CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – A ala de cirurgia de uma clínica particular em Belém (PA), que mantém convênio com o SUS (Sistema Único de Saúde), foi interditada temporariamente nesta sexta-feira (18) pela Vigilância Sanitária municipal depois que 24 pacientes tiveram sequelas graves após passarem por procedimentos oftalmológicos no local.
Informações ainda preliminares da Secretaria Municipal de Saúde apontam que, dos 24 pacientes, dez tiveram perda de visão após cirurgias.
A reportagem ligou para o telefone da clínica São Lucas ao longo da tarde deste domingo (20) e para o celular do dono da unidade, que fica no distrito de Icoaraci, mas não foi atendida. A Folha não conseguiu o contato de defesa do local.
Ao portal G1, o advogado da clínica disse, em nota, que trabalha “em estreita colaboração com especialistas e autoridades em saúde para investigar cada caso individualmente” e que presta “todo o suporte necessário aos pacientes e familiares”. Também disse que a clínica “cumpre rigorosamente com os protocolos de prevenção e controle de infecção hospitalar”.
Até agora, o que se sabe a partir de laudos é que três pacientes contraíram infecção bacteriana, vinculada ao agente infeccioso Serratia marcescens.
Em nota, a secretaria diz que as investigações epidemiológicas estão em fase inicial. “Até o momento, não é possível afirmar quantos pacientes necessitaram de remoção do globo ocular, uma vez que os procedimentos não foram realizados pela rede municipal de saúde, sendo necessária uma investigação minuciosa”.
De acordo com a pasta, eventos adversos ocorreram durante procedimentos realizados em 12 de junho e em 1º de julho. Parte dos pacientes atendidos nas duas datas tiveram problemas. A maioria se submetia a cirurgias de catarata, procedimentos de rotina realizados na clínica semanalmente.
A secretaria diz que eventos adversos deveriam ter sido comunicados pela clínica, o que não aconteceu. Diz ainda ter tomado conhecimento sobre o assunto apenas em 11 de outubro, mais de três meses após o início dos problemas.
A Polícia Civil do Pará investiga o caso, apurado sob sigilo, e diz aguardar o resultado de perícias para informar sobre possíveis casos de perda de visão. Testemunhas ainda estão sendo ouvidas. O caso está na Delegacia do Consumidor, vinculada à Divisão de Investigação e Operações Especiais.
A Vigilância Sanitária diz ter determinado a interdição temporária do bloco cirúrgico e do Centro de Material e Esterilização da clínica por três infrações sanitárias.
São elas: o não cumprimento dos protocolos de segurança do paciente, como a higienização das mãos; falta de comprovação do reprocessamento (limpeza e esterilização) dos instrumentais levados pelos médicos e estrutura física incompatível com o número de cirurgias realizadas.
Os locais devem permanecer interditados até que sejam atendidas as exigências da autoridade sanitária.
CATARINA SCORTECCI / Folhapress