Ex-PT e direitista disputam Guarulhos com ataques de ‘Pablito Marçal’ e ‘petista de coração’

GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – A disputa pela Prefeitura de Guarulhos, na Grande São Paulo, opõe gerações e campos políticos diferentes, mas com semelhanças em relação ao engajamento dos dois maiores cabos eleitorais do país.

De um lado, está um ex-quadro histórico do PT local que deixou o partido e ainda não obteve uma declaração de apoio do presidente Lula; de outro, um vereador do partido de Jair Bolsonaro (PL) que, até o momento, não foi apadrinhado pelo ex-presidente.

Estarão nas urnas da cidade na região metropolitana de São Paulo no domingo (27) o ex-prefeito Elói Pietá, 80, e o vereador Lucas Sanches (PL), 28.

Pietá foi gestor da cidade duas vezes, de 2001 a 2008, pelo PT, que ajudou a fundar. No início deste ano, ele se desfiliou do partido após ter a candidatura barrada pela sigla e se lançou pelo Solidariedade. No primeiro turno, obteve 29,8% dos votos, contra 33,3% de Sanches.

O histórico dele serve de munição para o adversário, que o define como petista de coração. “Ele é de esquerda, o PT está no coração dele, só não está assinada a ficha de filiação”, afirma Sanches à reportagem. “Ele é considerado um petista dentro da cidade.”

Após a derrota no primeiro turno com a candidatura de Alencar Santana, o PT emitiu um documento para orientar o voto no ex-aliado. O presidente da legenda em Guarulhos, Marks Oliveira, afirma que a decisão veio para impedir o fascismo e a implementação de uma política sórdida na cidade.

O presidente Lula (PT), no entanto, ainda não se manifestou. Pietá afirma que entrou em contato com o chefe de gabinete do presidente e disse que gostaria de ter uma conversa com ele quando viesse a São Paulo. “Mas ainda não tive uma resposta”, diz.

É justamente a relação do candidato com Guarulhos e seu alto índice de conhecimento na região que atrai e repele votos de eleitores.

O aposentado Raimundo Gutemberg, 56, por exemplo, reclama da qualidade do atendimento nos postos de saúde da cidade e pretende repetir o voto em Elói. “Votei no primeiro turno e vou votar no segundo.”

Paloma Campos, 31, é dona de casa e acompanha a filha, de 11, em terapia toda semana para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e autismo. Ela mora em Guarulhos há 17 anos e diz que a saúde na capital paulista é melhor, já que, na cidade, faltam remédios como dipirona e amoxicilina.

“Prefiro votar no Sanches. Não conheço os trabalhos dele, mas já ouvi falar. O Elói já está com idade, se acontece alguma coisa com ele, quem vai assumir é a Fran [vice], uma pilantra.”

Fran Correa (MDB) é vice na chapa do ex-prefeito e, segundo reportagem do UOL, deve R$ 60 milhões à prefeitura em valores de 138 imóveis com IPTU atrasado. A candidata a vice contesta o valor da dívida e diz que os débitos estão em fase de liquidação e parcelamento.

À reportagem Elói afirma estar bem de saúde e diz se sentir com a mesma disposição de quando foi prefeito, há 16 anos.

“Por que as pessoas querem que eu fique doente? Os adversários querem. Mas eu estou em perfeita saúde. O papa Francisco está indo para 88 anos, então eu posso chegar lá governando Guarulhos com a cabeça perfeita e o corpo adequado”, afirma.

Elói analisa que as derrotas do PT e de siglas de esquerda nas capitais fazem parte de uma tendência mundial que atinge não só o Brasil e afirma que a maré, hoje, está mais favorável à direita e à extrema direita.

Ele diz acreditar que, nas eleições municipais, a população se importa mais com a trajetória de cada candidato e a capacidade de resolução de problemas, mas que questões ideológicas também seduzem eleitores.

“É o caso, por exemplo, que aconteceu em São Paulo, com Pablo Marçal. Ele nunca tinha feito nada pela cidade, não conhecia a cidade. E, por razões ideológicas, teve até uma grande votação no primeiro turno.”

Para ele, seu oponente, Lucas Sanches, é uma espécie de “Pablito Marçal”. “Ele é de extrema direita, uma pessoa com métodos de fake news e de tudo aquilo que se faz nas mídias sociais sem qualquer amor à verdade.”

Já ele mesmo prefere não se definir. Diz que luta pela igualdade social, educação e contra as desigualdades.

Junto há um ano, o casal Geraldo Rodrigues, 48, e Camila Mota, 40, diz que vai votar no candidato do PL para dar oportunidade a alguém novo na política e por querer mudança.

No início de agosto, um ex-chefe de gabinete do Sanches e um jornalista, que atou como assessor do vereador, acusaram-no de violência política. O caso é investigado pela polícia. “Sou contra qualquer tipo de violência e sou alvo de mentiras e distorções”, fala Sanches.

Desde o início da campanha eleitoral, Sanches pede o apoio formal de Bolsonaro e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Os dois, junto com o atual prefeito de Guarulhos, Guti (PSD), fizeram campanha para o candidato Jorge Wilson (Republicanos). O apoio, no entanto, não surtiu efeito: ele ficou em terceiro lugar, com 20,12% dos votos.

Faltando pouco mais de dez dias para o segundo turno, Tarcísio declarou apoio em Sanches, mas a ajuda de Bolsonaro ainda não veio. A questão, para o postulante, se justifica pela incompatibilidade de agendas. “Ele está em Brasília e a gente está em Guarulhos. A gente precisa ver muito a questão das agendas.”

Mesmo estando no partido que tem entre seu mais conhecido representante o ex-mandatário, Sanches não se define como bolsonarista ou conservador. “Sou de direita. Temos lutas em comum contra o PT.”

MARIA PAULA GIACOMELLI / Folhapress

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