RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um ano após fundar o Movimento VAT (Vida Além do Trabalho) a partir de um vídeo no TikTok, o “influenciador” Rick Azevedo (PSOL), 30, que milita pela redução da jornada de trabalho, surpreendeu o meio político do Rio de Janeiro e foi o vereador mais votado da sigla para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Ele superou todos os candidatos à reeleição do partido inclusive Mônica Benício, viúva da vereadora Marielle Franco (PSOL), e obteve 29.364 votos, 301 a menos que o ex-prefeito Cesar Maia (PSD). Foi o 12º mais votado para a Câmara, que tem 51 vagas.
Até setembro do ano passado Azevedo era balconista de uma farmácia e mantinha uma conta no TikTok voltada à cultura pop, em especial a cantora Beyoncé. Após ser convocado para trabalhar mais cedo no dia seguinte, desabafou para o seus seguidores contra o regime de uma folga a cada seis dias trabalhados, previsto na CLT.
“Eu to querendo saber quando é que nós, da classe trabalhadora, iremos fazer uma revolução nesse país em relação a essa escala 6 por 1. Gente, é uma escravidão moderna. Moderna, não. Ultrapassada”, disse ele, em 13 de setembro de 2023.
O vídeo viralizou a partir de seus, à época, cerca de 40 mil seguidores enquanto Azevedo atendia no balcão da farmácia, sem acesso ao celular.
“Era um desabafo, que eu achei que seria só mais um desabafo que ficaria ali entre poucas pessoas. Já tinha tido outros vídeos virais, mas relacionado à pauta trabalhista, nunca. Quando pega essa proporção toda e eu falei: ‘Cara, tem algo diferente aqui. É o que eu precisava'”, disse ele.
Após o vídeo, ele criou uma comunidade de WhatsApp que, em dias, atingiu o máximo de 2.000 integrantes. Foi quando procurou um amigo advogado para elaborar uma petição pública para o Congresso que recebeu nos primeiros meses 200 mil assinaturas.
Azevedo conta ter procurado a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) para apresentar a petição, que se transformou numa PEC (Proposta de Emenda à Constituição) apresentada no último 1º de Maio. A nova articulação política o aproximou do partido e da candidatura.
A petição tinha nesta sexta-feira (11) mais de 1,3 milhão de assinaturas. Rick saltou para 225 mil seguidores no TikTok
Nascido em Tocantins, ele foi morar no Rio de Janeiro aos 19 anos para tentar emprego. Trabalhou sempre como atendente em comércio, supermercado e farmácia, além de fazer bicos para se sustentar. Estudou jornalismo até o 6º período.
Um mês após seu vídeo viralizar, ele deixou a farmácia onde trabalhava e passou a viver de bicos enquanto articulava o Movimento VAT.
A pauta principal de Rick, exposta em todos os vídeos e no cartaz que carrega para todo canto em que vai panfletar, é o fim da jornada de seis dias para um de folga. Ele afirma que a mensagem clara e direta foi o que o catapultou como liderança política da cidade.
“É um momento novo, uma geração nova que tá no TikTok rapidinho, que quer ver um vídeo rápido. O meu partido e vários outros partidos não estão prontos para uma conversa mais jovial e mais tecnológica.”
Apesar de querer mudança na CLT, ele defende a manutenção da formalização do trabalho.
“Eu estou aqui para reforçar e atualizar a CLT. Esse discurso neoliberal de que as pessoas não querem mais CLT é um discurso para desmontar ela. E isso está totalmente errado. Todo mundo quer um 13º, férias remuneradas, uma garantia. O que as pessoas não querem é trabalhar seis dias para afogar apenas um dia e passar fome”, disse ele.
Ele reconhece que sua pauta tem mais relação com a atuação no Congresso. Mas afirma que na Câmara Municipal pode ajudar na articulação.
“Enquanto vereador, vou procurar ter diálogos firmes e incisivos para que a classe trabalhadora não seja tão sucateada. Recentemente, encontrei um empresário em Ipanema, de uma grande rede de supermercado, ele me reconheceu na rua e me chamou e disse: ‘O seu debate está correto, realmente 6×1 é ultrapassado'”, disse ele.
Azevedo recebeu R$ 60 mil do PSOL para a campanha. O presidente da sigla no Rio de Janeiro, Juan Leal, disse que foi um investimento alto considerando ter sido um candidato que estreava nas urnas. Os candidatos à reeleição receberam pouco mais de R$ 300 mil.
O “influencer” acabou minimizando a redução da representação do partido na Câmara. Três vereadores não foram reeleitos, reduzindo o número de cadeiras de 6 para 4. Ele também ampliou a votação do partido nas zonas oeste e norte, áreas mais pobres da cidade.
ITALO NOGUEIRA / Folhapress