‘Falta de responsabilidade do governo’, diz filho de homem morto em tiroteio no Rio

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um dos filhos de Renato Oliveira, 48, morto na manhã de quinta-feira (24) em meio ao tiroteio entre Polícia Militar e traficantes do Complexo de Israel, na zona norte do Rio de Janeiro, se emocionou ao falar do pai nesta sexta (26), no IML (Instituto Médico Legal). Outras duas pessoas morreram durante a operação da PM.

“Não existe por que num horário de trabalho ter uma operação daquele tipo. Infelizmente pagam as pessoas que não tinham nada a ver”, afirmou.

“Sou o filho mais velho do meu pai”, disse ele, que chorou ao relembrar o momento em que recebeu a notícia. “Estava descansando do trabalho, minha mãe me ligou e disse: filho, teu pai levou um tiro.”

Renato Oliveira foi atingido na cabeça enquanto dormia dentro de um ônibus da linha Tinguá. Ele havia saído de Nova Iguaçu para trabalhar em um frigorífico no Rio. Imagens mostram Oliveira baleado, segurando uma sacola. Nela havia mortadela que ele comprara para os colegas do trabalho, contou o amigo Adonias dos Santos, 39, que também estava no ônibus, no banco da frente.

“O cara era trabalhador, sempre fez por onde, nunca negou ajudar ninguém, entendeu? Ele podia não ter condições financeiras, mas ele tinha força, vontade e um amor de ajudar o próximo, entendeu? Ele foi um herói, cara. Foi um pai presente, fazia o máximo possível para não deixar faltar nada para gente”, disse o filho.

“Ele nunca quis ganhar vantagem em cima dos outros, fazia o trabalho honestamente, chegava tarde em casa, entendeu? Aí infelizmente acontece essa tragédia aí, falta de responsabilidade do governo”, acrescentou.

O motorista do ônibus, que fazia a linha 493 Ponto Chic x Central, socorreu Renato e o levou até o Hospital Geral de Bonsucesso. Ele chegou a passar por uma cirurgia, mas não sobreviveu.

Renan contou que a irmã está grávida e que o pai esperava ansioso o nascimento de mais uma neta.

“Eu queria que a próxima neta sentisse o amor que ele distribuiu entre nós, entendeu? Mas, infelizmente, aconteceu essa fatalidade aí. Eu vou estar aí apoiando a minha família, vou fazer o máximo possível e dar o maior orgulho ao meu pai. Honrar meu pai e minha mãe, como diz a bíblia. Eu vou fazer o meu papel de filho, vou querer justiça”, disse.

Além dos três mortos, o tiroteio em meio à operação da PM deixou três feridos, entre eles um suspeito de integrar o tráfico, que está sob custódia. As outras duas pessoas já receberam alta.

GOVERNADOR FALA EM TERRORISMO

A ação da PM mirava roubos de veículos e cargas nas comunidades Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau.

Na tarde de qnita, após os confrontos, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), classificou a reação dos criminosos como ato de terrorismo e pediu ajuda do presidente Lula (PT) para enfrentar a crise na segurança.

“Nos últimos meses, foram pelo menos 15 ações que não tiveram nada similar a isso. Foi um ato de terrorismo. Não dá para classificar de outra forma”, disse Castro em entrevista coletiva após reunião com a cúpula da segurança pública no estado.

Mais cedo, também em entrevista coletiva, a porta-voz da PM do Rio, tenente-coronel Claudia Moraes, disse que a operação no Complexo de Israel foi planejada, mas que a corporação não tinha dados de inteligência para reagir aos criminosos.

“A operação foi previamente organizada. O que os policiais encontraram naquela localidade foi algo que estava além do que normalmente encontrávamos nessa região. A gente não tinha dados de inteligência para essa reação”, disse Moraes.

A resistência dos criminosos, considerada inesperada pela PM, levou o comando a recuar e deixar a comunidade. Uma viatura foi atingida por cerca de 20 tiros.

“O recuo foi por entender que, naquele momento, o mais importante era manter a segurança das pessoas que estavam circulando na via. Não foi porque não tínhamos condições de continuar com a operação. Mas, considerando o que estava ocorrendo ali, tomamos a decisão estratégica de recuar. Mas isso não quer dizer que a PM esteja fragilizada em relação ao tráfico de drogas ou aos criminosos dessa região”, acrescentou.

A porta-voz disse que os criminosos “vêm criando novas estratégias” e também classificou a ação como terrorismo.

“Nós já vimos indivíduos descendo, parando ônibus, mas criminosos atirarem contra pessoas assim a gente nunca tinha visto. É uma atuação de nível de terrorismo que leva pânico à população. Isso mostra o grau de complexidade que vamos enfrentar daqui para frente”, afirmou.

BRUNA FANTTI / Folhapress

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