Dólar sobe e Bolsa cai com IPCA-15 acima do esperado

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta alta nesta quinta-feira (24), com investidores repercutindo os dados de inflação medidos pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), divulgados há pouco pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Às 10h18, a moeda subia 0,29%, cotada a R$ 5,707, na contramão do exterior. Já a Bolsa caía 0,08%, aos 129.126 pontos.

Considerado uma espécie de “prévia” da inflação oficial do país, o IPCA-15 acelerou a 0,54% em outubro, após marcar 0,13% em setembro. O resultado ficou acima da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,51% neste mês, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,43% a 0,60%.

Com o resultado de outubro, o IPCA-15 acelerou a 4,47% no acumulado de 12 meses, disse o IBGE. A taxa era de 4,12% até setembro.

A divulgação acontece em um momento de grande atenção aos próximos passos do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), que deixou a trajetória da taxa básica de juros do país em aberto.

O colegiado reiniciou o ciclo de altas na Selic na reunião de setembro, quando optou por um aperto de 0,25 ponto percentual e a levou ao patamar de 10,75% ao ano.

Desde então, os dirigentes têm reforçado que as próximas decisões estão à mercê dos dados econômicos, em especial os de inflação. O BC trabalha com uma meta inflacionária de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, e a taxa de juros é o principal instrumento da autarquia para controle de preços.

Ou seja, na leitura desta quinta-feira, a base anual do IPCA-15 está bem próxima ao teto da meta do BC, de 4,50%.

O dado ainda segue o Boletim Focus desta segunda, no qual economistas consultados pelo BC passaram a projetar uma inflação de exatos 4,50%, depois de preverem 4,39% na semana passada. Foi o terceiro relatório consecutivo em que a expectativa para o aumento dos preços subiu, e a elevação de 0,11 ponto percentual entre um e outro foi a maior deste ano.

Os números indicam que as expectativas de inflação estão desancoradas do centro do alvo do BC e, mais do que isso, que o nível atual de contração da economia, estabelecido para a Selic, pode não ser o suficiente para controlar a subida de preços.

Neste cenário, a expectativa é que a Selic suba em 0,50 ponto na próxima reunião de política monetária, marcada para os dias 5 e 6 de novembro, ainda que não seja consenso entre o mercado.

“O IPCA-15 deve fornecer o suporte para que o Copom adote, eventualmente, uma postura mais ‘hawkish’ [agressiva contra a inflação] na reunião de novembro, embora existam também elementos que sustentem uma postura mais serena, com um aumento mais brando, de 0,25 ponto percentual”, avalia André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.

As incertezas também vêm acompanhadas de uma crescente desconfiança dos investidores em relação ao equilíbrio das contas públicas do país —um dos focos da pressão inflacionária, na análise de especialistas e do presidente do BC, Roberto Campos Neto.

O mercado espera ajustes na ponta da despesas, na expectativa por equilíbrio fiscal de longo prazo.

Planos de corte de gastos, anunciados na semana passada pela ministra Simone Tebet (Planejamento) e pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), devem ser detalhados após o segundo turno das eleições presidenciais, em 27 de outubro.

Na análise de Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital, “o mercado quer saber o que vai ser cortado, se será um corte temporário ou algo mais estrutural, e isso vem se refletindo na nossa curva de juros e no dólar, que seguem estressados”.

“Um número acima de R$ 40 bilhões em cortes estruturais pode refletir positivamente no nosso mercado. Já um número abaixo pode causar maior estresse na nossa curva de juros e no dólar.”

Campos Neto também reforçou que o equilíbrio fiscal é essencial para que a autarquia abaixe a taxa de juros.

“Sempre que o Brasil conseguiu baixar as taxas de juros e mantê-las baixas, isso foi acompanhado por choques positivos na área fiscal. Neste momento, está claro que, se o Brasil quiser taxas mais baixas, precisa de um choque”, disse nesta segunda, em evento em São Paulo.

Com isso, o real ia na contramão de outras moedas emergentes e fortes, que experimentavam uma sessão de recuperação depois de dias de ganhos para o dólar.

O cenário dos Estados Unidos tem se mostrado adverso aos ativos de maior risco, conforme o fim da corrida pela Casa Branca se aproxima.

No próximo 5 de novembro, a disputa entre Donald Trump e Kamala Harris estará definida —assim como a agenda econômica que irá pautar os EUA pelos próximos quatro anos.

Nos últimos dias, apostas de que o ex-presidente Donald Trump poderá ganhar a eleição aumentaram de forma significativa na plataforma Polymarket, ferramenta utilizada pelos investidores para observar a dinâmica do pleito.

As chances de um retorno de Trump à Casa Branca eram de 62%, e as de uma vitória da atual vice-presidente marcavam 38%.

A possibilidade de uma vitória do candidato republicano fez o mercado projetar os efeitos das propostas dele na economia. Entre as promessas mais alardeadas, Trump diz que, caso eleito, irá aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA e em pelo menos 60% sobre as da China.

As propostas de aumento tarifário e corte de impostos são consideradas inflacionárias, o que, na política monetária, significa juros altos por mais tempo —algo positivo para o dólar.

As projeções para as eleições presidenciais se somaram às expectativas dos investidores sobre os próximos passos do Fed, que também se reúne nos dias 5 e 6 de novembro para decidir sobre os juros americanos.

Os investidores esperam cortes mais graduais a partir do próximo encontro. Dados recentes têm mostrado uma economia norte-americana mais forte do que o esperado anteriormente, com destaque para o mercado de trabalho e o consumo.

Divulgados nesta quinta, os pedidos semanais de auxílio-desemprego caíram para 227.000, ante 242.000 anteriormente, e ficaram abaixo da projeção de economistas de 242.000.

O número reforçou a aposta de um ciclo de afrouxamento mais gradual pela autoridade americana. A redução de 0,25 ponto percentual tinha 93% de probabilidade na ferramenta Fed Watch, e a manutenção da taxa na banda atual de 4,75% e 5% reunia os 7% restantes.

Juros altos por mais tempo no país elevam os rendimentos dos Treasuries, os títulos ligados ao Tesouro americano, o que torna o dólar mais atrativo para investidores estrangeiros.

Redação / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS