SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O cacique Lucas Santos de Oliveira, o Lucas Kariri-Sapuyá, 31, foi assassinado em dezembro do ano passado, no sul da Bahia, após outro indígena dizer a integrantes de uma facção criminosa que a vítima era colaboradora da polícia. Os detalhes do crime estão em denúncia do MP-BA, obtida pelo UOL, enviada à Justiça no último dia 17.
O QUE ACONTECEU
O órgão aponta que Lucas era constantemente ameaçado por Michael Cardoso de Oliveira, conhecido como “Chau”, depois que a esposa dele foi exonerada do Colégio Estadual Gerson Pataxó. O cacique havia cobrado a demissão de Sara Santos Moraes alegando que a comunidade não foi consultada sobre a nomeação.
Para se vingar, Chau teria dito a integrantes da facção criminosa Raio A, aliada do Comando Vermelho na Bahia, que a liderança indígena provocou a Operação Arabutan. Nessa ação, em janeiro de 2023, foram presos Ronielly Trajano da Silva, o “Jacaré”; Renildo Rocha Vieira, o “Coalhada”; Sandoval Barros dos Santos; e Aruatan da Silva Braz. Todos apontados como membros do grupo criminoso.
O cacique foi morto entre os municípios de Pau Brasil e Itaju do Colônia com 15 tiros. Os disparados foram feitos por Amatiry Fernandes Santos, enquanto ele estava na garupa da moto pilotada por Emerson Farias Fernandes, o “Minho”. Os dois também são apontados como integrantes da Raio A.
Em depoimento, Coalhada disse que Chau “infernizou” a facção contra Lucas. “O interrogado afirma que Chau desejava a morte de Lucas, mas como não queria sujar as mãos, colocou na cabeça de todos os presos da Operação Arabutan que teria sido Lucas o responsável por passar informações sobre o tráfico aos policiais”.
A promotora Cintia Portela Lopes ressalta que os traficantes de drogas da terra indígena Caramuru-Paraguaçu já estavam insatisfeitos há algum tempo. Isso porque o colegiado de cacique passou a aceitar a atuação das forças policiais estaduais no território, o que levou a ameaças contra as lideranças indígenas.
O cacique Lucas se reuniu diversas vezes com órgãos e instituições do governo estadual para denunciar o crime organizado. Ele atuava como coordenador regional do Mupoiba (Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia), agente de saúde e conselheiro do Copiba (Conselho Estadual dos Direitos dos Povos Indígenas). Ele ainda era presidente municipal do partido Rede Sustentabilidade.
AUTORIZAÇÃO PARA MORTE
Para concretizar o assassinato, os criminosos tiveram que consultar Fábio dos Santos Possidônio, o “Binho Possidônio”, apontado na denúncia como o líder da facção Raio A. Ele já estava preso no município baiano de Itabuna quando autorizou o crime.
Já Sandoval Barros dos Santos, preso na Operação Arabutan, é apontado como líder do grupo criminoso no território indígena. Ele também teria participado do planejamento do assassinato.
Uma foto anexada à denúncia do MP-BA mostra dois homens em uma moto próximo ao local e horário onde o crime ocorreu. Um deles está de capacete rosa, o que seria uma marca de Amatiry Fernandes Santos.
A Justiça aceitou a denúncia e tornou réus: Amatiry Fernandes Santos, Emerson Farias Fernandes, Michael Cardoso de Oliveira, Sandoval Barros dos Santos e Fábio dos Santos Possidônio. O UOL tenta contato com a defesa dos denunciados.
A reportagem apurou que ainda há pelo menos outras cinco pessoas sendo investigadas.
PEDRO VILAS BOAS / Folhapress