Advogados buscam estatísticas de risco de elevadores após queda com morte em SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O pedreiro Wesley Pereira da Silva, 27, um dos três passageiros do elevador que despencou no bairro de Higienópolis, em São Paulo, em agosto, diz que restaram poucas memórias do momento da tragédia.

Quando sentiu a velocidade da queda, Silva se lembra de ter visto o colega Manoel Gomes Filho, 64, erguendo os braços em um gesto para tentar proteger os outros passageiros. Em seguida, desmaiou.

Segundo Manoel Filho, foi um reflexo muito rápido. “Eu notei que estava caindo. Tentei cobrir o Wesley. Depois, bateu a parte debaixo do elevador”, afirma.

A outra passageira é Adriana Maria de Jesus, 45, que trabalhava em um apartamento. Wesley Silva já passou por quatro cirurgias. Manoel Filho ainda não voltou a andar. Adriana morreu dias depois.

A queda do elevador em São Paulo não foi o único caso registrado nos últimos meses. Em julho, houve três acidentes com elevadores no Rio de Janeiro em menos de 24 horas.

O caso de Higienópolis, que pode desencadear conflito na Justiça, reuniu advogados que iniciaram uma pesquisa sobre o tema para levantar um debate sobre as estatísticas de acidentes com elevadores, a responsabilização e os riscos desse tipo de veículo.

O apartamento no qual os dois pedreiros trabalhavam é do advogado Ernesto Tzirulnik, especialista em direito de seguros, que já atuou em casos de grande repercussão envolvendo sinistros como a explosão do alto-forno da siderúrgica CSN em 2006 e o afundamento do solo em Maceió.

Ele reuniu outros nomes da advocacia, como o criminalista Pierpaolo Bottini, que também tem queixas contra o elevador de seu prédio e prepara levantamento sobre o volume de denúncias contra empresas do setor e o número de inquéritos por morte e lesão corporal em decorrência de acidentes do tipo.

Para Bottini, é um problema de segurança pública. “Mandamos notificação para os órgãos do consumidor, para o Crea [conselho de engenharia] e estamos preparando notificação para a Câmara de Vereadores. Isso não é uma questão pontual. Tem de ser olhada no macro”, diz.

Os advogados do edifício Santo André propuseram à Justiça uma ação de produção antecipada de provas, e afirmam que, no dia 25 de julho, ou seja, 12 dias antes do acidente, a Atlas Schindler esteve no local para realizar vistoria nos elevadores. Ainda segundo o edifício, a empresa atestou a segurança do equipamento, ressaltando que se encontrava seguro para uso.

Procurada pela reportagem, a Atlas Schindler diz que em 106 anos de atuação no Brasil, com mais de 250 mil elevadores instalados, nunca houve registro de uma situação como esta. A empresa confirma que foi realizada uma vistoria no dia 25 de julho, mas atribui o acidente à vida útil do equipamento e à conduta do condomínio.

“O elevador em questão era da década de 50 e operava há mais de 60 anos sem nenhuma atualização tecnológica. A Atlas Schindler destacou e recomendou por mais de uma vez ao Condomínio Santo André que procedesse com a modernização do equipamento, mas essa providência não foi adotada por eles”, diz em nota.

Advogado do condomínio, Maurício Pinheiro Silveira, do escritório Silveira Ejzenberg, afirma que jamais houve destaque ou recomendação da empresa para a modernização dos elevadores.

“O que houve foi a resposta da Atlas Schindler a um pedido de orçamento do condomínio a respeito da substituição dos elevadores, a qual, caso ocorresse, se daria, na melhor das hipóteses, pela proposta por eles enviada, no final do primeiro semestre de 2025, quase um ano depois do acidente”, diz Silveira.

Também em nota, a Atlas Schindler afirma que recomenda substituição completa de um elevador a partir de 30 anos de uso e atualizações tecnológicas e estéticas mais simples a partir de 15 anos. “Como o elevador é um ativo do condomínio, a decisão final da modernização é dele”, diz em nota a empresa.

JOANA CUNHA / Folhapress

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