SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Festival Fartura comemorou dez anos no último final de semana em Belo Horizonte. O evento gastronômico, um dos mais importantes do país, aconteceu no Mirante Belvedere.
O tema deste ano aventou as possibilidades das relações entre as cozinhas de Minas Gerais e da França, antecipando as comemorações Ano do Brasil na França, que acontece em 2025.
É uma iniciativa que representa um movimento diplomático dos governos Lula e Emmanuel Macron, a fim de estreitar relações culturais dos países. O primeiro ano do Brasil em solo francês foi em 2005 e o primeiro do ano da França em solo brasileiro foi em 2009.
O chef mineiro Henrique Gilberto e o parisiense David Mansaud abriram o estande chamado Cozinha ao Vivo. Para a exibição, escolheram um prato baseado em pé de porco para simbolizar o encontro das duas cozinhas.
“É um produto rústico, apreciado nestes lugares. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, não se come tanto porco quanto na França e em Minas Gerais”, disse Mansaud, discípulo do premiado chef Alain Ducasse.
Os dois cozinharam miúdos suínos recheados com uma musse de peito de frango. O preparo foi servido com purê de batatas.
Gilberto assou as batatas, com casca e tudo, em cima de uma camada de sal grosso dentro de uma forma, até elas amolecerem. Depois de prontas, cortou-as ao meio. Em seguida, pressionou o lado sem casca contra uma peneira de ferro para saíram amassadas do outro lado.
“Precisa ter braços muito fortes para fazer isso, não é chef?”, disse uma visitante do evento. O chef pigarreou com um sorriso de canto de boca e afirmou que qualquer pessoa poderia fazer a técnica. “Ele é a cara do Rodrigo Hilbert”, afirmou outra mulher que se apoiava na bancada no momento do espetáculo culinário.
A estética do chef brasileiro serviu como auxilio para aquilo que o chef francês chamou de democratização da alta gastronomia. “A gente quer colocar ao acesso de todo mundo o que fazemos e o que sabemos”, afirmou.
Gilberto, que trabalha com miúdos no seu restaurante Cozinha-Tupis, disse que o prato poderia ser replicado nas casas e ainda trazer “um gosto familiar” ao paladar dos visitantes.
O chef francês Damien Montecer seguiu um caminho diferente. Ele preparou polvo com temperos brasileiros para os mineiros, desprovidos de mar.
Movimento similar acontece em restaurantes da nova geração de chefs da zona sul da capital mineira. Estabelecimentos como o Per Lui, do chef Yves Saliba, e o Ōkinaki, do casal de chefs Gabriella Guimarães e Guilherme Furtado, brincam com sabores de diferentes países em um mesmo prato.
“Temos a segurança de dar esse passo, estreitando as nossas relações internacionais para levar, cada vez mais, a gastronomia brasileira, e principalmente mineira, para fora”, explica Rodrigo Ferraz, diretor do Fartura.
Ao longo destes dez anos, o festival gastronômico passou por outras cidades, como Tiradentes ou Nova Lima, e já teve edição até em Portugal. Em São Paulo, o último evento ocorreu em 2022, no Jockey Club.
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Repórter viajou a convite do Festival Fartura
GUSTAVO LUIZ / Folhapress