SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As ruas do centro de São Paulo estavam desertas no fim da tarde deste domingo (27).
A chuva e o frio só deixavam a atmosfera mais melancólica, num dos principais redutos eleitorais de Guilherme Boulos (PSOL), que perdeu as eleições municipais para o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).
“Nós estamos defasados”, afirma o maquiador Silvio Gouveia, 47, em tom de desabafo. Ele era um dos poucos passantes na praça da República, assim que a marcha da apuração começou. “Lula fez muita falta nessa reta final”, diz. “Tenho medo para 2026, as lideranças da direita aparecem por todo o país.”
O presidente Lula desmarcou, na semana passada, compromissos de agenda com Boulos, porque sofreu uma queda no banheiro e teve de passar por exames.
A pouco metros dali, na Ocupação do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC), que fica na rua Álvares de Carvalho, na Bela Vista, o gerente comercial Elton Dias dos Santos, 41, também criticou a pouca presença de Lula na campanha, lembrando que a vice da chapa, Marta Suplicy (PT) foi pouco vista, segundo ele, nas agendas de rua.
“Não queria passar mais quatro anos com um governo tão conservador e mentiroso” diz. “Não foi só o acidente que fez Lula não aparecer tanto. Foi por causa das alianças que ele fez no Congresso. Ele poderia ter chamado Boulos para lá.”
A história política do candidato derrotado está ligada ao seu ativismo no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Ele ingressou no movimento em 2002, antes mesmo de sua carreira na política institucional. No ano seguinte, tornou-se uma liderança conhecida por sua atividade como coordenador de uma ocupação em um terreno da Volskswagen, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
A zona eleitoral da Bela Vista deu ao psolista a votação mais expressiva no primeiro turno, com 43,66% dos votos ante 22,73% de Nunes. O distrito abriga uma população de média e alta renda, além de uma concentração de espaços culturais, sobretudo teatros.
A Bela Vista é o único bairro da região central entre os dez mais valorizados do município, segundo o Índice FipeZap. Até agosto deste ano, houve um aumento de 9,2% nos preços do bairro, que tem um IDH de 0,940.
Enquanto via em um telão a marcha da apuração chegar ao fim, a padeira Papoula Ribeiro, 53, diz que a esquerda deve entender as aspirações das novas gerações, inclusive na forma de se comunicar.
“Falta assertividade para falar com esse jovem que é uma esponja. O jovem não é ideológico mais, é imediatista”, diz ela. “Para 2026 a esquerda precisa se preparar melhor.”
GUSTAVO ZEITEL E MARLENE BERGAMO / Folhapress