RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor dos Santos, admitiu que houve falha no planejamento para receber os torcedores do Penãrol na capital fluminense, nesta quarta-feira (23).
Mais de 280 uruguaios foram detidos depois de se envolverem em um confronto com a Polícia Militar e banhistas na orla do Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio.
Todos foram encaminhados para a Cidade da Polícia, na zona norte. Até a noite desta quarta, 20 foram autuados e podem responder por crimes como tentativa de homicídio, organização criminosa e racismo.
“Lições aprendidas. A responsabilidade é minha. Tenho que rever todo o processo e identificar onde houve falhas”, disse o secretário.
De acordo com Victor dos Santos, a previsão era de que 14 ônibus com torcedores uruguaios chegariam ao Rio, nesta quarta, para o primeiro jogo do Peñarol contra o Botafogo, no estádio do Engenhão, pela semifinal da Libertadores. Outros ônibus chegariam direto no estádio.
No entanto, dos 14 apenas 9 chegaram durante o dia. Segundo o secretário, os três ônibus estacionados na orla da praia do Recreio, teriam sido alugados pelos torcedores. Ou seja, sem apoio das organizadas, que notificam as autoridades.
“Os três ônibus envolvidos estavam desgarrados do comboio esperado de torcedores. Pelo que apuramos, eles [torcedores] se organizaram e alugaram por conta própria”, afirmou Santos.
Ainda de acordo com o secretário, houve erro em achar que o efetivo de policiais na região fosse suficiente.
“A gente falhou. Subestimamos achando que o efetivo policial poderia dar conta da situação. O número de policiais era inadequado para a quantidade de torcedores criminosos”, afirmou.
Além disso, o secretário de segurança disse que vai apurar se houve falha na comunicação com a Polícia Rodoviária Federal, responsável pelas vistorias de ônibus de torcida que passam pelas fronteiras.
Logo após a confusão, o prefeito Eduardo Paes usou as redes sociais para afirmar que alertou algumas vezes a Polícia Militar que abrigar os torcedores na região da zona oeste poderia resultar “nesses problemas”.
Questionado sobre a declaração de Paes, o secretário de Segurança Pública do Estado desmentiu a informação.
“Acho que o prefeito continua fazendo campanha. Porque isso é mentira. Acabei de ouvir áudio de um colaborador da Seop [Secretaria Municipal de Ordem Pública] autorizando”, afirmou Santos.
Em nota, a Seop disse que a decisão de utilizar a região onde ocorreram os confrontos de torcedores foi tomada pela Polícia Militar, com anuência do Consulado do Uruguai, e não passou pela Prefeitura do Rio.
“Assim que soube, a prefeitura -contrária a essa definição- sugeriu outras alternativas à Polícia Militar, como a região do Parque dos Atletas. Porém, a PM manteve a decisão, com a garantia que haveria efetivo suficiente e preparado para controlar eventuais contratempos”, disse, em nota.
A PM informou que reforçou o policiamento com 564 policiais militares no esquema de segurança para a partida da Semifinal da Libertadores entre Botafogo e Peñarol, no Engenhão, na noite desta quarta-feira.
HISTÓRICO DE CONFRONTO
Essa não é a primeira confusão provocada pelos torcedores do Peñarol no Brasil. Em setembro, torcedores do Flamengo e do clube uruguaio entraram em confronto na região da Praia da Macumba, na zona oeste do Rio de Janeiro, antes da partida entre as duas equipes pelas quartas de final da Copa Libertadores.
Em abril de 2019, um torcedor do Flamengo foi agredido por aficionados do time uruguaio em Copacabana, antes de partida entre as equipes pela fase de grupos da Libertadores. Roberto Vieira de Almeida, de 54 anos, morreu em decorrência das agressões, após ficar internado por cerca de dez meses. Três torcedores do Peñarol foram detidos na ocasião, mas acabaram soltos após o pagamento de fiança.
Os conflitos entre brasileiros e uruguaios não ficam restritos aos torcedores. Em abril de 2017, o volante Felipe Melo, então no Palmeiras, acertou um soco no rosto de Matías Mier, do Peñarol, após confronto entre as equipes pela fase de grupos do torneio continental. Também houve na ocasião confronto entre torcedores dos times nas arquibancadas do estádio Campeón del Siglo, em Montevidéu.
ALÉXIA SOUSA / Folhapress