Variáveis que apontam para futuro estão piorando, diz Campos Neto

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira (23) que, apesar de alguns números recentes para inflação terem vindo melhor do que o esperado, todas as outras variáveis que apontam para o futuro estão piorando.

Como exemplo, mencionou a piora da inflação implícita no país e da curva longa de juros, o aumento do prêmio de risco (rentabilidade adicional cobrada pelos investidores no Brasil), as projeções de inflação do próprio BC, que se afastaram mais do centro da meta.

Ele ainda citou o hiato do produto positivo (indicação de que a atividade está operando acima do seu potencial, aquecida e sujeita a pressões inflacionárias) e o balanço de riscos assimétrico (quando há mais riscos de a inflação surpreender para cima do que para baixo).

A declaração foi dada por Campos Neto em uma reunião com investidores, organizada pelo banco de investimentos UBS, em Washington, nos EUA, às margens das reuniões anuais do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial.

“Quando olhamos a inflação desancorando [se afastando da meta] e o prêmio de risco onde está hoje, é um sinal que nos preocupa muito. Nós precisamos endereçar isso”, disse.

Segundo o presidente do BC, o Copom (Comitê de Política Monetária) optou por iniciar de forma gradual o ciclo de alta de juros porque havia muita incerteza no cenário econômico doméstico e internacional.

Em setembro, a autoridade monetária elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, a 10,75% ao ano, destacando preocupação com a resiliência da atividade econômica, a força do mercado de trabalho e piora em expectativas para a inflação.

Campos Neto reforçou a importância de convencer os investidores de que o BC fará o necessário para atingir a meta de inflação. O alvo perseguido pela autoridade monetária é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Para o chefe da autarquia, não se deve questionar a meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que varia na maioria dos países entre 2% (economias avançadas) e 3% (emergentes).

Ele também recordou que o ruído em torno do assunto teve início quando o Executivo passou a tratar o tema. Na época, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizia que o Brasil não precisava ter um alvo tão baixo. “Se a meta de inflação está errada, muda-se a meta”, disse o chefe do Executivo em abril de 2023.

Campos Neto também ressaltou os ruídos relacionados à política fiscal e a questões envolvendo a credibilidade do Banco Central e da equipe. “Este é provavelmente o preço que pagamos por esta ser a primeira transição da autonomia do Banco Central”, disse.

O presidente da autoridade monetária disse ainda que quer tirar o BC do ruído político e que está dedicado a fazer a transição de comando com Gabriel Galípolo “da melhor maneira possível”. “É importante que coloquemos o Banco Central acima da política e acima do que você realmente faz no curto prazo”, afirmou.

Aos investidores, Campos Neto reafirmou que a divisão do Copom na reunião de maio não foi política e que a cúpula do BC aprendeu que divisões podem criar prejuízos.

Na ocasião, houve um racha no colegiado, colocando, de um lado, os quatro diretores indicados pelo governo Lula e, de outro, Campos Neto e os demais membros indicados ou reconduzidos pelo governo de Jair Bolsonaro (PL).

Segundo o presidente do BC, depois desse episódio, os membros da autoridade monetária entenderam a importância do consenso no curto prazo. Ele disse ainda que, se no futuro houver divisões no Copom, os dissensos não serão por opiniões políticas, mas por questões técnicas.

NATHALIA GARCIA / Folhapress

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