Israel ignora pressão internacional e invade base da ONU no Líbano

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tanques das Forças Armadas de Israel invadiram uma base da missão de paz da ONU no Líbano neste domingo (13), segundo as Nações Unidas em mais um ataque de Tel Aviv contra a Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano) em poucos dias.

Entre quinta (10) e sexta-feira (11), Israel bombardeou posições das tropas da ONU no sul do Líbano, país que invadiu no último dia 30, e feriu cinco capacetes azuis, ações que geraram forte condenação da comunidade internacional.

O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu voltou a dizer no domingo que os soldados da missão de paz da ONU devem se retirar das áreas de combate no Líbano, acrescentando que a presença das tropas no local as torna reféns do Hezbollah.

“Chegou a hora de o senhor retirar a Unifil das fortalezas do Hezbollah e das zonas de combate”, disse Netanyahu em um comunicado endereçado ao secretário-geral da ONU, António Guterres —declarado persona non grata em Israel desde o início do mês por, segundo Tel Aviv, não condenar o Irã após os lançamentos de mísseis contra o Estado judeu no último dia 1º.

“As Forças Armadas de Israel pediram [a retirada da Unifil] repetidas vezes, e receberam repetidas recusas, algo que tem o efeito de dar ao Hezbollah escudos humanos”, disse Netanyahu.

Tel Aviv diz mirar alvos do Hezbollah —no domingo, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, acusou o grupo armado libanês de utilizar bases da Unifil “como fachada para suas atividades terroristas”, sem apresentar provas. O Hezbollah nega utilizar instalações da ONU para lançar ataques.

Em conversa com o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, Gallant disse que seu país vai continuar tomando medidas para proteger as tropas da ONU no Líbano. Washington é o principal aliado e fiador militar e diplomático de Israel na região. O presidente Joe Biden tem pedido publicamente que Tel Aviv não ataque a Unifil; na prática, porém, segue apoiando o governo Netanyahu mesmo com a invasão do Líbano e a abertura de um novo front na guerra entre o Estado judeu e os grupos apoiados pelo Irã.

Ignorando a pressão internacional, Tel Aviv insiste que a Unifil deve se retirar das zonas de combate —os soldados da missão de paz estão lá com o objetivo de evitar que qualquer um dos dois lados do conflito atravesse a chamada Linha Azul, delimitada pela ONU entre Israel e o Líbano. A força das Nações Unidas se recusa a sair do local, dizendo que a bandeira da ONU “precisa continuar hasteada” na região.

Países que contribuem com militares para a Unifil, principalmente da Europa ocidental, fizeram coro às críticas contra Israel. A Itália falou em possíves crimes de guerra e disse que não obedecerá ordens de Tel Aviv, e a França convocou o embaixador israelense para dar explicações —um movimento diplomático que expressa grave insatisfação.

No sábado (12), 40 países que contribuem diretamente com a Unifil, incluindo o Brasil, emitiram uma nota condenando os ataques contra a missão de paz sem citar Israel. Assinaram o texto países como Alemanha, Reino Unido, China, Turquia, Itália, França e Espanha.

O Itamaraty também disse em nota na sexta-feira (11) que os ataques de Israel são inaceitáveis e violam o direito internacional, voltando a pedir por um cessar-fogo no Oriente Médio, e o papa Francisco pediu neste domingo respeito aos capacetes azuis no Líbano.

Socorristas da Cruz Vermelha no Líbano também foram feridos por um bombardeio israelense no sul do país. De acordo com a organização, ambulâncias da Cruz Vermelha foram enviadas para resgatar sobreviventes de um ataque aéreo contra uma casa, mas o local foi bombardeado uma segunda vez enquanto trabalhavam, ferindo os profissionais de saúde e danificando as ambulâncias.

Os ataques aéreos de Israel contra posições do Hezbollah no Líbano se intensificaram no domingo. A imprensa do país diz que um bombardeio israelense destruiu por completo uma mesquita histórica na cidade de Kfar Tibnit, e o Hezbollah diz ter repelido uma tentativa de invasão por terra próximo do vilarejo de Ramia. Foi a primeira vez que a milícia apoiada pelo Irã reportou combates diretos em solo com tropas israelenses desde o início do conflito atual.

Tel Aviv, por sua vez, afirma realizar uma operação limitada no sul do Líbano, e diz ter entrado em “combate corpo a corpo” contra o Hezbollah. As Forças Armadas do país anunciaram ter matado dezenas de combatentes e destruído infraestrutura militar do grupo.

Israel tem repetido que seu objetivo na invasão do Líbano é garantir a volta dos residentes do norte de Israel, fora de casa há meses —a região é o principal alvo de foguetes do grupo armado Hezbollah vindos do outro lado da fronteira.

Até aqui, a invasão de Tel Aviv contra o Líbano já forçou mais de 1,2 milhão de libaneses a deixar seus lares e matou mais de 2.000 pessoas desde o 7 de outubro de 2023, de acordo com Beirute —nove pessoas morreram no sábado depois de bombardeios de Israel, e o país ordenou que civis se retirem de outros 21 povoados no domingo.

VICTOR LACOMBE / Folhapress

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