Laboratório investigado no caso de órgãos com HIV não seguia padrão de testagem, diz polícia

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil considerou que o laboratório PCS Lab Saleme não cumpriu as exigências de testagem aos órgãos de doadores mortos.

A Justiça do Rio tornou réus seis pessoas ligadas ao laboratório no caso que investiga os erros que fizeram com que órgãos infectados por HIV fossem autorizados para transplante. As investigações apontam que o laboratório deu falsos negativos a órgãos de dois doadores.

Seis pacientes que estavam na fila de transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro receberam órgãos contaminados pelo vírus HIV e, posteriormente, receberam resultados positivos para a doença.

Em relatório, a Polícia Civil considerou que o PCS Saleme não cumpriu o padrão ouro de testagem de órgão de doadores mortos, criado pelo Ministério da Saúde.

Uma portaria de 2009 do Ministério da Saúde determina que “no doador cadáver, quando os testes das provas de pesquisa para HIV tiverem resultados negativos, deve-se realizar teste complementar do tipo molecular [teste PCR, por exemplo], para a detecção de RNA do HIV”.

A polícia, no relatório, considerou que o método foi ignorado pelos investigados.

Em nota, a defesa do PCS Lab Saleme disse que “segue colaborando com as investigações no âmbito penal e administrativo; e que prestará os esclarecimentos necessários no curso dos processos”.

A defesa de Matheus Vieira e Walter Vieira, pai e filho sócios do laboratório, atualmente presos, não respondeu aos contatos da reportagem.

Em depoimento, Walter Vieira atribuiu as contaminações a falhas humanas. Segundo ele, no primeiro caso, o técnico Cléber Santos não realizou a checagem de um equipamento para testes de HIV, resultando em um laudo falso negativo.

No segundo caso, Ivanilson Santos, outro técnico, teria digitado incorretamente o resultado de um exame, e a conferência e assinatura ficaram a cargo de Jaqueline Assis, que teria utilizado documentos falsos para se passar por biomédica.

A defesa de Cleber afirma que ele não fez exames com falsos negativos e não tinha vínculo empregatício com a clínica.

Ivanilson afirmou que não assinava os laudos do laboratório, sendo essa responsabilidade de outros profissionais.

O laboratório também é acusado de não cumprir as exigências sanitárias.

Um relatório da Vigilância Sanitária estadual anexado ao processo no qual sócios e funcionários do laboratório são réus aponta que uma inspeção realizada no dia 2 de outubro encontrou sujeira, insetos mortos e formigas em todas as bancadas do laboratório.

O PCS Lab Saleme tenta acordo com as vítimas e familiares.

ENTENDA O CASO

Seis pacientes que estavam na fila de transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro receberam órgãos contaminados pelo vírus HIV e, posteriormente, receberam resultados positivos para a doença.

A Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro classificou o ocorrido como “inadmissível” e ressaltou que se trata de uma situação sem precedentes. O Ministério da Saúde também está acompanhando o caso.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, ordenou a instauração de uma auditoria para investigar o sistema de transplantes no Rio de Janeiro e verificar possíveis irregularidades na contratação do laboratório responsável pelos exames.

O episódio ocorreu em testes realizados pelo PCS Lab Saleme, laboratório privado contratado pela Fundação Saúde, sob a responsabilidade da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, para atendimento ao programa de transplantes no estado.

Após o caso, foram exonerados todos os membros da diretoria da Fundação Saúde, empresa pública do Rio responsável pelo contrato com o Lab Saleme.

Por meio de nota, o governador Cláudio Castro (PL) informou que aceitou a renúncia da diretoria e que a medida “amplia a transparência e assegura que não haja interferências nas apurações já determinadas pelo Governo do Estado”. Informou também que em breve será anunciada uma nova diretoria.

YURI EIRAS / Folhapress

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