RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Servidores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que atuam em uma das unidades do órgão no Rio de Janeiro paralisam as atividades nesta terça (15).
Trata-se de um novo protesto contra medidas da gestão do economista Marcio Pochmann, que preside o IBGE desde agosto do ano passado. Ele foi indicado ao comando do instituto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Prevista para durar 24 horas, a paralisação envolve servidores da unidade da avenida Chile, no centro do Rio. Pela manhã, o local também recebeu um ato de trabalhadores contra decisões de Pochmann. Eles levaram faixas e se revezaram em discursos.
A unidade da avenida Chile abriga as duas principais diretorias do IBGE: Pesquisas e Geociências. A Diretoria de Tecnologia da Informação também fica no endereço.
A paralisação foi anunciada na semana passada pelo núcleo da Assibge que representa os servidores da avenida Chile. Conforme a associação sindical, em torno de 700 funcionários estão vinculados aos departamentos dessa unidade do IBGE.
O protesto desta terça foi encerrado por volta das 12h, quando a organização anunciou a presença de cerca de 300 pessoas. O ato também pediu para que a paralisação continuasse ao longo do dia.
Em nota, a direção do IBGE afirmou que o órgão não foi avisado oficialmente sobre a realização de uma “possível greve de 24 horas”.
O texto afirma que, segundo a legislação, em atividades essenciais, as representações sindicais devem comunicar oficialmente os empregadores com antecedência mínima de 72 horas da paralisação.
“Cabe ao IBGE zelar pela lei e o papel democrático das relações de trabalho, para a conclusão, a contento, do plano de trabalho referente ao exercício de 2024”, diz a direção.
O órgão divulgou nesta terça o LSPA (Levantamento Sistemático da Produção Agrícola), que traz projeções sobre a safra de grãos no país. A paralisação dos servidores não afetou a publicação dos dados, que ocorreu no horário previsto das 9h.
A crise interna do instituto ficou explícita em setembro. Servidores reclamam de falta de diálogo com Pochmann na implementação de medidas recentes. A gestão dele já disse que as acusações de autoritarismo são “infundadas”.
IBGE PARALELO É ALVO DE CRÍTICAS
Um ponto que preocupa funcionários, ex-servidores e lideranças sindicais é a criação de uma fundação pública de direito privado, a IBGE+.
A Assibge afirma que a ideia foi colocada em prática pela gestão Pochmann sem diálogo com os trabalhadores da casa. Há quem considere a nova organização uma espécie de “IBGE paralelo”.
O estatuto da fundação prevê, por exemplo, a possibilidade de parcerias com órgãos privados e públicos para a realização de pesquisas.
A presidência do IBGE rebateu as críticas, dizendo que a IBGE+ permitirá o recebimento de recursos para atender a projetos desenvolvidos com ministérios, bancos públicos e autarquias.
O site recém criado da fundação confirma a escolha de Marco Cícero Noce de Paulo Maciel para o cargo de diretor-executivo da IBGE+.
Ele é servidor aposentado do IBGE. Tem graduação em administração pela Escola Brasileira de Administração Pública da FGV e doutorado em ciências econômicas pelo Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), segundo informações disponíveis no site da IBGE+. Pochmann construiu carreira acadêmica na Unicamp.
Para o cargo de presidente do conselho curador da IBGE+, o indicado é Walid Nemer Damous Sobrinho. Ele é gerente de Relações Institucionais do IBGE.
Outro membro titular do conselho curador é o economista e professor Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo. Belluzzo é doutor pela Unicamp, já foi considerado conselheiro econômico de Lula e também atuou como presidente do Palmeiras.
A lista de membros titulares do conselho curador da fundação ainda tem Francisco Garrido Barcia, superintendente estadual do IBGE em São Paulo, e Sonia Val Dias, chefe de gabinete da presidência do instituto.
Já o cargo de presidente do conselho fiscal da IBGE+ é preenchido por Gabriel Correa Teles de Assis, contador do IBGE.
“Os cargos estão sendo nomeados na forma do Estatuto da Fundação IBGE+, obedecidos os critérios de qualificação técnica e idoneidade”, afirma o instituto em nota enviada à reportagem.
Além da criação da fundação, outra medida que irritou técnicos e lideranças sindicais foi o projeto de mudança dos trabalhadores da avenida Chile para um prédio do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) no Horto, zona sul do Rio.
O novo endereço é considerado de difícil acesso via transporte público.
A gestão Pochmann, por sua vez, alega que os custos com aluguel de prédios pesam no orçamento do IBGE. Já declarou que, com a possível desocupação do imóvel na avenida Chile, usará recursos para melhoria de endereços próprios.
Em 26 de setembro, servidores já haviam feito um protesto em frente à sede do IBGE, na avenida Franklin Roosevelt, no centro do Rio.
Um grupo voltou a se manifestar há uma semana, durante o evento de lançamento da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), na Casa Brasil IBGE, também na capital fluminense.
No governo Lula, o instituto está sob guarda-chuva do Ministério do Planejamento e Orçamento. Procurada pela reportagem, a pasta não se manifestou sobre a crise no IBGE até a atualização desta reportagem.
LEONARDO VIECELI / Folhapress