Conheça a obra de Bruno Novelli, que pinta paisagens que lembram alucinações

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O mundo que Bruno Novelli criou na maior parte de suas pinturas é quente, exótico e luxuriante. São paisagens vazias de civilização e repletas de criaturas fantásticas, como leões com pelos multicoloridos, lagartos que parecem dragões e peixes que ostentam caudas enormes. Quem observa os quadros do artista tem a sensação de mergulhar numa experiência lisérgica ou num devaneio surrealista.

“Penso a pintura como um processo cosmogônico em que preciso ser impactado por algo que desperte em mim o desejo de pintar”, diz Novelli, na galeria Galatea, em São Paulo, onde está em cartaz a exposição “Tudo se Transforma na Terra”, mostra que reúne dez telas inéditas do pintor. “Quando digo ser impactado, pode ser numa caminhada no meio do mato, numa experiência muito forte na cidade ou durante um ritual amazônico.”

Desde 2000, Novelli participa de rituais com o uso da ayahuasca, substância alucinógena usada em cerimônias indígenas. O pintor é próximo do povo huni kuin, comunidade que criou em 2013 o coletivo artístico Mahku.

“Foi ali que comecei a ter um contato mais profundo com a cultura e com o imaginário amazônico, assuntos que sempre despertaram meu interesse. A partir de 2016, aconteceu uma aproximação mais forte”, diz o artista, que já teve obras expostas em espaços como Fundação Cartier, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul e Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro.

A influência da natureza amazônica se faz sentir na exposição, sobretudo em razão do predomínio de tons verdes, presentes em todas as obras, em maior ou menor intensidade. Outro elemento que permeia as telas são animais de formas e cores pouco convencionais.

Novelli diz que encontra inspiração para criar esses bichos em telas e mapas da Idade Média e do período das grandes navegações. “O que desperta a minha curiosidade é a representação desses corpos monstruosos do imaginário medieval.”

Essas referências históricas estão presentes na obra “Tudo se Transforma na Terra”, trabalho que dá nome à exposição e no qual é possível ver uma criatura com manchas escarlates, inspirada nos desenhos de um mapa do século 16.

Outra influência é a produção do artista Chico da Silva. Nascido em 1910, o pintor cearense usou uma profusão de cores para explorar imagens das crenças e histórias das culturas indígenas e popular.

Novelli nasceu em Fortaleza, onde passou os seis primeiros anos de vida, antes de se mudar com a família para Porto Alegre. “As obras de Chico da Silva têm uma presença muito forte em Fortaleza. Isso me impactou muito durante a primeira infância e virou algo familiar. Meu trabalho tem muitos pontos que coincidem com a obra dele.”

Ao entrar no espaço expositivo da mostra, os olhos do público se voltam quase que imediatamente para a tela “Jardim dos Daimons”. Não só pelas cores exuberantes da obra, mas por suas grandes dimensões. São 2,70 metros de altura por 4 metros de largura.

“Vejo uma pintura pequena quase como uma joia que você precisa ver os detalhes de perto. Já pinturas grandes são como portas ou janelas para outro mundo”, diz o artista. “Eu gosto de fazer pinturas com essa dimensão, porque é quando sinto que elas têm mais força e mais pompa.”

Segundo Thierry Freitas, curador da Pinacoteca de São Paulo que assina o texto crítico da mostra, as pinturas em grande formato permitem evidenciar o caráter paisagístico do trabalho de Novelli, porque elas põem em evidência não apenas animais, mas também a flora e topografia que cercam esses personagens.

“Na exposição, ele dá um passo adiante e assume essa predileção pelo grande formato, por meio do qual consegue demonstrar que é quase um paisagista”, diz Freitas. “O que chama atenção no trabalho dele é essa capacidade de ser inventivo e traduzir um repertório tão diverso em cenas de coesão absoluta.”

Tudo se Transforma na Terra

Quando Seg. a qui., das 10h às 19h; sex., das 10h às 18h; sáb., das 11h às 17h. Até 1º de novembro

Onde Galatea – r. Oscar Freire, 379 – Jardins

Preço Gratuito

Classificação Livre

MATHEUS ROCHA / Folhapress

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