Boulos diz que Nunes fugiu de debate, critica Tarcísio e se irrita com pergunta sobre Lula

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) aproveitou a ausência do prefeito Ricardo Nunes (MDB) no debate Folha/UOL/RedeTV!, na manhã desta quinta-feira (17), para criticar a atuação do adversário e de seu padrinho político, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), na crise do apagão em São Paulo.

O parlamentar também voltou a eximir de responsabilidade no caso o governo do presidente Lula (PT), fiador de sua campanha.

A poucas horas do encontro, Nunes desistiu de participar do confronto com Boulos e citou como motivo uma reunião extraordinária marcada pelo governador no mesmo horário. O deputado foi então entrevistado sozinho, o que constava nas regras do debate.

Em diversos momentos, Boulos chamou o prefeito de covarde e disse que ele é um “fantoche” de Tarcísio, que, segundo ele, quer usar a capital como trampolim em meio a planos de deixar o governo estadual para concorrer à Presidência em 2026.

O deputado afirmou ainda que Nunes fugiu de suas responsabilidades frente à gestão municipal durante três anos e meio, fugiu do apagão e agora foge do debate. “São Paulo não aceita covarde. É lamentável ele se esconder debaixo da saia de Tarcísio”, disse.

Mais tarde, Boulos chamou o prefeito de “tio Paulo do Tarcísio”. Ele se referia a um caso que virou meme nas redes sociais em abril, quando uma mulher foi presa no Rio de Janeiro, acusada de tentar dar um golpe ao levar o corpo do tio a uma agência bancária.

“Ele é alguém sem vontade própria. Ele é o ‘tio Paulo do Tarcísio”, provocou, em alusão à reunião entre o prefeito e o governador nesta quinta, insinuando que “por ele [Nunes] ser fraco, o crime organizado entrou no transporte, na cracolândia”.

Apesar das críticas, o psolista afirmou que vai dialogar com o governador caso seja eleito. “Acabada a eleição vou me sentar para conversar com ele”, disse, acusando o prefeito de supostamente ter recusado parcerias com o governo federal na cidade por política.

O apagão na cidade dominou a maior parte da entrevista. Boulos tentou derrubar a narrativa de Nunes de que a responsabilidade sobre o problema é da gestão Lula. Para ele, Nunes e Tarcísio têm disseminado uma mentira para tentar convencer a população de que eles não têm envolvimento.

O deputado disse que a crise tem uma mãe —a concessionária Enel— e um pai —o prefeito. “A Enel é uma empresa horrorosa, com um péssimo serviço. É uma excelente resposta para aqueles que acreditam que privatização é solução para todos os problemas.”

Já Nunes é responsável, segundo Boulos, por não ter conseguido “fazer o básico” e manejar a poda e a retirada de árvores podres, que motivam em muitos casos a queda de energia. “A Enel tem a culpa dela, mas o Ricardo Nunes também tem”, afirmou.

O parlamentar apontou ainda responsabilidade de Tarcísio no caso, dizendo que a fiscalização da concessionária cabe à Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo) e acrescentando que à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) cabe “garantir a caducidade, ou seja, a retirada do contrato da Enel”.

“O Tarcísio fala, fala, fala, mas uma das questões que temos que trazer é que a responsabilidade de fiscalização é da Arsesp, agência reguladora estadual”, afirmou.

Boulos ficou irritado quando questionado sobre o papel do governo Lula na crise, já que seu governo defendeu a renovação do contrato com a Enel. Ele disse que há um esforço para jogar o apagão no colo da Presidência, que segundo ele “não tem nenhuma responsabilidade”, e culpou a mídia por isso.

“Parece que há uma tentativa de reproduzir um discurso desesperado do meu adversário porque não fez sua lição de casa e porque seu aliado político não fiscalizou a Enel. É uma tentativa lamentável de parte da mídia de endossar esse discurso.”

O deputado voltou a afirmar que o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa Neto, foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e que cabe a ele colocar em pauta o fim do contrato. “Após fazer isso, vai para o colo do Lula. Mas a provocação precisa vir da Aneel”, disse, acrescentando que o governo federal tem pressionado a agência para se movimentar neste sentido.

Boulos também rejeitou comentar a possibilidade de ter ganhos políticos com o apagão, que dominou as campanhas na última semana. “Querer colocar ideia de cálculo político numa coisa que traz drama para tanta gente, acho que é de mau gosto. Não penso desta maneira.”

Questionado sobre o que faria de diferente de Nunes para evitar uma crise parecida, citou três propostas: o monitoramento de árvores podres por satélite e chipagem, prometendo “fila zero” de chamados; a contratação de mais engenheiros agrônomos por subprefeitura; e o enterramento dos fios nas áreas com mais interrupções.

Sobre a viabilização financeira do aterramento, medida muito cara, Boulos respondeu que “aumento na conta de luz de jeito nenhum”. Propôs usar parte de recursos próprios da prefeitura, uma parcela do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e também cobrar da Enel que invista parte do que cobra na conta de luz.

VOTOS DE MARÇAL E REAÇÕES DO PT

Perguntado sobre sua mudança de discurso no segundo turno, com aceno ao empreendedorismo, Boulos afirmou que o crescimento do influenciador Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno acendeu um alerta não só nele, mas em todos, citando outros candidatos e a imprensa.

Disse que sua campanha “teve a compreensão e a humildade de fazer um mea culpa” e admitiu que o campo progressista e da esquerda “não dialogou com uma parte importante dos trabalhadores”. Em seguida, fez acenos a taxistas, dizendo que vai facilitar a transferência de alvarás, e a mulheres com pequenos negócios, citando programa de crédito.

Boulos avaliou que uma parte dos votos de Marçal é ideológica, bolsonarista, e que é difícil que essas pessoas votem nele, mas que a parcela mais expressiva desses votos não é. “A maioria votou pela mudança”, disse, agradecendo o apoio de Tabata Amaral (PSB) e de José Luiz Datena (PSDB) no segundo turno.

O Datafolha mostrou que 84% dos eleitores do influenciador pretendem migrar para Nunes, o que fez o psolista voltar a criticar os resultados do Datafolha durante a sabatina. Nesta semana, sua equipe pediu ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) que o instituto apresente esclarecimentos sobre a metodologia do levantamento.

Apesar do mea culpa, o candidato evitou fazer uma avaliação dos erros de sua campanha e desviou pedindo que as perguntas fossem direcionadas a propostas. Se irritou novamente com questionamentos sobre as expectativas reduzidas de parte do PT com sua candidatura, o que chamou de fofoca, e acrescentou que o “presidente Lula está muito empenhado”.

Por fim, defendeu o diálogo com uma Câmara Municipal mais ao centro eleita neste ano, disse ser a favor da restrição de celulares na sala de aula, mas não sua proibição, e citou o Poupatempo da Saúde como “um dos grandes temas de seu governo”, para reduzir a fila de exames e consultas.

Redação / Folhapress

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