SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Funcionários da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo foram chamados para reforçar a campanha de Ricardo Nunes (MDB) nas duas semanas que antecedem o segundo turno.
A secretária, Regina Célia da Silveira Santana, convocou coordenadores responsáveis por equipamentos públicos como casas e centros culturais para uma reunião na segunda-feira (14), às 17h, no gabinete de campanha de Nunes no edifício Joelma, no centro de São Paulo.
Em nota à Folha de S.Paulo nesta quarta, a pasta afirmou que a “reunião foi realizada fora das dependências da pasta, após o horário de expediente, e todos os presentes participaram de forma voluntária”.
Na reunião, Regina, o secretário-adjunto, Thiago Lobo, e o chefe de gabinete, Rogério Custódio de Oliveira, discursaram para os coordenadores. Duas pessoas presentes no encontro conversaram com a Folha sob condição de anonimato.
Para evitar a configuração de crime eleitoral, o trio, segundo os relatos, pediu que os coordenadores usem o tempo livre, citando como exemplo a pausa para o almoço e o pós-expediente, para distribuírem panfletos e fazerem propaganda de Nunes na região onde trabalham.
Lobo teria ainda tentado convencer os coordenadores de que, se os “artistas de esquerda” assinaram um manifesto em prol do adversário Guilherme Boulos (PSOL), o “artista de direita” deveria dar a cara a favor de Nunes.
De forma inflamada, teria concluído dizendo que a alternativa seria ter vergonha de ser de direita. Foi aplaudido por parte da plateia.
Ele posteriormente compartilhou trechos da reunião em seu perfil no Instagram. Em um vídeo, diz que a “cultura é”, e os coordenadores respondem, em coro: “Quinze”, o número de Nunes na urna. No outro, ele orienta os coordenadores a entregarem panfletos no comércio.
Segundo os relatos, o chefe de gabinete, por sua vez, afirmou que a gestão Nunes investiu R$ 2,5 milhões por final de semana com eventos nas periferias, mas, mesmo assim, Boulos acabou se sobressaindo em alguns desses bairros.
Regina, Lobo e Oliveira também teriam sugerido que os coordenadores, quase todos comissionados, corriam risco de desemprego com a mudança de prefeito a partir do ano que vem.
Ao término da reunião, os coordenadores foram embora com materiais de campanha de Nunes.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de São Paulo afirmou que o posicionamento eleitoral é livre e que adotou medidas para explicar as regras eleitorais para os servidores. “A Controladoria Geral do Município disponibilizou a cartilha de Condutas Vedadas ao Agente Público em que reitera as restrições impostas aos funcionários da administração pública durante o processo eleitoral”, disse a gestão Nunes.
Já a campanha do emedebista não se manifestou até a publicação deste texto.
A Folha de S.Paulo mostrou, em agosto, que a gestão Nunes já tinha virado alvo do de investigação do Ministério Público do Trabalho (MPT) após relatos de servidores municipais convocados a participar de atos da campanha do candidato à reeleição.
Na ocasião, mensagens de texto foram enviadas por integrantes de cargos de diretoria e gerência na Prefeitura de São Paulo a subordinados com questionamento sobre a participação em reunião promovida por partido aliado e pedido de acesso a link de cadastro de apoiadores.
O servidor deveria responder no questionário se aceitaria participar voluntariamente dos eventos em apoio a Nunes, quantos seguidores tem nas redes sociais, se integra algum partido político e se disponibilizaria seu carros para colar adesivos de divulgação do candidato.
Em nota naquela ocasião, a gestão Nunes afirmou não autorizar uso do equipamento público para fins eleitorais e que a participação de servidores deve ocorrer fora do horário de trabalho, conforme legislação. “A gestão reforça, portanto, que não autoriza ou compactua com eventual uso de equipamento público por qualquer agente público para fins eleitorais.
CARLOS PETROCILO E ISABELLA MENON / Folhapress