SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu a semana com uma leve alta, refletindo os mercados do exterior, que ainda avaliam o anúncio da China que prometeu no sábado (12) um novo pacote de estímulo, mas não divulgou detalhes.
Às 9h06 desta segunda-feira (14), a moeda norte-americana subia 0,12%, a R$ 5,6225. Na sexta-feira (11), o dólar fechou em alta de 0,52%, a R$ 5,613, e a Bolsa caiu 0,27%, aos 129.992 pontos.
A tônica do dia foi a retomada da desconfiança do mercado quanto à cena fiscal brasileira. Em declarações nesta manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
A proposta “não é um compromisso de campanha, mas um compromisso de justiça”, afirmou em entrevista à Rádio O Povo/CBN, do Ceará.
“O que nós queremos é isentar aquelas pessoas até R$ 5 mil e, no futuro, isentar mais, porque, na minha cabeça, salário não é renda. Renda é o cara que vive de especulação. Esse, sim, deveria pagar imposto de renda”, disse o presidente.
Ele também criticou a isenção do IR para dividendos: “Você não pode fazer com que as pessoas que ganham R$ 5 mil paguem IR enquanto os caras que têm ação da Petrobras recebem R$ 45 bilhões de dividendos sem pagar.”
A Folha de S.Paulo noticiou que o Ministério da Fazenda estuda a criação de um imposto mínimo para pessoas físicas para garantir uma tributação efetiva da renda dos milionários no Brasil, para bancar o aumento para R$ 5.000 da faixa de isenção do IRPF. O valor atual de isenção é de dois salários mínimos (R$ 2.824).
Na proposta em estudo na Fazenda, o imposto mínimo sobre as pessoas físicas milionárias teria uma alíquota a ser definida entre 12% ou 15% da renda.
As falas de Lula criaram ruídos entre os investidores, em um momento em que o mercado já estava sensível ao risco fiscal. Na quarta-feira, as taxas de juros futuros dispararam por dúvidas em relação à estabilidade das contas públicas.
“O governo começou a falar que vai isentar e que vai arrecadar, mas não se sabe como isso será feito. Em momento algum se fala em contenção de gastos ou controle da ponta das despesas, então isso cria um ruído sobre o Brasil, que está perdendo mais uma oportunidade de acompanhar as máximas das Bolsas americanas e o bom humor global”, avalia Ramon Coser, especialista da Valor Investimentos.
Em resposta, além da disparada do câmbio, as curvas de juros futuros subiram mais de 1% nesta sessão.
A leitura é que os juros terão de subir para dar conta das pressões inflacionárias, causadas, em parte, pela expansão de gastos públicos. O mercado ainda duvida da capacidade estrutural do governo de bancar as contas do país, à medida que o déficit tem sido coberto com receitas não recorrentes.
O alerta também apareceu na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), quando a taxa básica de juros do país, a Selic, teve alta de 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano.
Os dirigentes da autarquia, em especial o presidente Roberto Campos Neto, têm reiterado que é preciso de um choque fiscal positivo para que o país consiga voltar a conviver com taxas mais baixas de juros.
O movimento de aperto na Selic tem sido o oposto do adotado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).
A autoridade americana iniciou o aguardado ciclo de cortes no encontro de setembro, tendo como justificativa a gradual convergência da inflação à meta de 2% e a desaceleração dos níveis de emprego. A redução -a primeira em quatro anos– foi de 0,50 ponto percentual, levando a taxa à banda de 4,75% e 5%.
Os números de inflação e de emprego têm sido monitorados de perto pelos investidores, que buscam pistas sobre as próximas decisões de juros.
Os dados divulgados nesta e na última semana consolidaram apostas de que o ritmo dos próximos cortes será mais moderado. “Os números de emprego e inflação mais fortes reforçam o cenário de 0,25 ponto percentual de corte na decisão de novembro”, afirma Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas.
Na ferramenta CME FedWatch, a probabilidade de um corte de 0,25 ponto reunia 85,9% dos operadores, enquanto a de manutenção da taxa no atual patamar tinha os 14,1% restantes.
Quanto menores os juros nos Estados Unidos, pior para o dólar, que se torna menos atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, os treasuries, caem. A perspectiva de cortes mais graduais, porém, tem favorecido a moeda em relação às outras divisas, sobretudo o real, que acumula perdas de mais de 3,27% só na semana passada.
Também na cena internacional, os investidores aguardavam o detalhamento do pacote de estímulos da China.
Na terça-feira (8), a divulgação de parte dos planos das autoridades chinesas para reaquecer a economia decepcionou o mercado, e, no dia seguinte, o Ministério das Finanças afirmou que irá realizar uma entrevista coletiva no sábado para detalhar as medidas fiscais de estímulo, impondo cautela aos operadores.
Redação / Folhapress