WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Uma série de ex-aliados e integrantes do governo Donald Trump vieram a público nos últimos meses alertando sobre os riscos de seu retorno à Casa Branca. Agora, foi a vez de John Kelly, o chefe de gabinete mais longevo do empresário de julho de 2017 a janeiro de 2019.
Em duas entrevistas, uma ao New York Times e outra à revista The Atlantic, Kelly um general aposentado define Trump como um fascista e diz que o empresário costumava dizer que queria que “seus generais” fossem como os de Hitler.
“Ele comentou mais de uma vez que, sabe, Hitler fez algumas coisas boas também”, disse. Segundo o militar, mais de uma vez ele explicou ao ex-presidente os problemas desse tipo de declaração, assim como o fato de generais do ditador alemão terem conspirado para matá-lo.
Kelly também rememora ter precisado explicar em vários momentos pontos básicos da Constituição e da história a Trump. Por exemplo, quando o ex-presidente teria perguntado a ele para lembrá-lo “quem eram mesmo os mocinhos” da Primeira Guerra Mundial.
O ex-chefe de gabinete diz ainda que o empresário não aceitava a ideia de que a lealdade primária de um militar nos EUA é à Constituição, firmando em juramento feito pela categoria.
“Trump nunca aceitou o fato de que ele não era o homem mais poderoso do mundo e por poder, quero dizer a capacidade de fazer qualquer coisa que ele quisesse, a qualquer momento”, disse Kelly ao Times. “Acho que ele adoraria ser como era nos negócios ele podia mandar as pessoas fazerem coisas, e elas faziam, sem se preocupar muito com questões legais e afins.”
O general aposentado afirmou que o que o motivou a vir a público agora foram as declarações recentes de Trump sobre usar militares americanos contra o “inimigo interno”.
Segundo Kelly, durante o primeiro ano de governo do empresário, foi necessário explicar a ele diversas vezes por que ele não deveria usar as Forças Armadas contra cidadãos americanos e as limitações legais a esse uso.
O general aposentado também confirmou relatos que circulam há nos de que Trump chamou militares americanos feridos ou mortos em combate de “perdedores”. Segundo Kelly, o ex-presidente também rejeitava aparecer ao lado de veteranos de guerra com deficiência que perderam um membro, por exemplo.
Questionado pelo Times se acha que o ex-chefe tem alguma empatia, Kelly respondeu: “não”.
As declarações se somam a de outros ex-membros do governo Trump e republicanos contrários ao ex-presidente. Nesta semana, Kamala Harris fez campanha, por exemplo, ao lado de Liz Cheney, filha de Dick Cheney, vice-presidente dos EUA sob George W. Bush.
Depois de um hiato com a desistência de Joe Biden da corrida, a campanha democrata retomou os ataques ao ex-presidente como uma ameaça à democracia. A estratégia busca não só motivar democratas e independentes a escolherem Kamala, mas também republicanos que têm reservas em relação ao empresário.
FERNANDA PERRIN / Folhapress