Santinhos mantêm topo de gastos eleitorais, e resíduos entram na mira

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostram que a publicidade com materiais impressos é a maior despesa de campanha na eleição de 2024. Foram R$ 808,7 milhões, o triplo do gasto com a produção de programas de TV e rádio (R$ 279,2 milhões) e quase cinco vezes o investido em impulsionamento de conteúdos (R$ 179 milhões) nas redes sociais.

Os gastos com “santinhos” e “colinhas” não são novidade e se mantêm no topo da lista das campanhas apesar da digitalização da política, com investimento em redes sociais.

Nos últimos anos, o fato de os panfletos poluírem as cidades, principalmente na reta final da eleição, virou alvo de críticas e entrou na mira da Justiça Eleitoral.

Políticos afirmam que os materiais impressos ajudam a alcançar eleitores nas bases e a reter a imagem de candidatos locais. O ex-deputado federal Luiz Carlos Ramos (PSD) avalia que eleitores mais velhos não dispensam “santinhos”.

“O papel é um símbolo que as pessoas respeitam. O eleitor pega e leva para casa”, diz.

Ramos afirma que as redes sociais têm força para candidatos com uma bandeira clara ou que são impulsionados por um padrinho político forte. Os panfletos, para ele, tornaram-se essenciais para aqueles que têm como marca uma atuação territorial.

“Aquele vereador mais de bairro, que é a maioria, tem que fazer o beabá, senão o eleitor não conhece”, afirma ele, responsável por organizar a lista de candidatos do PSD no Rio de Janeiro. A sigla conquistou uma bancada recorde de 16 vereadores na cidade.

O publicitário Paulo Vasconcelos, que fez a campanha de Alexandre Ramagem (PL) no Rio de Janeiro e atua na de Fuad Noman (PSD), em Belo Horizonte, afirma que os “santinhos” são uma forma de candidatos à prefeitura demonstrarem apoio aos seus indicados para a Câmara Municipal.

“Junto com o santinho, [o candidato a prefeito] ajuda com gasolina, aluguel do carro. O santinho acaba sendo algo tangível de um apoio”, afirma.

Vasconcelos avalia que os panfletos têm força sobre eleitores mais pobres, principalmente, na reta final das campanhas. Nesses dias, acontecem os “derrames”, quando o material é lançado nas ruas.

Levantamento da Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) junto às empresas do setor indica que 37% delas atuaram em campanhas políticas.

O impacto ambiental dos santinhos entrou no radar de alguns candidatos nessa campanha, também como bandeira política. A vereadora reeleita Tainá de Paula (PT-RJ) afirmou ter plantado 600 mudas de árvores para neutralizar os 2 milhões de panfletos produzidos e os dez carros utilizados na campanha. Ela afirma que, apesar da preocupação ambiental, não pode abrir mão do material impresso.

“O meu público é, em sua maior parte, mais vulnerável e mais pobre. A chance de a pessoa clicar no link no meu site e acessar meu material é muito baixa. O pacote de dados muitas vezes não atende o tanto de acesso à informação que ela deveria ter”, diz a vereadora.

Ela aponta também que a lógica das “bolhas digitais” determinada pelos algoritmos das redes sociais impede uma campanha concentrada no ambiente virtual. “Está cada vez mais difícil conseguir acessar um campo mais amplo do público. Isso faz com que o acesso direto ao eleitor ainda seja muito necessário”.

Em Fortaleza, o vereador reeleito Gabriel Biologia (PSOL) fez santinhos em folhas secas. A deputada Duda Salabert (PDT), derrotada na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte, vetou o uso de panfletos, como já fazia desde 2020.

Vereador reeleito em Fortaleza, Gabriel Biologia substituiu santinhos por folhas secas durante a campanha, como a mostrada na foto Divulgação Assessoria **** A Justiça Eleitoral também aderiu à campanha “Eleições Sustentáveis”, criada pelo TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais) em 2018. Desde aquela eleição, o tribunal manda aos partidos uma lista de cooperativas de reciclagem para envio do material impresso que sobrou ao fim da campanha.

Em 2018, as cooperativas mineiras informaram ter recebido 11 toneladas de resíduos. Dois anos depois, foram 28 toneladas e, em 2022, 55.

Karina Bedran, chefe da Seção de Gestão Sustentável do TRE-MG e responsável pelo projeto, estudou o impacto ambiental das eleições em sua tese de mestrado, concluído em 2013.

“Quando entrava em contato com outros tribunais para saber sobre medidas nessa linha, eles diziam que não tinham nada a ver com isso. Para ver como mudou o entendimento nos últimos tempos”, afirma ela.

Cálculo divulgado em 2012 pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), feito pelo juiz Paulo Tamburini, revela que o material impresso naquela eleição municipal poderia ser utilizado para a publicação de 40 milhões de livros escolares de 50 páginas.

O magistrado estimou, pela prestação de contas dos candidatos naquele ano, que foram produzidos 57 bilhões de santinhos, cuja confecção teria consumido, segundo os cálculos, 603 mil árvores e 3 bilhões de litros de água.

ITALO NOGUEIRA / Folhapress

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