Dólar dispara e Bolsa cai, com queda de commodities no exterior e atenção a contas públicas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta forte alta nesta terça-feira (15), com a queda de commodities no exterior minando o apetite por ativos de maior risco.

Às 12h47, a moeda norte-americana disparava 1,10% em relação ao real, a R$ 5,643, em movimento também visto em outras divisas de mercados emergentes.

Já a Bolsa perdia 0,21%, aos 130.727 pontos, com as quedas da Vale e da Petrobras contrabalançadas por empresas ligadas à economia doméstica, sustentadas pela perspectiva de corte de gastos do governo federal.

Os investidores avaliavam os planos de estímulo econômico da China e as tensões no Oriente Médio —duas fontes de volatilidade nas últimas semanas.

A começar pela ponta asiática, reportagem da publicação chinesa Caixin Global apontou que a China pode levantar mais 6 trilhões de iuanes (US$ 850 bilhões) com títulos especiais do Tesouro ao longo de três anos para estimular o crescimento econômico.

A matéria, feita com fontes internas, segue a esteira da entrevista coletiva de Lan Fo’an, o ministro das Finanças chinês, no sábado. Sem detalhar números, ele disse que Pequim “aumentará significativamente” a dívida pública para injetar estímulos na economia, sobretudo para o mercado imobiliário, setor bancário e governos locais.

O número divulgado pela Caixin não foi o suficiente para reanimar investidores, já decepcionados pela ausência de detalhes sobre o tamanho e o cronograma das medidas fiscais.

A intensidade do pacote de estímulos tem sido objeto de especulação nos mercados financeiros desde que foi anunciado, há cerca de três semanas. De lá para cá, as ações chinesas atingiram o maior nível em dois anos, até recuarem novamente na ausência de informações oficiais.

O sentimento de decepção tem se espalhado no mercado de commodities, afetando países exportadores. O minério de ferro, negociado na Bolsa de Dalian, enfrentou uma sessão de baixa nesta terça, com a perspectiva de uma demanda menor por parte da China —maior importador de matérias-primas do mundo.

Isso, na Bolsa brasileira, afetava as ações da Vale, em queda de 1,88%, apesar da recomendação de compra do banco JPMorgan.

Já em relação ao Oriente Médio, uma reportagem do The Washington Post informou que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, teria dito aos Estados Unidos que está disposto a atacar alvos militares iranianos, e não alvos nucleares ou petrolíferos.

A notícia acalmou preocupações em relação a um possível distúrbio no fornecimento de petróleo da região. Com temores de oferta arrefecidos, os preços do barril do Brent, referência do exterior, entraram em movimento de correção e despencavam quase 5%, afetando países exportadores da commodity, como o Brasil.

Aqui, as ações da Petrobras perdiam 1,59%. No câmbio, o real era penalizado pelas principais commodities do país —o petróleo e o minério de ferro— em desvalorização.

“Temos um descolamento aqui. O dólar está perdendo valor frente às principais moedas do mundo, mas está se apreciando contra a cesta de moedas emergentes”, disse Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.

“Muito disso provavelmente por conta da expectativa de queda nos preços de commodities, que representa uma significativa pauta de exportação da maioria desses países.”

Na cena doméstica, os investidores ainda avaliavam a notícia de que o governo federal prepara medidas de contenção de gastos após o segundo turno das eleições municipais.

O mercado aguardava algum tipo de sinalização de corte de despesas diante de um contexto desafiador para a percepção fiscal, segundo analistas.

A notícia foi dada primeiro pela agência Reuters, com duas fontes internas do Ministério da Fazenda com conhecimento no assunto.

Uma das pessoas ouvidas pela reportagem disse que o governo prepara um primeiro pacote visando gastos específicos e pontuais, seguido por outro com propostas estruturais e “mais duras”.

Uma segunda fonte da pasta afirmou que a contenção de gastos obrigatórios virá para dar sustentação “por dentro” ao arcabouço fiscal, abrindo margem para as despesas discricionárias, que incluem investimentos.

As medidas serão apresentadas depois do segundo turno das eleições, marcado para 27 de outubro.

Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, muita coisa pode ocorrer até essa data. “Se as medidas do governo federal serão ou não de fato materializadas, só os próximos dias dirão”.

Também estava no radar comentários do presidente BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, em evento online da Uqbar. Ele apontou que o atual ciclo de crédito no Brasil segue com expansão em volume de concessões e redução de taxas de juros na maior parte das linhas.

Redação / Folhapress

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