Furlan põe à prova ‘reinado’ em Barueri, com vice contra candidato de Marçal

BARUERI, SP (FOLHAPRESS) – A eleição municipal é o assunto mais comentado no açougue onde Esmeraldo Gomes, 46, trabalha, no centro de Barueri. A cidade da região metropolitana de São Paulo terá segundo turno pela primeira vez na história. À boca pequena, Gomes ouve, além de pedidos pelas carnes sanguinolentas ali penduradas, comentários sobre temas candentes da vida pública.

Ele mesmo faz reclamações. “O atendimento na saúde é péssimo, você é bem maltratado em algumas regiões”, conta ele, morador do bairro Paulista há quase três décadas. Durante todo esse tempo, Gomes afirma ter visto apenas um único grupo político no poder: o do prefeito Rubens Furlan (PSB), que acumula seis mandatos à frente da cidade.

Não podendo emendar um terceiro mandato consecutivo, Furlan colocou à prova o seu reinado político ao lançar o vice, Beto Piteri (Republicanos), na corrida eleitoral contra um antigo aliado seu, Gil Arantes (União Brasil), que já foi três vezes prefeito. “Cada um deles tem sua particularidade, mas os defeitos deles são exatamente os mesmos que todos os políticos do país têm”, afirma Gomes.

No primeiro turno, Piteri teve 48% dos votos contra os 39% somados por Arantes.

Em mandatos de Furlan, Piteri foi secretário de Obras e secretário de Governo. Natural de Osasco, o candidato foi eleito, nos anos 1980, prefeito de Jandira, cidade vizinha a Barueri. Nesta candidatura, ganhou os apoios do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do presidente Lula (PT), que gravou um vídeo para o candidato.

O material, no entanto, foi escondido pela campanha, que preferiu atrelar seu nome só ao de Tarcísio. “Nem sei por onde veio o vídeo. A eleição presidencial não foi boa para o país, não fez bem para a democracia”, afirma. “O apoio do governador é muito importante, ainda mais sendo ele bem avaliado.”

Furlan, seu padrinho político no município, foi citado na Operação Prato Feito, deflagrada para investigar desvios de recursos para merendas. O prefeito também teve problemas, nas eleições de 2012, com a Justiça Eleitoral. Ele foi acusado de abuso de poder econômico na disputa. Furlan nega as acusações.

Piteri diz que, se eleito, a saúde será prioridade. Por isso, promete modernizar o atendimento, para que a população marque as consultas pelo WhatsApp. Conta ainda que vai criar uma nova maternidade em Barueri. “A saúde deixa a desejar, tem muita fila”, afirma o comerciante Francisco Mendes, 52. “Quem não tem convênio sofre muito para ter consulta” diz a lojista Adriana Albuquerque, 42.

A 26 km da praça da Sé fica Barueri, com mais de 316 mil habitantes e o quinto maior PIB dos municípios da região metropolitana. A opulência de Alphaville, bairro onde Ferraris vermelhas desfilam nas avenidas cercadas por empresas, contrasta com as comunidades pobres.

De 2010 até 2022, a população de Barueri subiu 31%, crescimento motivado pelas famílias que migram para a cidade, em busca de melhores condições de vida. Num escritório em Alphaville, todo decorado com imagens de santos, Gil Arantes, o outro candidato, recebeu a reportagem da Folha de S.Paulo.

Arantes terminou seu terceiro mandato com uma liminar, depois de ter sido afastado do cargo pela Justiça. Em 2015, a Procuradoria-Geral de Justiça acusou-o de ter cometido 63 crimes, entre desvios de verba pública e lavagem de dinheiro. Arantes foi apontado como o mentor de um esquema de corrupção, com o superfaturamento de imóveis desapropriados. Ao todo, o Ministério Público cobrou do ex-prefeito a devolução de R$ 26 milhões ao município.

“Não me sinto constrangido [em me candidatar], porque fui absolvido, a acusação foi ilegal. Eu sou inocente de tudo isso que me acusaram. Isso foi uma armação dos adversários da época”, afirma Arantes, que, por 25 anos, foi aliado de Furlan.

Ele deixou o grupo em 2011, ano em que Furlan negou apoiar sua reeleição ao cargo de deputado estadual —Arantes conseguiria se reeleger mesmo assim. Agora, o candidato tem como vice da chapa sua mulher, Silvia Arantes. O ex-prefeito destaca o trabalho social de Silvia, uma líder na cidade, segundo ele.

Nas redes, Arantes tem o apoio do ator Marcello Airoldi, importante nome do teatro paulistano, conhecido pelos papeis em novelas da Globo, como “Belíssima”. Nos anos 1990, o artista foi nomeado pelo ex-prefeito como diretor do departamento de Cultura da cidade.

Ao modo de Tabata Amaral (PSB), Airoldi estrela peças publicitárias parecidas com séries policiais. Nelas, acusa Piteri de ter sido o pior prefeito da história de Jandira. Arantes pensa ser improvável Airoldi ganhar um cargo em um possível novo mandato. “A atividade teatral dele é muito grande”, diz o candidato.

Procurado pela reportagem, Airoldi não se pronunciou. O candidato, de todo modo, tem o apoio de Pablo Marçal (PRTB), que só não foi ao segundo turno em São Paulo por 55 mil votos. Caso Arantes seja eleito, Marçal prometeu assumir a Secretaria do Empreendedorismo.

Por fim, Arantes diz que Piteri ganhou a liderança, porque comprou votos e fez boca de urna. Ele não tem provas para sustentar a acusação. Para a saúde, o candidato cita a contratação de mais médicos e diz que vai implantar o modelo de consulta online.

Em 2016, Arantes havia anunciado o encerramento de sua carreira política. “Eu conheço o outro candidato e sei que ele não tem competência para governar a nossa cidade”, diz.

GUSTAVO ZEITEL / Folhapress

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