Brazão diz que Ronnie Lessa tenta proteger ex-vereador no caso Marielle

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O conselheiro TCE-RJ Domingos Brazão afirmou que o ex-PM Ronnie Lessa o acusou, em sua delação premiada, de ser o mandante da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) para proteger o ex-vereador Cristiano Girão, preso após investigações da CPI das Milícias.

Brazão disse que Lessa o apontou como mandante por ter sido alvo das investigações desde as primeiras diligências. O acusado também afirma que o irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido), foi incluído na delação por ter sido vereador junto com Marielle, além de permitir o envio do caso ao STF (Supremo Tribunal Federal).

“Isso [a delação] ficou no STJ [Superior Tribunal de Justiça] não sei quanto tempo. Em 4 dias foi homologado no STF. Isso estava no STJ há uma série de tempos”, disse Brazão.

A fala de Domingos expõe a estratégia indicada pelas defesas ao longo dos últimos meses nas audiências com as testemunhas ouvidas no STF. Nesta terça-feira (22), Chiquinho também disse que Lessa busca proteger alguém, mas sem nomear Girão.

O envolvimento de Girão era a principal linha de investigação da Polícia Civil desde meados de 2020. A suspeita era de que ele teria encomendado o homicídio como vingança por seu indiciamento na CPI das Milícias (2008), comandada pelo ex-deputado Marcelo Freixo, de quem Marielle era assessora.

Girão ficou preso por cerca de oito anos após a CPI e retornou ao Rio de Janeiro no início de 2018, meses antes do homicídio da vereadora. Dias depois do crime, saiu da cidade.

“Foi a oportunidade dele [Lessa] tentar defender seu patrão, o Cristiano Girão, e ganhar os benefícios, que não são poucos. Falou de um nome que, querendo ou não, já tinha sido ventilado. […] Ele começa a mentir para proteger o seu comparsa e empurrar essa situação em quem estava mais vulnerável”, disse Domingos.

O advogado de Girão, Zoser Hardman, não se manifestou até a publicação dessa reportagem. Em posicionamento anterior, ele disse que nada foi encontrado após duas buscas e apreensões na casa do ex-vereador.

“Tentaram de todas as maneiras colocá-lo no cenário do crime. Ou por incompetência ou para acobertar alguém. As delações dos envolvidos, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, apenas comprovaram que Cristiano Girão não possuía nenhuma relação com o caso Marielle”, disse o advogado.

Domingos e Chiquinho são acusados de encomendar a morte da vereadora após um acúmulo de divergências políticas entre os irmãos Brazão e o PSOL. Marielle, segundo as investigações, atuou para dificultar a exploração de terrenos ilegais da família.

O delegado Rivaldo Barbosa, à época chefe da Polícia Civil, é acusado de ter auxiliado no planejamento do crime, assim como outros dois policiais militares.

Os cinco foram acusados com base na delação do ex-PM Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora. Como a Folha de S.Paulo mostrou, trechos centrais do relato do colaborador não contaram com provas de corroboração.

O conselheiro do TCE-RJ criticou a PF por não ter, na avaliação dele, aprofundado as investigações para identificar o que ele chama de mentiras de Lessa.

“Me parece que não houve interesse por esse pequeno grupo que ficou responsável por essa apuração, não sei se de maneira açodada, não sei se pela empolgação, mas não nos foi dado a oportunidade de sermos ouvidos e esclarecer”, disse ele.

Domingos disse que Girão foi um dos principais afetados pela CPI das Milícias. O ex-vereador foi um dos políticos indiciados e, posteriormente, preso.

O conselheiro afirmou também que o ex-vereador o procurou, por meio de intermediários, para tentar viabilizar o retorno dele aos quadros do Corpo dos Bombeiros, do qual foi expulso após a prisão. Ele não disse quando ocorreu o contato e por meio de quem.

“Esse Cristiano Girão já tinha mandando recado através de algumas pessoas para que eu ajudasse ele no retorno para os Bombeiros. Se fosse um problema tranquilo, de ordem disciplinar, poderia até falar com o secretário. Mas um problema dessa ordem ninguém quer se meter. Nunca dei resposta e é claro que isso não o deixou feliz e satisfeito comigo”, disse Domingos.

Girão está preso desde 2021 sob acusação de encomendar a morte do ex-PM André Souza, o Zóio, miliciano que tentava tomar do ex-vereador, à época preso, o controle da milícia de Gardênia Azul. De acordo com o Ministério Público, Ronnie Lessa foi a pessoa contratada para a execução.

Em sua delação, Lessa negou conhecer Girão. O delator disse ter matado o ex-PM por decisão própria, quando Zóio lhe cobrou uma parte do faturamento com máquinas de música que mantinha em Gardênia Azul.

A linha de investigação contra Girão ganhou protagonismo em meados de 2020, sob a condução do delegado Daniel Rosa. Ao pedir a quebra de sigilo contra o ex-vereador, ele descreveu as suspeitas.

A principal se refere à permanência por dez horas numa churrascaria na Barra no dia da morte de Marielle.

Girão afirmou à polícia que esteve no local para se reunir com um empresário de São Paulo para discutir uma parceria no ramo de vestuário.

À polícia o empresário Jefferson de Souza afirmou que a data do encontro foi escolhida pelo ex-vereador, três dias antes. Segundo ele, Girão aparentava muito nervosismo ao longo das dez horas em que ficaram na churrascaria, tendo tratado pouco do negócio.

De acordo com o empresário, os dois deixaram a churrascaria à meia-noite (após a morte de Marielle) e foram para a casa do ex-vereador, onde conversaram por mais tempo. De madrugada, Girão teria pedido a um amigo para comprar uma passagem de avião de última hora para que Jefferson retornasse a São Paulo horas depois.

A suspeita da Polícia Civil era de que a reunião foi realizada apenas para servir como álibi de Girão para o momento da execução do crime.

ITALO NOGUEIRA / Folhapress

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