SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta (17) terem empregado bombardeiros furtivos ao radar B-2 Spirit para atacar cinco bunkers com armas dos rebeldes houthis do Iêmen.
Foi um sinal nada sutil aos patronos do grupo, o Irã, no momento em que Israel prepara sua retaliação contra Teerã devido ao ataque com mísseis balísticos promovido pela teocracia no dia 1º deste mês.
“Esta foi uma demonstração sem igual da habilidade dos EUA de alvejar instalações que nossos adversários buscam deixar fora de alcance, não importa o quão profundamente enterrada no subsolo, reforçada ou fortificada”, disse o secretário Lloyd Austin (Defesa), em nota.
“O emprego do B-2 demonstra a capacidade global de ataque americana para agir contra esses alvos quando for necessário, a qualquer hora, em qualquer lugar”, completou, só faltando dizer “ouviu, Irã?”, ao fim do texto.
O recado é claro: quando Israel atacar a teocracia, o que já disse que fará após receber 181 mísseis balísticos sobre seu solo há pouco mais de duas semanas, os EUA estarão prontos para agir caso Teerã resolva escalar o conflito. Os americanos já haviam aumentado suas forças na região.
Isso ocorre na mesma semana em que Washington enviou 1 dos 7 poderosos sistemas antiaéreos de alta altitude Thaad existentes para Israel, juntamente com cem militares para operá-los.
O reforço na já eficaz defesa israelense colocou os EUA ainda mais perto de envolvimento na guerra disparada pelo ataque terrorista do Hamas palestino, aliado do Irã, Hezbollah, houthis e outros atores financiados por Teerã na região. A percepção agora ficou ainda mais clara.
A citação a alvos subterrâneos remete às instalações do programa nuclear dos iranianos, que foi paralisado em 2015 por um acordo em que os aiatolás trocavam a busca pela bomba atômica pelo fim de sanções, mas retomado após Donald Trump deixar o arranjo em 2018.
É um segredo de polichinelo que os laboratórios e as ultracentrífugas de enriquecimento de urânio mais sensíveis do programa, que a Agência Internacional de Energia Atômica diz estar a um passo da bomba, ficam em bunkers reforçados.
Apesar de Israel ter capacidades de um ataque contra elas, os EUA trabalharam para demover o Estado judeu de fazer isso, justamente para não piorar o conflito. Relatos recentes indicam que a indústria petrolífera do país persa também será poupada nesta rodada do conflito, devido aos temores sobre o preço da commodity.
Alvos militares parecem estar na lista prioritária agora, ainda que o premiê Binyamin Netanyahu siga dizendo que tomará a decisão de forma soberana.
Seria uma retaliação proporcional, dado que o Irã buscou atacar prioritariamente bases aéreas de Israel na ação passada, a segunda do tipo na história a primeira, em abril, foi maior em escopo, mas menos poderosa em temos de armas empregadas.
Há outro fator: os israelenses têm acesso a armas com poder de penetração em bunkers, como as bombas guiadas que mataram o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, no fim de setembro.
Mas Tel Aviv não tem a mais poderosa de todas elas, a GBU-57 MOP (Munição de Penetração Maciça, na sigla inglesa). É um mastodonte de 13,6 toneladas que só pode ser transportado pelos letais B-2.
Não se sabe se os EUA usaram a bomba no ataque, dado que poderiam fazer o serviço com armas mais baratas disponíveis, de 900 kg ou de 2,2 toneladas, dado que os bunkers houthis não são tão sofisticados quanto os do Irã.
Há a possibilidade que tenham gasto 1 das 20 MPOs que especialistas acreditam existir para mandar um sinal inequívoco para Teerã. Os houthis têm atacado pontualmente Israel e bagunçaram o comércio mundial atingindo navios no mar Vermelho, mas sozinhos não mereceriam a duvidosa distinção.
O emprego dos B-2 é sintomático, por raríssimo. Em forma de asa voadora e empregando materiais absorventes a ondas de radar, o bombardeio ganho o apelido de invisível por ser de difícil detecção. Começou a se operado em 1997 e viu ação dois anos depois, na guerra do Kosovo.
A última vez em que o modelo foi usado em combate conhecida foi em 2017, quando atacou posições do Estado Islâmico na Líbia. O avião é, ao lado do veterano B-52, o vetor para lançamento de mísseis e bombas nucleares dos EUA pelo a.
O B-2 será substituído nos anos 2030 pelo B-21 Raider, que já está em produção e testes. É considerado um modelo mais avançado, mas também mais econômico: os 21 Spirit construídos custaram até R$ 22 bilhões (em valores atuais), a depender da conta, sendo os aviões mais caros já feitos. Dois foram perdidos em acidentes.
IGOR GIELOW / Folhapress