PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – A menos de uma semana para o segundo turno das eleições, Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT) enfrentam um desafio de mobilização para garantir seus votos em Porto Alegre.
A cidade registrou a maior abstenção entre as capitais brasileiras no primeiro turno: 31,51% dos eleitores aptos não compareceram às urnas.
Em números absolutos, a ausência foi a vencedora no dia 6: foram 345.544 abstenções, contra 345.420 votos para Melo e 182.553 para Rosário. A capital tem 1.096.620 eleitores registrados.
O clima diferente da campanha eleitoral deste ano, atribuído principalmente aos impactos da enchente que devastou a cidade em maio, também revela um desestímulo dos eleitores diante do cenário apresentado.
“A população está mais preocupada em tocar a vida dela e reconstruir os danos que teve com a enchente do que entrar numa campanha mais aguerrida”, diz o analista de processos Pedro Guedes, que votou no primeiro turno em Maria do Rosário mas vai se abster no segundo.
Ele não vê a candidatura da petista como competitiva. “Isso desmotiva um pouco”, opina. “O preço de fincar a bandeira ideológica no segundo turno não vai ser capaz, no primeiro momento, de mudar o panorama”.
A reeleição de Melo em Porto Alegre está praticamente desenhada – o prefeito fez 49,72% dos votos válidos no primeiro turno. Entretanto, corre o risco de não ter um crescimento expressivo em sua votação.
Já Rosário, que alcançou 26,28%, precisa diminuir o número de brancos, nulos e abstenções para ser minimamente competitiva na disputa eleitoral.
“Espero que, sendo um segundo turno onde você tem duas propostas, as pessoas possam neste momento prestar mais atenção e ter uma atratividade para votar”, diz Sebastião Melo.
O candidato à reeleição já foi defensor o voto obrigatório, mas diz ter mudado de opinião. “Acho que o Brasil deveria experimentar o voto facultativo, porque de fato há um voto facultativo hoje, e a abstenção vem subindo ao longo do tempo”.
Segundo Melo, a pandemia de Covid agravou a tendência de abstenção nas eleições de 2020, quando os ausentes chegaram a 33,08% do eleitorado em Porto Alegre, e o impacto das enchentes deu continuidade ao problema. Ele também atribui a um desencanto em nível nacional com políticos.
“Eu tenho, como candidato, usado todos os espaços nas redes sociais, na televisão e também no dia a dia do embate eleitoral para convencer as pessoas que não votaram a participar desse processo”, diz Melo. “A vida dela terá uma interferência nos próximos quatro anos da decisão que seja tomada agora.”
“Não há dúvida que o descrédito na política é um dos motivos pelos quais a abstenção cresceu”, fala Maria do Rosário. A petista diz que a ausência é a expressão de um eleitor insatisfeito com a atual gestão e que não acredita que seu voto seja capaz de mudar a realidade em que vive.
“É uma situação que ocorre após a enchente, quando o município não cumpriu o seu papel de prevenção e atendimento da população”.
Segundo Rosário, a sua votação, somada às abstenções e aos 19,7% de votos válidos de Juliana Brizola (PDT), apontam que cerca de 70% do eleitorado quer mudança.
“A única estratégia possível para reverter essa abstenção é inspirar a confiança do eleitorado, e é o que eu tenho procurado fazer. Demonstrar que o voto das pessoas é o instrumento mais potente na democracia para a construção da mudança que elas almejam”
Pedro Guedes, que planeja se faltar na eleição no domingo, acredita que um índice alto de abstenção passa lições importantes aos candidatos na disputa. “Para o vencedor, é uma chancela de que passou com nota mínima na prova”, diz o eleitor
Ele projeta uma vitória de Melo, mas não pensa que isso seja um sinal de reconhecimento. “O público acha que é ruim, só que ao mesmo tempo não consegue confiar em outro candidato a ponto de dar uma chance.”
A preocupação com a ausência de eleitores fez a administração de Porto Alegre decretar na quinta-feira (17) a alteração do feriado do dia do servidor público de 28 de outubro para 1º de novembro. A mesma medida foi tomada pelo governo estadual e por Caxias do Sul e Santa Maria, duas cidades que também terão segundo turno.
O único município gaúcho a superar a capital no ranking da abstenção foi a vizinha Canoas, onde 31,8% dos eleitores não compareceram. Na cidade, que tem segundo turno entre Airton Souza (PL) e Jairo Jorge (PSD), a enchente atingiu cerca de 150 mil pessoas diretamente em torno de 45% da população.
O índice de abstenção chegou a 23,7% no Rio Grande do Sul como um todo, pouco acima da média nacional de 21,71%. Além da baixa participação, o estado liderou disparado o ranking de cidades com apenas um candidato a prefeito nesta eleição: são 43 de um total de 497 municípios.
CARLOS VILLELA / Folhapress