Sócio de laboratório suspeito de emitir laudos que resultaram em contaminação de pacientes com HIV é preso

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O médico ginecologista Walter Vieira, um dos sócios do Laboratório PCS Saleme —que emitiu supostos laudos falsos que resultaram no transplante de órgãos infectados com HIV para seis pacientes— foi preso na manhã desta segunda-feira (14) durante operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O responsável técnico pelos laudos também foi preso.

A operação, que tem o objetivo de identificar os responsáveis pela emissão dos documentos errados, cumpre 11 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão na cidade do Rio e em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

O laboratório é um dos alvos das investigações. A polícia suspeita que o grupo tenha falsificado laudos também em outros casos.

Em nota, a defesa de Walter e Mateus Vieira, outro sócio da instituição, disse repudiar a “suposta existência de um esquema criminoso para forjar laudos dentro do laboratório, uma empresa que atua no mercado há mais de 50 anos.” Diz ainda que ambos prestarão todos os esclarecimentos à Justiça.

“Determinei imediatamente a instauração do inquérito, atendendo a determinação do governador para que os fatos fossem investigados com maior rigor e rapidez. Conseguimos elementos para representar pelas cautelares junto à Justiça em tempo recorde, para que os culpados sejam punidos com a maior celeridade”, disse o secretário de Estado da Polícia Civil, Felipe Curi.

Na sexta-feira (11), Walter Sales foi afastado das atividades como presidente do Comitê Gestor de Vigilância e Análise do Óbito Materno Infantil e Fetal do município de Nova Iguaçu. O médico é concursado e, segundo nota da Secretaria Municipal de Saúde da cidade, exercia o cargo de presidente do comitê de forma não remunerada.

O outro sócio, Mateus Vieira, é primo do ex-secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro e deputado federal Doutor Luizinho, atual líder do PP (Progressistas) na Câmara dos Deputados. Embora Luizinho não esteja mais no cargo, ele ocupava a posição de secretário durante o processo de contratação do laboratório. Em nota, o deputado afirmou que espera que o caso seja investigado de forma rápida e que os culpados sejam punidos “exemplarmente”.

O laboratório PCS Lab Saleme afirmou, também em nota no domingo (13), que os resultados preliminares de uma investigação interna indicam que um erro humano levou à infecção com o vírus HIV de seis pessoas que receberam transplantes de órgãos no Estado do Rio de Janeiro.

Nesta segunda (14), a Secretaria de Saúde do Estado do Rio confirmou que um dos pacientes transplantados morreu poucos dias após a cirurgia, mas não há comprovação de que a morte tenha qualquer relação com a contaminação por HIV. O quadro de saúde do paciente era delicado.

“Os resultados preliminares da sindicância interna apontam indícios de erro humano na transcrição dos resultados de dois testes de HIV, o que resultou na infecção de seis pessoas. A empresa, embora ainda não tenha sido notificada formalmente sobre o andamento das investigações –nem na esfera criminal, nem na administrativa– está à disposição das autoridades”, declarou.

Durante o período em que o laboratório prestou serviços para o sistema de saúde estadual do Rio de Janeiro, ele realizou 286 testes para o sistema de transplantes. Após a divulgação da contaminação dos receptores, a secretaria de Saúde do estado afirmou que faria o teste das amostras de sangue mais uma vez.

A Folha confirmou que um dos laudos que atestou negativo para HIV no caso dos pacientes que foram infectados pelo vírus após transplantes no Rio de Janeiro foi assinado por Jacqueline Iris Bacellar de Assis, que é técnica em patologia clínica. Abaixo do nome, no entanto, havia o registro profissional de uma biomédica que mora em Recife e está com seu registro suspenso.

A biomédica afirmou que nunca trabalhou no Rio de Janeiro e irá fazer um boletim de ocorrência sobre o uso do seu registro.

Jaqueline é vinculada ao Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro e tem especialização em patologia clínica. Seu advogado, José Félix, afirma que ela encaminhava os resultados dos exames para um médico do laboratório, mas não os assinava.

Redação / Folhapress

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