RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Um dos principais nomes da história do skate brasileiro, Pedro Barros enxerga uma evolução do esporte no Brasil, mas ainda vê uma distância para a profissionalização completa da modalidade no país. Em sua avaliação, a maioria dos skatistas tupiniquins ainda não consegue viver exclusivamente disso, e as remunerações deixam a desejar.
“Se com o tempo gerarmos essa consciência nas pessoas, quem sabe daqui a uns anos o skate chega num patamar onde tenhamos realmente profissionais, porque nesta quinta-feira (17), como somos tratados perante a indústria, somos uma porcentagem muito pequena de quem realmente consegue viver a vida como profissional”, disse Pedro Barros, complementando:
“Muitos skatistas têm que assumir outros trabalhos para conseguir ter uma remuneração, pois o profissional não é pago nem o suficiente para sobreviver o mês dele pagando seu aluguel, sua comida e as despesas com o skate. Tem esporte ganhando milhões e que está fazendo muito pouco para suas comunidades, para realmente melhorarem as coisas. O skate é um esporte que com muito pouco tempo vem criando grandes mudanças não só para os esportistas como para o meio social que ele se envolve”, diz Pedro.
BARROS VÊ STU COM NÍVEL MELHOR QUE OLIMPÍADAS
Pedro Barros será uma das principais estrelas do STU Pro Tour Rio, evento que acontece desta quinta (17) até domingo (20) na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Prata olímpico, três vezes campeão do mundo e cinco vezes do X-Games, o skatista acredita que, na maioria das vezes, o torneio que é brasileiro tem um nível melhor do que o dos Jogos Olímpicos, que já teve duas edições. O atleta, porém, lamenta que ele não gere nem perto da audiência olímpica.
“Um exemplo que é fácil de visualizar são as Olimpíadas, que assumiram o skate. No dia da final, tinham bilhões de pessoas conectadas assistindo. Aí o STU, que é uma empresa brasileira, que iniciou por conta própria, que muitas vezes tem um nível mais alto que o das Olimpíadas, não consegue ter 20% dessas pessoas conectadas na final. Por qual motivo isso? A gente não consegue entender, porque o show que está sendo apresentado aqui, muitas vezes é maior do que é apresentado lá”, disse Barros, complementando:
“É muito fácil valorizar um artista que é dos EUA, porque não tem muita conexão, não tem muito acesso a ele… E, às vezes, não se valoriza o artista brasileiro que mora no bairro porque sabe que ele passa todo dia na rua, sabe de onde é, de onde veio… Vem um americano e o brasileiro junta quatro meses para comprar o ingresso e não reclama, e às vezes a galera brasileira está fazendo uma correria danada e não é valorizada. Acredito que é muito sobre fazer as pessoas que estão aqui entenderem que isso aqui é a maior plataforma de skate competitivo do mundo. Se quer acompanhar o melhor do skate, acompanha o STU. Se quer conhecer sobre o skate competitivo mundial, acompanhe o STU.”
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Skate rompe padrões
“Cresci dentro de uma sociedade que talvez olhava para mim e achava que eu ia estar ou na cadeia, ou morto ou falido num buraco com 20 anos de idade porque estava acreditando numa coisa que, para mim, fazia todo sentido do mundo, porque estava fazendo algo que estava pulsando meu coração, que fazia eu ter amor e carinho pela vida como um todo. E era o skate, que no caso era se vestir um pouco diferente, ter umas tatuagens no corpo, talvez não concordar com certas coisas que o sistema te impõe, desde o momento que você aprende as matérias na escola, que liga a TV e vê as notícias que estão passando… E eu não entendia muito o outro universo, porque o meu universo era do skate. Eu cresci com minha família já envolvida nesse universo, então não via tanta maldade nesse universo. Esse coletivo sempre se superava, sempre olhava para a vida com muita esperança, muita fé. A gente aprende isso desde o dia 1. No skate você só pode ficar bom se você se machucar muito, cair muito, e isso é uma lição muito boa para resiliência. É entender essas mensagens para a vida”.
Luta para o paraskate ser incluído nas Paralimpíadas
‘Na verdade, com o STU estamos há mais de seis anos fazendo o circuito acontecer. A modalidade do paraskate já está presente dentro do circuito há alguns anos, cada vez crescendo mais e mais. Dentro do STU, uma das maiores prioridades é jogar o holofote no parakaste. Para mim, a maior fonte de inspiração vem do paraesporte, porque são pessoas que enfrentam dificuldades que talvez um esportista que não tenha deficiência física não enfrenta. É um desafio que não é só mental como físico. Então, acredito que o que eles fazem dentro do esporte, da vida, ainda é muito desvalorizado. Infelizmente, o comitê que representa o skate mundial atrasou para inscrever a modalidade do paraskate (para Los Angeles, em 2028). Para a gente que é skatista, é um deboche, muita falta de responsabilidade. Nós que estamos aqui, a gente vem fomentando essa modalidade, essa cena há muito tempo, e é muito triste ver que eles não prestaram atenção e deixaram a parada passar. Então, acho que é uma obrigação do skate estar dentro da próxima Paralimpíada (em Brisbane, em 2032)”.
BRUNO BRAZ / Folhapress