SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, afirmou neste sábado (26) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mentiu sobre o acidente doméstico que o impediu de ir à cúpula do Brics, na Rússia, para não ir ao evento. O aliado de Nicolás Maduro não apresentou provas. Procurado, o Itamaraty informou que não vai comentar a declaração.
“Fontes diretas e próximas do Brasil me informam que o presidente Lula da Silva manipulou um suposto acidente para usá-lo como álibi para não comparecer à recente cúpula do Brics”, disse Saab. “O que circulou fortemente como rumor, infelizmente parece ser confirmado por um vídeo divulgado ontem, onde se vê o presidente Lula são, em pleno uso de suas faculdades e agindo com total cinismo.”
O petista teve um acidente doméstico na noite de sábado (19), quando se desequilibrou ao cortar as unhas do pé e caiu de um banco. Ele bateu a cabeça e precisou levar pontos, além de ter sofrido uma pequena hemorragia, por isso precisou passar por exames ao longo da semana e não foi à cúpula.
Na ocasião, o presidente foi internado no hospital Sírio Libanês, cujos médicos o orientaram a “evitar viagem aérea de longa distância”, de acordo com boletim divulgado pelo centro de saúde.
O vídeo mencionado por Saab é o da primeira aparição pública do presidente brasileiro, nesta sexta (25), seis dias após a queda. Na agenda, que ocorreu no Palácio do Planalto, o chefe do Executivo apareceu com os pontos que precisou levar na cabeça.
Mesmo com a ausência de Lula na cúpula, o Brasil teve um papel importante no encontro ao vetar a entrada de Caracas no grupo após meses de desgaste entre os dois países na esteira das eleições venezuelanas, em julho. O pleito deu um terceiro mandato a Maduro apesar dos fortes indícios de fraude por parte da ditadura.
A postura do Brasil, aliás, parece ser a causa da irritação do procurador-geral. No texto, Saab diz que o acidente de Lula não teria passado de “um engano para impor o veto contra a Venezuela, evitando sua responsabilidade perante o presidente [Vladimir] Putin, os demais chefes de Estado presentes e, em particular, o presidente Nicolás Maduro”.
“Enquanto isso, há grande descontentamento na esquerda latino-americana e nos movimentos revolucionários do mundo pela atuação indigna e nefasta de seu governo nessa cúpula ao vetar e agredir covardemente a Venezuela”, continua ele. “Lula reapareceu sorridente e ileso, ficando evidente que usou esse ‘acidente’ para mentir ao Brasil, ao Brics e ao mundo inteiro, fato pelo qual deveria ser investigado.”
A provocação ocorre menos de duas semanas após Saab incluir Lula em outra teoria da conspiração a de que o presidente seria um agente da CIA, a agência de espionagem dos Estados Unidos. “Para mim, Lula foi cooptado na prisão. Essa é a minha teoria”, disse ele em entrevista ao canal Globovisión no dia 14 de outubro.
No que parece ser uma política de morde e assopra com Lula, o regime correu para dizer que tem “respeito absoluto” pelo petista em seguida. “As recentes declarações feitas pelo procurador-geral da República sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em nenhum momento refletem a posição do governo federal, responsável pela política externa venezuelana”, escreveu o chanceler Yván Gil na plataforma de mensagens Telegram no dia seguinte.
Assim como a maioria das instituições da Venezuela, o Ministério Público é aparelhado por Maduro. Saab é responsável por uma série de ações jurídicas contra jornalistas e ativistas na Venezuela que criticam o regime. Nas semanas seguintes à eleição, ele assinou pedidos de prisão de uma série de líderes antichavistas, incluindo o do adversário do ditador e, ao que tudo indica, vencedor no pleito, Edmundo González, atualmente exilado na Espanha.
Redação / Folhapress