SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quatro dias depois do atentado ao prefeito de Taboão da Serra (Grande SP), José Aprígio da Silva (Podemos), em meio à campanha pela reeleição, o candidato adversário dele no segundo turno, Engenheiro Daniel (União Brasil), buscou propagar questionamentos ao ataque a tiros que deixou o rival baleado e internado na UTI do Hospital Albert Einstein, na capital paulista.
Daniel tem como padrinho político Ney Santos (Republicanos), prefeito de Embu das Artes, de quem já foi secretário.
Além de ter sido condenado por formação de quadrilha e receptação, em 1999, e por assalto a carro-forte, em 2003, Ney já foi investigado sob suspeita de elo com o PCC (Primeiro Comando da Capital), o que ele sempre negou.
Nesta terça (22), Daniel republicou em seu Instagram um vídeo em que o jornalista Alexandre Garcia chama o atentado de “estranho”.
“Ele [Aprígio] vai para o segundo turno e perdeu no primeiro. E aí atiraram contra o carro dele, cinco tiros no mínimo, um carro blindado. A gente tem que fazer a clássica pergunta que vem lá do direito romano: ‘a quem interessa’ esse atentado? Eu acho que não interessa ao adversário, que está ganhando, só valorizaria o atual prefeito, como vítima”, disse o jornalista em vídeo publicado na segunda-feira (21).
Procurada, a assessoria do candidato do União Brasil não enviou resposta até a publicação da reportagem.
Em nota, a assessoria do prefeito Aprígio repudiou a disseminação de notícias falsas, mas não citou diretamente a postagem de Daniel.
“Colocar em questão a gravidade de um fato tão sério e traumático é um desrespeito não apenas ao prefeito Aprígio, mas também à sua família e a toda a população de Taboão da Serra. Qual é o preço de uma opinião? A que ponto nós chegamos? Um fato tão sério sendo tratado com tanto viés”, diz o texto.
Daniel terminou o primeiro turno com 48,98% dos votos válidos, contra 25,93% de Aprígio. Os dois já haviam se enfrentado em 2020, quando Daniel também saiu à frente no primeiro turno, mas Aprígio venceu no segundo de virada, por uma margem de apenas 1.700 votos.
No dia do atentado, o candidato da oposição postou um vídeo prestando solidariedade ao prefeito e repudiando a violência na cidade. Ele também anunciou uma pausa na campanha até que os responsáveis pelo ataque fossem presos e a saúde do adversário estivesse restabelecida.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo, um dos suspeitos do crime foi preso na tarde de segunda-feira pela Polícia Civil. A pasta disse em nota que ele “permaneceu preso por possuir um mandado de prisão em aberto”.
Em outro vídeo publicado no Instagram de Daniel, a candidata a vice, Érica Franquini (MDB), também lamenta o atentado contra o prefeito, mas critica a gestão, dizendo que a segurança pública em Taboão está abandonada.
Aprígio sofreu um ataque a tiros na última sexta-feira (18). Os disparos ultrapassaram a blindagem do veículo dele, atingindo-o no ombro. No dia, o candidato foi levado para uma UPA em Taboão e depois transferido para o Hospital Albert Einstein.
Segundo boletim divulgado pelo hospital, ele ainda está na UTI, mas em estado estável.
Ainda na segunda-feira, foi organizada uma marcha em solidariedade ao prefeito na mesma rua em que Aprígio foi baleado -um trecho municipalizado da rodovia Régis Bittencourt que leva o nome do pai do gestor. No evento, apoiadores usavam branco e seguravam cartazes pedindo por paz na cidade.
A campanha em Taboão da Serra foi marcada pela troca de acusações entre Aprígio e o prefeito de Embu das Artes, Ney Santos, padrinho político de Daniel. Após perder o segundo turno da eleição municipal de 2020, o candidato ocupou o posto de secretário de Obras na gestão de Ney em Embu.
Aprígio acusa Ney de interferir na política local de Taboão, enquanto o prefeito de Embu chama o adversário de “pior prefeito da região”. Em um vídeo publicado um dia antes do atentado, Ney disse que Aprígio seria “linchado na rua” por causa de sua má gestão.
O republicano já foi investigado por suspeita de lavagem de dinheiro para o PCC, mas a Justiça trancou o inquérito após 11 anos de investigação.
Após condenações por receptação e formação de quadrilha e por assalto a um carro-forte, Ney foi eleito vereador em 2010 e prefeito em 2016. Na época, a Justiça impediu sua posse e decretou novamente sua prisão, dessa vez por lavagem de dinheiro e associação ao tráfico, mas uma liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) garantiu que ele retornasse ao cargo.
Durante sua participação em sabatina promovida pelo G1 no segundo turno, Daniel defendeu o padrinho. “Foram dez anos de investigação do Ministério Público que, se eu não me engano, foi arquivada justamente por falta de provas. Eu conheço o Ney desde 2020. Conheci o Ney prefeito e afirmo para você que nos últimos quatro anos foi o melhor prefeito de toda a região”, afirmou.
BRUNO XAVIER / Folhapress