Não é verdade que o Brasil está crescendo com estímulo fiscal, diz Haddad

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (22) em Washington que o Brasil não está crescendo com base em estímulo fiscal.

Ao comentar o novo relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional), que revisou positivamente as projeções de crescimento da economia brasileira, ele destacou a revisão positiva do PIB potencial e, questionado sobre o papel de estímulos nesse impulso, disse que o instrumento neste ano foi menor do que no ano passado, e ainda assim a economia cresceu mais.

“O déficit do ano passado em função do pagamento do calote do governo anterior é três vezes o programado para esse ano. Não obstante, a economia deste ano está crescendo mais do que cresceu no ano passado”, afirmou ele, que está na capital americana nesta semana para participar de reuniões do FMI, do Banco Mundial e do G20.

Pelos dados divulgados nesta segunda, a expectativa do FMI é de um crescimento de 3% em 2024 e de 2,2% em 2025 para o Brasil -respectivamente, 0,9 ponto acima e 0,2 ponto abaixo do que era estimado no relatório divulgado pelo Fundo em julho.

Segundo o documento, a previsão de crescimento mais robusto para o Brasil se dá pelo fortalecimento do consumo interno e de investimentos na primeira metade do ano.

Questionado sobre o resultado da arrecadação divulgado mais cedo, o ministro disse que a meta é recompor a base fiscal que, segundo ele, foi corroída no período de 2014 a 2022. O governo federal arrecadou R$ 203,17 bilhões em setembro, uma alta real de 11,61% sobre o mesmo período de 2023. O desempenho é mais uma vez recorde para o mês na série histórica, iniciada em 1995.

“Nós vamos recompor essa base fiscal até porque as despesas herdadas para as quais não havia fonte de financiamento têm que ser pagas”, disse Haddad.

“Ao mesmo tempo que restringimos as despesas, que devem cair como proporção do PIB, se o PIB continuar crescendo acima dos 2,5%, que é o teto do arcabouço fiscal, esse é o nosso objetivo”, completou.

Haddad preferiu não antecipar alguma medida que possa ser tomada em relação a cortes de despesas. Ele disse que ainda tem reuniões agendadas com outros ministérios e com o presidente Lula.

“Agora está acontecendo uma convergência entre despesas e receitas, coisa que não acontecia desde 2015, sem maquiagem, sem vender estatal na bacia das almas, dar calote em precatório. Não estamos fazendo nada disso”, disse.

Durante a manhã desta terça-feira. Haddad se encontrou com a diretora do Conselho Econômico da Casa Branca, Lael Brainard. Os dois discutiram o G20, grupo presidido pelo Brasil neste ano, e as relações bilaterais.

Também participaram do encontro Gabriel Galípolo, a embaixadora do Brasil Maria Luiza Viotti, Mathias Alencastro e Antônio Cottas de Freitas.

“Tem havido um interesse cada vez maior dos EUA na transição ecológica”, disse o ministro a jornalistas.

O ministro citou ainda um memorando assinado com a secretária do Tesouro, Janet Yellen. Brainard é próxima do Tesouro e política industrial. Em uma eventual vitória de Kamala Harris, ela é vista como uma opção para secretária do Tesouro.

Segundo a Fazenda, em razão do pedido de encontro feito pela Casa Branca, a reunião prevista para o fim do dia com a agência de classificação de risco Fitch Ratings foi cancelada. Não há previsão por ora de ela ser remarcada para esta semana. Existe a possibilidade de o ministro se encontrar com a S&P.

Questionado pela reportagem, o ministro disse que minerais críticos foi um dos pontos discutidos na reunião, mas não deu mais detalhes. Disse que o principal interesse do encontro foi o plano de transformação ecológica.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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