SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Com um microfone nas mãos, o empresário Elusmar Maggi, sócio do Grupo Bom Futuro, um dos barões do agronegócio e primo do ex-governador Blairo Maggi, convocou os seus aliados no último sábado (19).
“Eu quero o voto de todos vocês. Peçam a vizinhos, parentes, a namorada, o namorado, amiga ou amigo, o pai, a mãe, o filho, o sobrinho, o tio, o neto e o vizinho, ao da direita, da frente e de trás. Vamos eleger o Lúdio”, conclamou o empresário, citando número de urna do PT.
A adesão simboliza o amplo arco de alianças do deputado estadual Lúdio Cabral (PT), candidato a prefeito de Cuiabá que surpreendeu no primeiro turno e chega à reta final da campanha em posição competitiva na disputa contra o deputado federal bolsonarista Abílio Brunini (PL).
Médico sanitarista, Lúdio Cabral, 53, iniciou sua trajetória política no movimento estudantil universitário e na Pastoral da Juventude da Igreja Católica. Tem uma voz mansa e costuma falar com os interlocutores de forma pausada e didática, semelhante ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Na capital de um estado ancorado no agronegócio e com forte viés bolsonarista, entrou na disputa como um azarão diante dos favoritos Abílio Brunini, segundo colocado na eleição de 2020, e Eduardo Botelho (União Brasil), deputado estadual e candidato apoiado pelo governador e correligionário Mauro Mendes.
Desde o início da campanha, buscou um eleitorado mais ao centro amparado por uma aliança com o PSD, partido liderado pelo senador licenciado e ministro da Agricultura Carlos Fávaro. A filha do ministro, a jornalista Rafaela Fávaro, foi escolhida como candidata a vice na chapa petista.
Neste segundo turno, viu o governador apoiar o seu adversário, mas conseguiu mobilizar parte do eleitorado e líderes políticos que apoiaram Botelho. De olho nos eleitores evangélicos, fez uma carta aberta aos cristãos na qual diz defender a vida e fala em proteção da família.
O petista costurou o apoio de empresários como Marcelo Maluf e Jorge Pires de Miranda, do setor de construção, os irmãos Eraí e Elusmar Maggi, referências no agronegócio da soja, além de representantes de entidades empresariais.
“Todos que querem um projeto para Cuiabá, que se preocupam com a cidade independente de classe social, religião e pensamento ideológico, estão abraçando a candidatura de Lúdio”, afirma o deputado estadual Valdir Barranco, presidente do PT em Mato Grosso.
Os novos apoios foram tratados com ironia pelo adversário Abílio Brunini: “Você sempre bateu no agro, chamava o agro de várias coisas, agora se alia aos barões do agro para ganhar? Vale tudo por isso?”, disparou o candidato do PL nesta terça-feira (22) em debate na TV Vila Real.
Na disputa com Brunini, Lúdio prioriza temas da cidade e busca afastar o debate nacional da campanha, ignorando a polarização entre o PT de Lula e o PL de Jair Bolsonaro.
Na primeira semana do segundo turno, publicou vídeo no qual se opõe ao aborto, à legalização de drogas e diz ser contra a “ideologia de gênero” nas escolas, parte central do discurso bolsonarista.
Seu adversário, por outro lado, tem apostado nas pautas de costumes, incluindo religião e aborto, e na polarização entre lulistas e bolsonaristas.
“Lúdio, se você discorda de todas as coisas do seu partido, por que você continua no PT? São 28 dentro desse partido. Se o Lúdio é tão certinho assim, porque ele ainda está no PT?”, disse Abílio em vídeo postado nas redes sociais.
Lula gravou vídeos ao lado de Lúdio, mas evitou fazer campanha presencial em Cuiabá. Quem desembarcou na cidade para apoiá-lo foi Alckmin, que tem bom trânsito entre o empresariado e uma trajetória política na centro-direita.
Aliados de Lúdio afirmam que ser filiado ao PT o atrapalha mais que ajuda nas disputas majoritárias. Ainda assim, ele decidiu permanecer no partido ao qual é filiado desde a juventude.
Lúdio Cabral iniciou sua trajetória política no Diretório Central dos Estudantes da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e disputou sua primeira eleição em 2004, quando se elegeu vereador na capital mato-grossense.
É servidor público concursado da Prefeitura de Cuiabá e do governo, atuando como médico do SUS. Dentro do PT cuiabano, militava no núcleo Graúna, grupo minoritário dentro do partido, de tendência mais moderada.
Ganhou destaque na Câmara Municipal, onde atuou para barrar reajustes do IPTU e consolidou uma base entre os servidores públicos. Concorreu à prefeitura em 2012 e ficou em segundo lugar, sendo derrotado no segundo turno pelo hoje governador Mauro Mendes, na época no PSB.
Em 2014, concorreu a governador e perdeu para Pedro Taques (PDT). Em 2018 e 2022, foi eleito e reeleito para a Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Na última eleição, foi o candidato a deputado estadual mais votado em Cuiabá.
Para se consolidar como na disputa de 2024, enfrentou uma disputa interna no PT e na federação partidária, onde o PV ensaiava a candidatura do vice-prefeito José Roberto Stopa.
Com a escolha do petista, prevaleceu a tese de distanciamento da controversa gestão do atual prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), que enfrentou desgastes e uma intervenção na área da saúde, cuja gestão ficou dez meses sob responsabilidade do governo estadual.
Brunini tem buscado associar o petista à gestão de Pinheiro, que viu seu candidato ficar em quarto lugar no primeiro turno e decidiu se manter neutro no segundo turno.
Entre aliados do petista, contudo, a avaliação é que o eleitorado deseja um candidato agregador e com experiência política para suceder à gestão do atual prefeito.
A disputa promete ser acirrada no próximo domingo (27). Pesquisa Quaest divulgada na última quarta-feira (16) mostra os dois candidatos em empate técnicoBrunini tem 44% das intenções de voto, e Lúdio, 41%. A margem de erro é de três pontos.
JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress