Pela primeira vez em 20 anos, temos chances reais de um Oscar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Eu sei, é muito caipira falar do Oscar. Mas o prêmio máximo de Hollywood nunca saiu do sonho dos brasileiros, nem mesmo dos críticos. Na última sexta (18), a sessão para a imprensa de “Ainda Estou Aqui”, dentro da programação da Mostra Internacional de Cinema, lotou uma sala inteira do Espaço Augusta como se fosse a própria pré-estreia para convidados.

A multidão de jornalistas e influenciadores não era apenas por conta do diretor Walter Salles ou de seus atores, Fernanda Torres e Selton Mello. Era principalmente pelas altas chances de Oscar que o filme demonstrou desde que foi exibido no Festival de Veneza, em setembro.

A última vez que tivemos uma chance tão concreta de Oscar aconteceu há mais de 20 anos. Sem entrar na categoria de melhor filme estrangeiro em 2003, “Cidade de Deus” fez melhor: emplacou quatro indicações nobres em 2004, as de melhor diretor, fotografia, roteiro e montagem. Foi um golaço, numa época bem antes de “Parasita”, em que era raro ver filmes não falados em inglês concorrerem nas categorias principais.

“Ainda Estou Aqui” cumpre as altas expectativas que vem gerando. É a história de Eunice Paiva (Fernanda Torres), que em 1970 vê o marido, Rubens Paiva (Selton Mello) ser levado de dentro de casa pelos militares para nunca mais voltar.

É a história de uma ausência e da devastação que a ditadura causou naquela família e em outras tantas. Fernanda ocupa o espaço do apartamento da família Paiva no Leblon (zona sul do Rio) como se pisasse no palco, como uma Antígona incansável à procura do corpo do marido.

O que sabemos até agora: são muito altas as chances de o filme conseguir indicações de melhor filme estrangeiro ao Globo de Ouro, BAFTA, Oscar e outras premiações do início do ano que vem. Ao contrário de 1998, quando “Central do Brasil” perdeu o Oscar para a “A Vida É Bela”, desta vez não há outros favoritos absolutos. O candidato argentino, “Matem o Jóquei”, é uma comédia de humor sinistro e delirante que não fez muito barulho na estreia em Veneza.

Nossos maiores rivais vêm da França -o maravilhoso musical “Emilia Pérez”, sobre um traficante mexicano que decide mudar de gênero- e da Alemanha -“A Semente do Figo Sagrado”, coprodução com o Irã que foi consagrada em Cannes. A Sony deve investir um bom dinheiro na campanha de “Ainda Estou Aqui”, mas o representante francês tem o poder da Netflix por trás. A ver quem leva.

Uma vez sonhado o Oscar de filme estrangeiro, já nos permitimos outro sonho: ver Fernanda Torres indicada a melhor atriz 26 anos depois da mãe, Fernanda Montenegro. Aqui a concorrência parece bem mais dura: tem Nicole Kidman ousando masoquismos em “Baby Girl”, Amy Adams virando cachorro em “Canina”, Angelina Jolie na ópera como Maria Callas, Demi Moore virando monstro em “A Substância”, e por aí vai. Briga de cachorro grande, e falando inglês.

Em bate-papo com jornalista, Fernanda fez questão de baixar a bola das expectativas. “O Oscar parece a fronteira final que nós temos que atingir. É importante, mas não é a medida de tudo. Não queria que todo mundo acabasse decepcionado [se não ganharmos]. Quando um ator brasileiro falando português é nomeado, ele já ganhou! Pode estourar a champanhe! Vai pra lá sem expectativas porque não vai levar!”, disse.

É o mesmo discurso que Fernanda mãe fez em 1998 antes de ir para Los Angeles. Como se vê, não tem como fugir do Oscar…

“Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles

Estreia: dia 7/11 nos cinemas

THIAGO STIVALETTI / Folhapress

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