Como ter uma velhice ativa? Novo site avalia se você está no caminho certo

Os seis pilares que constituem o indicador foram baseados nos preceitos do envelhecimento ativo da OMS (Organização Mundial da Saúde) e embasaram as perguntas de uma pesquisa que ouviu 1.058 pessoas de todas as regiões do país

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Foto: Freepik

Uma ferramenta inédita, chamada ILP (Indicador de Longevidade Pessoal), pretende ajudar as pessoas a entender se o atual estilo de vida contribui para uma velhice ativa e, a partir disso, promover mudanças que podem influenciar na longevidade e na qualidade de vida.

A ferramenta avalia seis áreas, com um total de 31 variáveis. Para cada uma é fornecida uma espécie de nota da longevidade, que varia de 0 a 100. De acordo com pesquisa que validou o indicador, a nota média dos brasileiros está em 64. Veja aqui qual é a sua.

As seis áreas são: atitudes em relação à longevidade (20 pontos), saúde física (20 pontos), saúde mental (20 pontos), interações sociais e meio ambiente (20 pontos), cuidados de saúde e prevenção (10 pontos) e finanças (10 pontos).

As perguntas englobam vários aspecto s da vida, como hábitos alimentares, consumo de ultraprocessados e de cigarros, rotina de atividades físicas e de lazer, qualidade do sono, sentimentos negativos, satisfação consigo mesmo, relações com amigos e familiares e acesso a serviços de saúde, todos fatores que influenciam na longevidade.

O teste foi desenvolvido e aplicado entre os brasileiros pelo Instituto Locomotiva, em parceria com a Bradesco Seguros, e divulgado em um fórum de longevidade que aconteceu em São Paulo no último dia 8. O médico Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, é o consultor do projeto.

Segundo ele, o diferencial do indicador é ajudar as pessoas a identificar fatores passíveis de serem modificados. “Eu posso aplicar [o teste] e ver, por exemplo, que a minha saúde física está legal, mas a mental nem tanto. Daqui a um ano, posso aplicar de novo e ver se melhorei, piorei ou nada mudou. É uma oportunidade para promover mudanças”, diz.

Kalache diz que a ideia foi criar algo que possa funcionar tanto em nível individual quanto em grupo. “É uma forma lúdica para lidar com um assunto que, para muitos jovens, soa ainda muito árido, distante.”

Os seis pilares que constituem o indicador foram baseados nos preceitos do envelhecimento ativo da OMS (Organização Mundial da Saúde) e embasaram as perguntas de uma pesquisa que ouviu 1.058 pessoas de todas as regiões do país, de modo a representar a população brasileira, entre 6 e 13 de março de 2024. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

O levantamento mostrou que o brasileiro tem uma boa percepção sobre ações e hábitos que contribuem para a longevidade, como uma alimentação saudável, mas muitos ainda não os colocam em prática.

Por exemplo, 75% dos entrevistados dizem comer ao menos uma porção de doces ou industrializados por dia. Menos de um terço declara comer três ou mais porções de frutas, legumes ou verduras diariamente, como recomenda a OMS. Entre os mais jovens (18 a 19 anos), a taxa é ainda menor: só 9% seguem essa orientação.

Segundo o cientista social João Paulo Cunha, diretor de pesquisa quantitativa do Instituto Locomotiva, os resultados revelam que a maior dificuldade do brasileiro para uma velhice ativa está no pilar financeiro.

“A maioria da população [cerca de 60%] admite que não tem nenhuma reserva financeira para o período em que estiver mais velha”, diz. Entre os mais pobres, a taxa chega a 80%.

A saúde mental também é outro entrave para a longevidade, especialmente entre os mais jovens e as mulheres. “São perfis que estão enfrentando hoje mais problemas e que merecem atenção das políticas de saúde”, diz ele.

Outro dado que chama atenção é a taxa de satisfação dos jovens em relação às interações sociais (58%) e apoio de amigos (55%), que são menores do que entre as pessoas acima de 60 anos (65% e 58%, respectivamente).

“Ao contrário do que alguns estereótipos colocam, de que os mais velhos teriam uma vida social menos ativa e com menos apoio, a gente viu que os mais jovens são os que dizem se sentir menos apoiados pelos seus pares, amigos e parentes.”

A rotina da aposentada Vera Lúcia da Conceição, 74, ilustra bem esses achados. Ela frequenta academia cinco vezes por semana e, nos fins de semana, sempre tem algum programa com as amigas. “Nosso cineminha e a nossa cervejinha são sagrados”, brinca.

Ao mesmo tempo, ela conta que o neto adolescente, de 16 anos, está a cada dia mais recluso em casa, sem vida social. “Fica o tempo todo mexendo no celular, não quer conversa com ninguém. Se os pais dão bronca, ele diz que ninguém o entende. É uma fase bem difícil.”

Segundo Cunha, do Locomotiva, em todas as variáveis do indicador é possível observar o impacto das desigualdades sociais e raciais. No pilar de inserção social e meio ambiente, por exemplo, há uma diferença de 20 pontos entre os mais ricos e mais pobres.

“Um ambiente menos poluído e menos barulhento oferece mais condições de qualidade de vida. Mas isso está além da possibilidade de um indivíduo controlar. É tarefa das políticas públicas olhar para esses aspectos. A desigualdade social afeta a qualidade de vida das pessoas hoje e no futuro.”

CLÁUDIA COLLUCCI / Folhapress

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