SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – De janeiro a agosto deste ano, a duração dos apagões aumentou em 44% das regiões atendidas pela Enel na região metropolitana de São Paulo. Nessas áreas vivem 3,3 milhões de consumidores, segundo os dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Por outro lado, houve melhora nos índices de duração das quedas de energia em mais da metade das regiões atendidas (56%) pela empresa. Nessas áreas, há quase 4,4 milhões de consumidores.
Na prática, porém, os moradores da região metropolitana passaram mais tempo no escuro do que os números mostram. A contagem oficial de duração das interrupções de energia da Aneel, usada para avaliar a qualidade do serviço, não considera falhas com menos de três minutos e nem aquelas que ocorrem em dias considerados críticos ou situações de emergência.
Isso significa dizer que a maior das ocorrências de interrupção de energia causada por temporais não é levada em conta para a apuração desses números. Questionada, a Enel SP afirmou que melhorou os índices de qualidade desde 2018, quando assumiu a concessão, e que “segue comprometida com a qualidade dos serviços prestados”.
O centro da capital, onde estão mais de 100 mil consumidores, foi a área na qual a duração das quedas de energia mais aumentou. De janeiro a agosto do ano passado, moradores dessa região enfrentaram o equivalente a 1 hora e 15 minutos sem luz. No mesmo período de 2024, esse índice subiu para 14 horas e 31 minutos.
Isso ocorreu principalmente devido a uma sequência de apagões na região que começou no dia 18 de março e durou ao menos cinco dias com o fornecimento de energia intermitente. Na ocasião, a Enel afirmou que a interrupção foi causada por uma escavação realizada pela Sabesp na região central, que atingiu acidentalmente cabos da rede subterrânea da distribuidora.
Geradores de energia contratados pela concessionária foram espalhados pelos bairros do centro. A situação afetou o funcionamento de delegacias, do comércio, de unidades de ensino e de equipamentos de saúde.
A piora dos apagões nos oito primeiros meses deste ano não afetou apenas a cidade São Paulo. Em Cotia, na região metropolitana, o bairro Roselândia teve o segundo pior desempenho. Em 2023, os 39 mil consumidores da região enfrentaram o equivalente a 1 hora e 26 minutos sem energia. Neste ano, o índice subiu para 5 horas e 27 minutos.
Ribeirão Pires, no ABC, enfrentou o equivalente a 8 horas e 28 minutos sem luz neste ano. São três horas a mais no escuro em comparação ao ano passado.
O bairro de Taipas, no noroeste da capital, enfrentou um dos aumentos mais expressivos na duração dos apagões. Ao longo de oito meses no ano passado, os moradores tiveram o equivalente a 18 minutos de apagão. No mesmo período deste ano, o índice saltou para quatro horas.
Na parte da região metropolitana onde o fornecimento de energia não piorou, há casos em que o tempo que se passa no escuro também é longo.
O município de Juquitiba, por exemplo, é onde se passou mais tempo sem luz nos oito primeiros meses deste ano. Foram 16 horas e 30 minutos sem energia. No ano passado, era ainda pior: houve uma redução de 2 horas e 8 minutos na duração dos apagões. Juquitiba é o único local onde, em 2024, a duração das quedas de energia foi maior do que no centro de São Paulo.
A Enel é responsável pela distribuição de energia elétrica na capital e 24 municípios situados na região metropolitana de São Paulo, em uma área total de 4.526 km². A estrutura soma 163 subestações e 42 mil km de redes de transmissão, abastecendo cerca de 8,2 milhões de usuários diariamente.
O apagão que atingiu a Grande São Paulo no último dia 11 afetou 3,1 milhões de consumidores, segundo a empresa. Na manhã do dia 17, a Enel afirmou que a crise pela falta de luz foi resolvida. No entanto, ainda havia 36 mil imóveis sem luz no momento do anúncio –número considerado perto da normalidade pela concessionária.
Em nota, a empresa afirmou que tem aumentado o número de conjuntos elétricos dentro dos limites estabelecidos pela agência reguladora desde 2018, quando assumiu o contrato de distribuição de energia na capital paulista. “Em 2017, antes da aquisição da Eletropaulo, dos 143 conjuntos, apenas 28 apresentavam resultado dentro dos limites. Em setembro de 2024, este número ficou em 88.”
Sobre o aumento na duração das interrupções de energia em áreas da região metropolitana, a Enel disse que “registrou melhora nesse indicador em 56% dos conjuntos atendidos, com mais de 4,2 milhões de clientes, no comparativo de janeiro a agosto de 2024 com o mesmo período do ano passado”.
A empresa também destacou seu plano de investimentos, no qual promete sistemas mais modernos e automatizados, e a contratação de 1.200 eletricistas próprios até março do ano que vem –há quase um ano, o mesmo número de contratações foi prometida, mas a Enel conseguiu cumprir só 34% do total.
“Em São Paulo, de 2024 até 2026, a empresa vai investir um total de R$ 6,2 bilhões, um aumento expressivo nos níveis anuais de investimento da empresa, que passaram de R$ 1,4 bilhão para cerca de R$ 2 bilhões/ano.”
Regiões com maiores aumentos na duração dos apagões:
Área – Duração das interrupções em 2024 (horas) – Variação 2023-2024 – Nº de consumidores
Centro – 14h31min – 13h15min – 104.542
Roselândia (Cotia) – 4h – 5h27min – 39.000
Taipas – 4h26min – 4h07min – 95.750
Jordanésia – 11h15min – 3h40min – 15.105
Ribeirão Pires – 8h28min – 3h – 68.667
Vila Ema – 7h13min – 2h31min – 74.371
Juscelino Kubitschek – 5h39min – 2h13min – 25.990
Brás – 4h43min – 2h13min – 23.836
Vila Anastácio – 6h20min – 2h – 13.554
Miguel Reale-reticulado (centro) – 3h30min – 1h56min – 27.823
TULIO KRUSE / Folhapress