou de Gilson Barreto (PSDB) para Alessandro Guedes (PT). Os dois distritos estão entre os poucos onde a vantagem passou da direita para a esquerda do espectro político.
Sete distritos eleitorais da zona leste que antes deram preferência ao PT e ao PSOL agora foram tomados rivais. Houve uma expansão da área de influência da vereadora Sandra Tadeu (PL), que conquistou seu quinto mandato consecutivo na capital.
Apesar de Lucas Pavanato (PL) ter conquistado o posto de vereador mais votado na cidade, seus votos foram pulverizados na cidade, e ele ficou em primeiro lugar apenas nos distritos da Lapa e da Mooca. Sandra Tadeu, a 9ª mais votada em toda a cidade, foi a candidata que conquistou o primeiro lugar em mais territórios: foi a campeã de seis zonas eleitorais, todas na zona leste.
Em todos os 20 distritos onde Pablo Marçal (PRTB) foi o mais votado para prefeito, os campeões de voto integram o grupo que apoia a reeleição de Nunes. A mera filiação a partidos que integram uma coalizão não significa que os vereadores eleitos farão campanha para o prefeito, como ficou claro no primeiro turno da capital.
Houve candidatos que desrespeitaram a decisão partidária e deram apoio ao ex-coach. Foi o caso de Rubinho Nunes (União Brasil) e de Joice Hasselman (Podemos). Pela traição, o União Brasil anunciou que Rubinho seria retirado da propaganda eleitoral na TV e perderia recursos de campanha. Já o apoio de Joice foi rejeitado por Marçal.
Em sete distritos da cidade, os mais votados acabaram não conseguindo se eleger e ficaram como suplentes. Só assumirão mandatos em caso de pedido de licença ou cassação de algum vereador.
TULIO KRUSE – AUGUSTO CONCONI / Folhapress