BELO HORIZONTE, MG E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Depois quase nove anos do desastre, três anos de negociações e mais de 300 reuniões, o acordo de repactuação da tragédia de Mariana (MG) foi assinado nesta sexta-feira (25), em cerimônia com o presidente Lula (PT) no Palácio do Planalto.
A previsão é que as mineradoras arquem com R$ 170 bilhões ao todo, sendo R$ 100 bilhões em novos recursos, a serem pagos em 20 anos a municípios, estados, famílias e organizações atingidas.
Outros R$ 32 bilhões referem-se a obrigações ainda a serem feitas pela Samarco como a retirada de rejeitos do rio Doce e indenizações a pessoas atingidas e mais R$ 38 bilhões em valores supostamente já investidos pela Fundação Renova, entidade responsável pela reparação dos danos da tragédia e que será extinta com o acordo.
A primeira parcela referente aos R$ 100 bilhões, no valor de R$ 5 bilhões, deverá ser paga 30 dias após a assinatura do acordo e seguirá um cronograma de pagamento contínuo, ano a ano, até 2043. Os valores anuais variam entre R$ 4,41 bilhões, previstos para a última parcela, em 2043, e R$ 7 bilhões, o mais alto a ser pago em um ano, em 2026, segundo o governo federal.
O próximo dia 5 de novembro marca os nove anos do rompimento da barragem de Fundão, que matou 19 pessoas e despejou 43,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos no meio ambiente.
O volume percorreu a bacia do rio Doce até chegar ao mar, no Espírito Santo. A barragem pertencia à Samarco joint-venture formada pelas mineradoras BHP e Vale.
Estiveram presentes no Planalto para a assinatura do acordo os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), que representaram nas negociações 49 municípios 38 mineiros e 11 capixabas.
Também participaram autoridades do governo Lula e representantes do Ministério Público Federal e dos estados, cujo papel foi representar as famílias atingidas que, por decisão da Justiça, não participaram das negociações.
A etapa atual da repactuação começou em maio de 2023, quando o Tribunal Federal Regional da 6ª região (TRF-6), em Belo Horizonte, passou a mediar a discussão e iniciou nova rodada de negociações com representantes dos governos eleitos.
Em 2022, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), um acerto ficou próximo de acontecer, com valores de R$ 112 bilhões, mas uma divergência entre as mineradoras e os governos estaduais sobre a forma de pagamento paralisaram as negociações.
As reuniões da mesa de negociações, que aconteceram na última semana, aumentaram de R$ 30 mil para R$ 35 mil a quantia que será transferida a famílias que não conseguiram comprovar documentalmente que foram atingidas pelo rompimento da barragem.
Outros R$ 95 mil serão destinados a pescadores e agricultores. A expectativa do governo é que cerca de 300 mil famílias sejam contempladas com essas transferências diretas, que devem totalizar cerca de R$ 10 bilhões.
O governo afirma que esse valor está incluído na conta de R$ 40 bilhões que o acordo destina aos atingidos, entre transferências diretas e programas de retomada econômica.
Haverá ainda R$ 7,6 bilhões para os municípios atingidos. As prefeituras, porém, poderão decidir se optam ou não por aderir ao acordo.
As cidades também fazem parte do julgamento na Inglaterra, que pede à BHP, uma das controladoras da Samarco, uma indenização que poderia chegar a 36 bilhões de libras (R$ 266 bilhões).
A expectativa das mineradoras, no entanto, é que o acordo no Brasil contribua para o arquivamento do processo movido na corte britânica.
Nesta quinta (24), véspera da assinatura, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, transferiu a conciliação sobre o acordo do TRF-6 para a corte.
A migração do caso para o Supremo atende um pedido das partes. Apesar de ter havido avanço em direção a uma solução consensual, ainda existem questões que podem gerar conflitos interfederativos, ou seja, entre a União, o estado do Espírito Santo e o estado de Minas Gerais, e, assim, novas demandas judiciais.
“A celebração do acordo com homologação pelo STF será capaz de evitar a contínua judicialização de vários aspectos do conflito e o prolongamento da situação de insegurança jurídica, decorridos nove anos desde o desastre”, declarou o ministro.
ARTUR BÚRIGO E RENATO MACHADO / Folhapress